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25 Out 2021
O Sínodo e a participação
Artigo de D. Nuno Almeida, Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Braga.
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A “peregrinação sinodal” deve ser simples, acessível, acolhedora e deve incentivar à mais ampla participação possível, fomentando o máximo de inclusão e participação, procurando chegar ao maior número possível de pessoas e instituições, especialmente às que se encontram na periferia e que, muitas vezes, são excluídas e esquecidas. É muito exigente este sonho sinodal: contar com a participação de todos os batizados, de todas as comunidades e instituições eclesiais, bem como dos que se encontram na periferia ou se consideram sem voz.

Ser Igreja sinodal significa “peregrinar” juntos, abrir espaços de participação, envolver todas as realidades vivas que compõem o Povo de Deus na tomada de decisões. Mas não é só isso. Na realidade, como refletimos, um verdadeiro processo sinodal é de natureza teologal: mergulha as suas raízes em Deus Trindade de Amor, na presença viva de Cristo no seu Espírito.

O Papa Francisco, na realidade, privilegia a categoria conciliar do “Povo de Deus” para descrever “quem é?” e o “que faz?” a Igreja como comunidade dos “discípulos missionários”. E isto implica uma viragem copernicana na compreensão e no desenvolvimento da vida e da missão da Igreja. Há que escutar o Papa Francisco quando fala exortativamente de “pirâmide invertida”.

Antes de mais a categoria Povo de Deus convida a levar a sério a igual dignidade e igual participação e empenho na missão de todos os membros da Igreja em virtude do dom batismal do Espírito. Significa também sublinhar o carater peregrinante do Povo de Deus no meio de todos os povos da terra. Os discípulos de Cristo são os discípulos do Caminho (cf. At 9, 2), discípulos que caminham juntos acolhendo e descobrindo a presença do Ressuscitado no meio deles e na história, como sugere a narração dos discípulos de Emaús (cf. Lc 24, 13-35).

É preciso, por tudo isto, reinterpretar o conceito e o exercício, na Igreja, quer de autoridade quer de participação. O facto é que na Igreja a autoridade (exousía, segundo a Bíblia) é propriedade única e singular de Cristo Crucificado e Ressuscitado que a recebe do Pai e a exercita no Espírito Santo. Numa correta visão eclesiológica, a exousía (autoridade) de Cristo não é um exclusivo apanágio de quem é chamado e habilitado para o exercício do ministério ordenado, mas está presente através da pluralidade de carismas, de ministérios e de vocações que, guiados pelo ministério ordenado, somente juntos exprimem a autoridade de Cristo. 

Anunciar, celebrar, testemunhar; implementar, ordenar, coordenar; acolher, integrar, dialogar e cooperar..., na comunidade cristã, é tarefa em que todos devem participar. Por isso, nos estruturamos de forma orgânica, participativa e corresponsável.   Por isso, o que tem destaque, na comunidade paroquial, não é a clivagem pároco/paroquianos, mas a corresponsabilidade operativa diferenciada de todos que, no pároco, encontram o critério de unidade. O mesmo deve acontecer nas dioceses. Por isso, seguindo o belo testemunho de S. Cipriano (bispo, no séc. III) que dizia: "desde o princípio de meu ministério, adotei o princípio de nada decidir pela minha opinião pessoal, sem o vosso conselho, padres e diáconos, e sem o voto do meu povo"; e partilhando, por convicção irrenunciável, o adágio da Patrística, segundo o qual "o que diz respeito a todos deve ser tratado por todos".

Como batizados e discípulos fiéis, felizes, fiáveis e missionários de Jesus Cristo, temos a comum responsabilidade de consagrar a vida celebrando Jesus Cristo para discernir o sentido novo da existência a partilhar. Temos a responsabilidade de cansar a voz e os ouvidos numa sociedade ávida de ouvir e dizer a Palavra que comunica, que exprime, que faz relação; Palavra de fé com ou sem nome próprio. Temos a responsabilidade de sujar as mãos na construção da sociedade que é produtora e consumidora de pão, isto é, de trabalho, de cultura, de natureza, de política, de secularidade, de relação social, de justiça, de solidariedade, em suma, de valores temporais. E esta responsabilidade (de consagrar a vida rezando e celebrando, de cansar a voz e os ouvidos a ouvir e dizer a Palavra, de sujar as mãos na construção da sociedade a partir dos gestos do amor cristão) não é só do pastor, de quem estaria suspenso o protagonismo da comunidade, nem só de cada paroquiano que, apenas, individualmente, seria confrontado com a sua consciência, mas de toda a comunidade paroquial e diocesana configurada como sinal de salvação, em Jesus Cristo, para o mundo deste tempo. 

Estamos convocados para participar neste Sínodo, que é uma espécie de “estaleiro”, onde se forjam comunidades cristãs que procuram responder às necessidades religiosas (oração e sacramentos), culturais (formação cristã de crianças, jovens e adultos) e sociais (assistência e solidariedade) dos cristãos e dos “homens e mulheres de boa vontade”.

O convite permanente à participação, que o Sínodo tanto sublinha, tem como horizonte a construção da comunidade cristã, procurando ser “sal e luz” (Mt 5, 13-14) para uma sociedade mais humana, ou seja, mais justa e fraterna.  A comunidade cristã é formada por homens e mulheres (famílias) que se organizam e vivem em torno de objetivos comuns – objetivos que não encontram em nenhum outro lugar ou ambiente e que são seus e de que cada um é responsável. Tem um projeto litúrgico (religioso) para todos desde o nascimento (Batismo) até à morte (Exéquias); tem um projeto educativo de formação cristã integral para as crianças, adolescentes, jovens, e famílias; tem um projeto social de promoção e solidariedade, especialmente para os mais carenciados. 

Com cristãos, somos chamados a participar na vida da sociedade a partir dos valores do evangelho e segundo o “estilo” de Jesus Cristo. Lê-se na Carta a Diogneto (um escrito do séc. II) “Os cristãos não se distinguem dos demais homens, nem pela terra, nem pela língua (…) nem, em parte alguma, habitam cidades peculiares, nem usam alguma língua distinta, nem vivem uma vida de natureza singular. (…) Habitando cidades gregas e bárbaras, conforme coube em sorte a cada um, e seguindo os usos e costumes das regiões, no vestuário, no regime alimentar e no resto da vida, revelam unanimemente uma maravilhosa e paradoxal constituição no seu regime de vida político-social. Habitam pátrias próprias, mas como peregrinos: participam de tudo, como cidadãos, e tudo sofrem como estrangeiros. Toda a terra estrangeira é para eles uma pátria e toda a pátria uma terra estrangeira. (…) Moram na terra e são regidos pelo céu. Obedecem às leis estabelecidas e superam as leis com as próprias vidas”.  O projeto de ser cristão vivido na solidariedade existencial, necessariamente, com todos, supõe e exige a marca da sua específica espiritualidade.

Participe! Com a sua participação, partiremos para este grande acontecimento sinodal, com o ritmo que nos pede uma igreja atuante numa sociedade de mudança que não deve evoluir sem nós. 

 

+Nuno Almeida, Bispo Auxiliar de Braga

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