Arquidiocese de Braga -
26 julho 2022
Igreja na Colômbia ansiosa por ajudar nas negociações de paz com guerrilheiros
DACS com Crux
Vários governos tentaram e não conseguiram dialogar com esta insurgência, apesar dos acordos de paz bem-sucedidos.
Quando o presidente eleito colombiano Gustavo Petro tomar posse a 7 de Agosto, irá contar com a participação da Igreja Católica para ajudá-lo a cumprir um objectivo primordial: negociar um acordo de paz com o movimento guerrilheiro Exército de Libertação Nacional (ELN), que tem aterrorizado o país desde a década de 1960.
Vários governos tentaram e não conseguiram dialogar com esta insurgência, apesar dos acordos de paz bem-sucedidos firmados entre o presidente Juan Manuel Santos e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC-EP), ratificados pelo Congresso em 2016.
Petro está convencido de que essa negociação de paz é necessária para que o país finalmente deixe para trás um conflito civil que tem acontecido nas últimas cinco décadas, deixando milhares de mortos, milhões de deslocados e perdas inestimáveis em danos – tudo agravado pelo crime organizado.
Para ter sucesso onde outros falharam, o presidente eleito irá precisar da ajuda dos padres e bispos do país. A hierarquia católica está disposta a dar uma mão.
A Conferência Episcopal da América Latina e do Caribe (CELAM) está a organizar um seminário com várias organizações sociais para destacar a necessidade urgente de desarmamento em toda a região. Vários actores estão a unir-se para participar nesta “Aliança para o Desarmamento”, que busca promover no país e nas Américas uma acção sistémica para garantir a paz e a não-violência.
Espera-se que Petro participe no evento de 26 de Julho, como “sinal do seu compromisso de trabalhar na construção da paz”. Será realizado na sede da Universidade de Santo Tomas, em Bogotá.
O seminário irá examinar o desarmamento na América Latina e no Caribe, preocupações com políticas públicas, orçamentos, tendências no contexto regional e global em termos de militarismo, corrupção, violação de direitos humanos, fragilidade do sistema de justiça, guerrilhas, mercenários e paramilitares.
Segundo os organizadores, a esperança é que os presentes possam “ouvir os sinais da esperança global: a posição do Papa Francisco, as iniciativas da fé para a não-violência activa, incluindo reflexões teológicas que incentivam o trabalho pelo desarmamento, a mobilização global contra a guerra e a acção de igrejas e organizações religiosas na América Latina e no Caribe a favor do desarmamento”.
A Igreja Católica na Colômbia há muito que defende a verdade e a reconciliação, e este tema foi o cerne da homilia proferida por D. Luis José Rueda Aparicio de Bogotá, presidente da Conferência Episcopal.
D. Luis disse que a verdadeira reconciliação de que a Colômbia precisa se baseia no “amor aos inimigos, na não-violência activa, respondendo à guerra com perdão, abrindo os nossos corações à reconciliação, praticando a misericórdia com alegria, caminhando perseverantemente pelos caminhos do respeito à vida, da justiça, de toda a vida, desde o ventre materno até à vida do idoso em estado terminal”. Falou a 20 de Julho, durante a Missa pelo 212º aniversário da independência do país.
“Primeiro, somos chamados a perseverar em todas as nossas coisas, rezando pela Colômbia. Que os pais e mães façam dos seus lares escolas de oração, pequenas igrejas de amor em oração, não nos cansemos de orar, a oração é poderosa”, disse.
Além disso, continuou, “é preciso paciência activa para enfrentar o sofrimento de cada dia, sem agressividade, sem pessimismo. Todas as famílias e todas as sociedades do mundo têm problemas, procuremos que a fraternidade floresça nos nossos campos e cidades, encontremos o diálogo, que floresça o amor fraterno, que é mais corajoso e mais poderoso do que a própria guerra”.
Exortou todo o país a não esquecer Deus, argumentando que quando Deus está fora de cena, um país “arruina-se, destrói-se a si mesmo. Buscar a Deus é buscar esperança”.
Além das razões habituais que qualquer prelado pode ter para promover a paz e a reconciliação num país, no caso da Colômbia há o elemento adicional de muitos missionários leigos e religiosos, padres e bispos, que perderam a vida no conflito, trabalharem silenciosamente enquanto acompanham os mais vulneráveis.
“Em todas as regiões da nossa geografia nacional”, concluiu o arcebispo, “há sementes do reino semeadas há décadas, há muito tempo, em silêncio, perseverantes e com fé na silenciosa obra de evangelização. Pensando na Colômbia hoje, queremos agradecer a generosa dedicação da vida de um grande número de leigos, famílias, religiosos, diáconos, sacerdotes e bispos que, com o seu serviço, chegaram ao martírio pelo reino de Deus”.
Artigo de Inés San Martín, publicado no Crux a 25 de Julho de 2022.
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