Arquidiocese de Braga -

1 julho 2022

Papa Francisco dá o seu apoio ao processo de reconciliação na Colômbia

Fotografia Ivan Valencia/AP

DACS com Crux

“Encorajo-vos a continuar a trilhar caminhos de reconciliação que ajudem a fortalecer a fraternidade, a ser artífices da paz, a gerar processos de reencontro e a trabalhar juntos com ousadia na busca do bem de todos”, disse Francisco.

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Em 2017, o Papa Francisco foi à Colômbia para mostrar o seu apoio a um histórico acordo de paz que pôs fim a um conflito civil de cinco décadas. Esta semana, mais uma vez apoiou o processo, dizendo que incentiva os moradores locais a trilhar caminhos de reconciliação.

Numa mensagem lida a 28 de Junho durante a apresentação do Relatório Final da Comissão da Verdade, criada em 2016 após o Acordo de Paz firmado entre o Estado e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), também exortou a sociedade colombiana a trabalhar em conjunto “ousadamente na busca do bem de todos”.

A apresentação do relatório ocorreu no Teatro Jorge Eliécer Gaitán, em Bogotá, com a presença do presidente eleito da Colômbia, Gustavo Petro, e do ministro do Interior, Daniel Palacios, em representação do presidente Iván Duque, que esteve em Portugal.

“Encorajo-vos a continuar a trilhar caminhos de reconciliação que ajudem a fortalecer a fraternidade, a ser artífices da paz, a gerar processos de reencontro e a trabalhar juntos com ousadia na busca do bem de todos”, disse Francisco.

A Comissão para o Esclarecimento da Verdade (CEV) nasceu do Acordo de Paz de Havana, assinado entre o Estado colombiano e as FARC em 2016. O objectivo da comissão era conhecer o que aconteceu durante 50 anos de conflito armado. Tem 11 membros, e é dirigida por um padre jesuíta: o padre Francisco de Roux.

A CEV iniciou o seu trabalho em 2018 e, ao longo de quatro anos, entrevistou 27 mil pessoas, entre vítimas, ex-membros das FARC, militares e ex-presidentes colombianos.

Também instalou 29 centros em todo o país para recolher e divulgar informações. O relatório final tem 8.000 páginas e será lançado na íntegra nos próximos meses, dividido em 24 volumes.

Durante a apresentação do relatório na terça-feira, Michelle Bachelet, Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, disse que “a verdade é um direito imprescritível e transformador” tanto para as vítimas, quanto para a sociedade em geral, porque abre as portas para a reconciliação.

“Exorto as autoridades do Estado e toda a sociedade a trabalharem juntas para divulgar o relatório final o mais amplamente possível e implementar as suas recomendações. Este processo não apenas esclarece o passado das violações que ocorreram durante o conflito armado, mas também contribuirá para juntar as peças que a sociedade colombiana precisa para avançar para um futuro de paz”, disse.

O discurso principal, no entanto, partiu de De Roux, que disse que o relatório “surge de ouvir e sentir as vítimas em grande parte do território e no exílio; de ouvir aqueles que lutam para manter a memória e resistir ao negacionismo, e aqueles que aceitaram responsabilidades éticas, políticas e criminais”.

Descreveu o documento como uma “mensagem de verdade” para parar a tragédia de um conflito em que 80% das vítimas são civis não-combatentes e menos de 2% das mortes foram em combate.

O padre também disse que há muitas pessoas na Colômbia que permaneceram presas no “modo de guerra” e lutam para aceitar que nem todos pensam o mesmo. Nessa armadilha, afirmou, os adversários vêem o outro como conspirador ou perigoso.

“Assim, a oposição torna-se mortal porque as pessoas se tornam meros obstáculos”, explicou. “Essa maneira de pensar é o que possibilitou aberrações como seres humanos a serem transformados em fumo e cinzas nas chaminés do forno crematório de Juan Frio, ou a tornarem-se meros números nas listas de «vítimas de combate». Foi também o que possibilitou que os soldados se tornassem troféus de caça para os guerrilheiros, que encontrássemos em sacos de lixo os restos de políticos fuzilados, que nos habituássemos às mortes, sequestros e à descoberta diária dos corpos de líderes «desconfortáveis»”, afirmou..

De Roux também exortou os colombianos a libertarem-se das armadilhas do medo, da raiva, da estigmatização e da desconfiança, a “remover as armas do venerável espaço público” e a distanciarem-se de qualquer um que leve armas para a política e daqueles que “fingem apoiar a luta social legítima com metralhadoras”.

O padre também exortou aqueles que participaram na violenta guerra civil a assumirem as suas responsabilidades éticas e políticas, porque a Comissão considerou que aqueles que reconhecem responsabilidades, longe de destruir sua reputação, melhoram-na e, tendo feito parte do problema, tornam-se parte da solução.

Artigo de Inés San Martín, publicado no Crux a 1 de Julho de 2022.