Arquidiocese de Braga -

22 junho 2022

O processo sinodal está a forjar uma “colegialidade mais rica” ​

Fotografia JEFF PACHOUD / AFP

DACS com La Croix International

​As consultas com os leigos católicos nos últimos meses tiveram um impacto importante sobre os bispos da Igreja e sobre como exercem o ministério.

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As Conferências Episcopais de todo o mundo foram convidadas por Roma a expressar as suas opiniões a fim de contribuir para o processo sinodal que levará ao Sínodo Romano de Outubro de 2023.

Quando aqueles de nós pertencentes à Conferência Episcopal Francesa chegámos ao nosso encontro em Lyon na noite de 13 de Junho, não tínhamos ideia de que tipo de mensagem acabaríamos por emitir dois dias depois.

Felizmente, um “texto-alvo” tinha sido elaborado. Mas houve oposição unânime, sobretudo no que diz respeito à qualidade da “compilação nacional” das sínteses diocesanas. Compreendemos que, para os bispos e os seus convidados, não se tratava de dizer menos bem e diluir o que já tinha sido expresso.

 

A palavra da Igreja

Todos entenderam que a compilação seria vista como a voz da Igreja Católica na França. Era, portanto, imperativo que a mensagem dos bispos que acompanhava esta síntese transmitisse que eles ouviram a voz do povo.

O que temos vivido nas dioceses – assim como durante as nossas Assembleias Plenárias nos últimos três anos, onde estiveram presentes leigos e consagrados, bem como sacerdotes – encorajou-nos a falar com os outros, depois de nos ouvirmos uns aos outros.

Assim, assinamos o nosso texto: "Os Bispos da França a escutarem a assembleia reunida em Lyon”.

Uma palavra dos bispos é uma palavra que se faz antes de tudo com a sua Igreja: só pode ganhar relevância e força.

A bela organização destes dias, a disposição de todos em procurar um terreno comum e a escuta dos sinais do Espírito Santo trouxeram alegria aos nossos corações. Estas atitudes e procedimentos são um chamamento e um estímulo para práticas semelhantes nas nossas vidas diocesanas e locais.

 

Uma colegialidade mais rica

Olhando com um olhar teológico para o que vivemos, pode-se ver uma nova e – na minha opinião – mais rica forma de viver a colegialidade episcopal.

O que vivemos em Lyon não foi apenas um vínculo entre os bispos, mas também uma comunhão das Igrejas e os seus pastores.

Isto relaciona-se com uma colecção de ensaios recentemente publicada de Laurent Villemin (1964-2007), o falecido eclesiologista francês e especialista no Concílio Vaticano II (1962-65). Referindo-se a Hervé Legrand (o teólogo dominicano), questiona a colegialidade tal como foi apresentada pelo Vaticano II, detectando aí um limite.

Para compreender um certo número de problemas que afectam a nossa Igreja hoje, devemos voltar a uma deficiência que afecta a colegialidade como foi definida no Concílio Vaticano II. Pode-se resumir na disjunção entre colegialidade episcopal (collegium episcoporum) e comunhão das Igrejas (communio ecclesiarum).

O último Concílio estabeleceu finalmente uma teologia da colegialidade concebida como um corpo de pessoas, neste caso de bispos, autónoma da comunhão das Igrejas, ou pelo menos não teologicamente ligada a ela.

O que se pode reter disso é que a consagração episcopal leva a um colégio de pessoas que poderiam existir independentemente do facto de serem bispos de uma Igreja específica (L'Église à la rencontre de l'autre, 2022, p. 230). 

Villemin formula então este apelo: “Uma verdadeira sinodalidade episcopal só tem sentido em substância e em ligação com uma verdadeira comunhão das Igrejas, que é inevitavelmente acompanhada de decisões visíveis e concretas” (p. 235).

 

Sem abdicação da colegialidade episcopal

Sinto que não abdicamos nada da colegialidade episcopal em Lyon, mas a experimentamos em toda a sua riqueza, neste movimento que faz com que cada bispo se sinta plenamente envolvido na sua Igreja diocesana e na voz da Igreja da França expressa na “compilação”.

É claro que é benéfico e necessário que pessoas que partilham responsabilidades idênticas – bispos e outros – se possam encontrar como pares, para rezar, reflectir, trabalhar, produzir...

Mas a colegialidade não se pode limitar apenas a esta dimensão; é muito mais justo porque exprime a colegialidade das Igrejas como um todo.

 

Dissipar medos

Retomo os parágrafos que concluem as palavras expressas pelos bispos de França na nossa carta de apresentação para a síntese nacional da fase diocesana do processo sinodal.

Os desejos, os sonhos, as lamentações e as censuras que ouvimos são alimentados pela vontade de sermos uma Igreja mais fiel ao seu Senhor e servirmos melhor as mulheres e os homens a quem é enviada.

Desejamos continuar este caminho de conversão comunitária e pessoal. Tal experiência dissipa os medos que nos distanciam dos outros e abranda o trabalho de ouvir e levar em conta palavras e vidas. É fonte de alegria: abriram-se caminhos no nosso coração (cf. Sl 83,6).

 

Artigo de D. Pascal Wintzer, publicado no La Croix International a 21 de Junho de 2022.