Arquidiocese de Braga -

26 maio 2022

Cardeal Sean O'Malley aos bispos italianos: “Seremos julgados pela nossa resposta aos abusos”

Fotografia DR

DACS com Vida Nueva Digital

Presidente da Pontifícia Comissão para a Protecção dos Menores falou na assembleia plenária da Conferência Episcopal Italiana.

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Após a nomeação do cardeal Matteo Zuppi como presidente da Conferência Episcopal Italiana, os prelados enfrentam na sua assembleia plenária a realidade dos abusos na Igreja.

O presidente da Pontifícia Comissão para a Protecção dos Menores, o Cardeal Sean O'Malley, enviou uma mensagem em vídeo que foi publicada no L'Osservatore Romano.

 

Um “ministério de misericórdia”

O cardeal observou que a questão dos abusos é um “desafio complexo” para a Igreja. Nesse sentido, elogiou o caminho de Bento XVI e Francisco de escolherem “empreender um ministério de misericórdia quase desconhecido, estendendo-se constantemente aos sobreviventes”.

“A dor e o mal incompreensíveis revelados nestes momentos de testemunho podem rapidamente suscitar expressões de raiva dos sobreviventes para com a Igreja e os seus líderes”, alertou o cardeal.

Mas, convidou os bispos a “saber que a escuta e os esforços de cura e justiça podem ser insuficientes para alcançar o que os sobreviventes procuram. É uma maneira séria de lembrar que, no final, somente a graça de Deus pode curar o que o pecado rompeu”.

 

Enfrentar a atitude defensiva

Por experiência própria, O'Malley sublinhou aos bispos “que não há nada a temer em dizer a verdade”.

“Não é nada fácil reconhecer as histórias de abuso das pessoas, dar ouvidos aos sobreviventes e comprometer-se a trabalhar juntos pela justiça, mas depois de quarenta anos posso dizer que é o único caminho”, acrescentou.

“Os nossos fiéis querem sentir-se seguros na sua Igreja, e isso significa que devem ser mais firmes na fé devido ao compromisso dos seus pastores”, insistiu.

“É uma realidade que seremos julgados pela nossa resposta à crise dos abusos na Igreja”, sublinhou aos bispos.

Por isso, delineou uma “conversão pastoral” baseada em 7 aspectos: uma atenção pastoral eficaz das vítimas, acompanhamento da formação, cuidado com a selecção das pessoas, eliminação dos culpados, colaboração com as autoridades, avaliação dos riscos dos sacerdotes culpados e verificação dos protocolos.

Diante disto, alertou que “o maior obstáculo à conversão pastoral é a decisão imediata de adoptar uma atitude defensiva contra a Igreja”.

“O escândalo dos abusos sexuais dentro da Igreja é como uma doença que se contrai no hospital. Ninguém no hospital – e principalmente quem o dirige – quer admitir que alguém ficou doente no local onde deveria ter sido curado”, explicou.

 

Recuperar a credibilidade

Quanto à credibilidade da Igreja, confia no bom trabalho feito em tantas partes do mundo”, que será documentado num “Relatório Anual da Comissão ao Santo Padre”.

Para o cardeal, “mais do que uma defesa da instituição ou uma exigência legal imposta pela Igreja, o uso de boas ferramentas de tutela e uma relação sólida irão ajudar a preparar o terreno para difundir a Boa Nova”.

 

Artigo de Mateo González Alonso, publicado em Vida Nueva Digital a 26 de Maio de 2022.