Arquidiocese de Braga -

14 dezembro 2021

A receita de Omella contra as mudanças climáticas: “Anúncio, denúncia e compromisso individual e institucional”

Fotografia Giorgio Onorati/EPA

DACS com Vida Nueva Digital

Presidente da Conferência Episcopal Espanhola organizou colóquio inter-religioso sobre a Cimeira de Glasgow.

\n

“Talvez não tenhamos cultivado ou ensinado o cuidado da Criação na nossa catequese e actividades pastorais”. É a autocrítica lançada pelo presidente da Conferência Episcopal Espanhola, Juan José Omella, sobre a falta de compromisso da Igreja no que diz respeito à ecologia integral durante um encontro inter-religioso que decorreu ontem no auditório da Fundação Paulo VI.

Com o título “COP 26: o compromisso das religiões com as mudanças climáticas”, este colóquio organizado pelo Episcopado espanhol reuniu os líderes das principais confissões religiosas do país para avaliar os desafios urgentes em termos de ecologia integral após a Cimeira de Glasgow.

 

Muito em jogo

“O fundamento da protecção da Casa Comum está na nossa teologia e na base da nossa fé cristã: somos colaboradores de Deus na criação”, disse o arcebispo de Barcelona (…).

“Há quantos anos se reclama 0,7% do PIB para os países pobres e quantos o cumprem? Em que medida é que nós, países desenvolvidos, os ajudamos a viver com dignidade e a cuidar da Casa Comum?”, questionou Omella a partir da sua experiência em África, em que convocou tanto as instituições quanto o público a apostar no “compromisso, anúncio e denúncia”.

“Embora ainda haja muito a fazer, há uma consciência crescente. Dou os parabéns aos jovens porque têm um caminho de consciência muito forte que nos move, aos mais velhos”, reconheceu o purpurado.

 

Predador do cosmos

Para o Arquimandrita Demetrio Sáez, da Arquidiocese Ortodoxa de Espanha e Portugal, “em vez do jardineiro do Éden, o homem converteu-se num predador do cosmos”. Com o objectivo de romper com essa dinâmica, exigiu uma responsabilidade maior no quotidiano que vai além da protecção da natureza para “cuidar também dos mais fracos, desde o embrião aos doentes terminais”.

Sáez denunciou que, no momento em que as religiões dão um passo à frente diante de governos e empresas “predadores”, chegam a ser “perseguidos e assassinados em alguns casos”.

“A Igreja como instituição não tem força suficiente para mudar de rumo por si só, mas é preciso elevar a voz e a consciência do mal que está a ser feito e devemos continuar com este empenho”, indicou.

 

Transformação interna

Por sua vez, o rabino Moshe Bendahan, da Comunidade Judaica de Espanha, destacou a necessidade de se apostar na “educação” em matérias ecológicas para gerar “uma transformação interna de cada um”.

Partindo deste ponto, considera fundamental promover a “solidariedade com as gerações vindouras”.

“Estamos num tempo de aquecimento global, mas de resfriamento espiritual”, lamentou sobre uma secularização que considera influenciar também no momento dessa consciência do cuidado com a criação.

“A complexidade do problema ambiental e das mudanças climáticas não é desculpa para não se abordar o assunto”, disse Alfredo Abad, da Igreja Evangélica Espanhola. Nesse sentido, exigiu que as religiões assumam “a responsabilidade” de tornar seus conceitos como “a pegada ecológica, a responsabilidade pelo consumo reakuzado, o custo para as futuras gerações do nosso excessivo…".

Abad reconheceu que existe “uma grande interacção inter-religiosa e ecuménica”, sublinhando que quase não existem diferenças de matizes nesta luta conjunta: “Neste assunto, há uma comunhão importante”.

 

A Terra não está à venda

“A Terra não está à venda e nós, religiões, não podemos ignorar quando num país latino-americano um defensor dos direitos humanos que enfrenta uma empresa em defesa da natureza é condenado”, declarou o porta-voz evangélico.

“É preciso um compromisso e uma ética social para realizar uma verdadeira mudança, isso não é válido só com as leis”, disse Mohamed Ajana, da Comissão Islâmica de Espanha, ao valorizar o papel que as religiões podem ter.

Assim, destacou como podem colaborar “na sensibilização e no ensino da responsabilidade e dos efeitos dos actos individuais” ligados à natureza e ao Criador.

“Não devemos desanimar se percebermos que não estamos a ser ouvidos, simplesmente temos que nos animar para continuarmos a fazer finca-pé em algo que precisa de mais esforço”, incentivou.

 

Artigo original de José Beltrán, publicado em Vida Nueva Digital a 13 de Dezembro de 2021.