Arquidiocese de Braga -

24 julho 2024

Opinião

A relação geracional da sociedade: viver a fraternidade no amor e no cuidar

Maria de Fátima Marcos, CMAB

Diariamente criamos contactos e afetos com os que nos são próximos. Neste núcleo mais pessoal e familiar, temos como pilares os mais velhos, os nossos avós e os idosos cuja experiência de vida e idade permitem que sejam tratados dessa forma.

Mas estarão a família e a sociedade preparadas para acolherem e dignificarem estas pessoas? Não esquecer que na etapa mais jovem e ativa das suas vidas serviram, acolheram, ensinaram e transmitiram valores de humanidade.

Será que são uma geração esquecida ou amada? Como a valorizamos?

Parar, refletir e olhar com esperança para encontrar o encanto da alegria em todas as estações da vida.

Neste mês em que celebramos o IV Dia Mundial dos Avós e Idosos, estaremos conscientes da realidade em que vivem? Muitas vezes Isolados, sós, esquecidos, abandonados e descartados.

Belas memórias da infância: o carinho, o amor e a ternura que os avós dão a cada neto/a.

Os avós são, muitas vezes, o primeiro colo e estão sempre disponíveis para ouvir, abraçar e confortar os seus netos. Os sorrisos que espelham no rosto são, muitas vezes, a felicidade retribuída pelos sacrifícios vividos. A partilha mútua de gestos de amor gravam memórias no nosso coração.

Diariamente muitas instituições sociais prestam apoio e cuidado aos idosos que vivem sós, às suas famílias e a todos os que necessitam. Através dos centros de dia e lares de idosos procura-se oferecer uma companhia e o conforto que tanto necessitam: esta é uma obra de misericórdia!

Os mais velhos são valores incalculáveis que jamais se esquecem e que se tornam uma verdadeira escola de humanidade. Esta partilha de afetos hoje é, por vezes, tão esquecida e desvalorizada… Todo o homem é um ser único, original e autêntico, contudo as circunstâncias da vida moldam o seu ser.

O Papa Francisco propõe para o IV Dia Mundial dos Avós e Idosos o tema: “Na velhice não me abandones”, onde pretende destacar como a solidão por vezes é, infelizmente, a amarga companheira na vida de muitos idosos.

A valorização dos dons dos avós e dos idosos e da sua contribuição para vida da igreja e da sociedade promovem o compromisso das comunidades, no esforço de construir laços entre as gerações e no combate à solidão.

O ser humano é relacional, vive do contacto constante de proximidade, e é nesses laços que se constroem os afetos.

O nosso olhar vai-se tornando indiferente perante a solidão dos que à margem são descartados pela sociedade. A falta de ternura, de carinho e de afetos colocam os avós e os idosos como vítimas da sociedade egocêntrica na qual são esquecidos os valores do amor e da empatia entre gerações. Em muitos lares vivem a solidão, o abandono, o esquecimento…

Há hoje, na sociedade, muitas mulheres e homens que procuram a realização pessoal numa existência tão autónoma e desligada dos outros quanto possível. A recíproca pertença está em crise, acentua-se o individualismo; a passagem do «nós» ao «eu» constitui um dos sinais mais evidentes dos nossos tempos.

A família contraria a ideia de nos salvarmos sozinhos e ao mesmo tempo é uma das vítimas desta cultura individualista. Quando se envelhece, à medida que as forças diminuem, a ilusão de não precisar de ninguém e de poder viver sem vínculos, revela-se o que verdadeiramente é: encontramo-nos a precisar de tudo, mas agora sozinhos, sem ajuda, sem ninguém com quem possamos contar. É uma triste descoberta, que muitos fazem quando já é demasiado tarde.

Na mensagem para o Dia Mundial dos Avós e Idosos, o Papa Francisco diz-nos que a solidão e o descarte tornaram-se elementos frequentes no contexto em que estamos imersos. Têm múltiplas raízes: em alguns casos, são o resultado de uma exclusão planeada, uma espécie de triste «conjura social»; noutros, trata-se infelizmente de uma decisão própria; noutros ainda, suportam-se fingindo que se trata duma opção autónoma. Cada vez mais «perdemos o gosto da fraternidade» (FT 33) e sentimos dificuldade até para imaginar algo diferente.

Na passagem bíblica que foi escolhida para este dia percebemos que a liberdade e a coragem convidam-nos a percorrer uma nova estrada: sigamos os passos, ponhamo-nos a caminho, não tenhamos medo de mudar os nossos hábitos e imaginar um futuro diferente para os nossos anciãos.

A nossa gratidão estende-se a todas as pessoas que, mesmo à custa de muitos sacrifícios, estão a cuidar de um idoso ou simplesmente a demonstrar diariamente solidariedade a familiares ou conhecidos que não têm mais ninguém. É uma grande bênção cuidar!

Isto é válido sempre e para todos, se valorizarmos os idosos, reconhecendo o seu papel insubstituível na família, na sociedade e na Igreja.

Acreditamos que o Deus amor nos retribui “cem vezes mais” (Mc 10, 29-30)!