Arquidiocese de Braga -

Diz-nos o dicionário de língua portuguesa que a palavra “estrela” pode ser usada para denominar um astro que tem luz e calor próprios ou uma pessoa que se destaca em determinada área e que serve de referência a outras pessoas, servindo como guia.

A Estrella de quem hoje falo não é um astro, mas uma pessoa. Na sua essência ambas possuem semelhantes características: uma enorme fonte de luz e de calor próprios que na sua simplicidade se destacam pela dádiva da sua luz aos outros.

A Estrella é uma leiga missionária, de nacionalidade espanhola, que desde 2016 dedica a sua vida a cuidar das pessoas com a doença de Lepra (e outras “lepras”) na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique. Quem com ela se cruza nos caminhos da missão não fica indiferente à sua presença. Atrevo-me a dizer que vejo nela o rosto do amor, da fé, da entrega, da caridade, da alegria, da força e da esperança. Não reclama nem é objeto de holofotes mediáticos, mas ilumina e oferece esperança.

Apoiada pela Associação Portuguesa Amigos de Raoul Follereau (APARF) desenvolve o seu trabalho percorrendo sozinha e frequentemente sob condições adversas todas as aldeias dos mais de 82 625 Km2 da província. Parte com a missão de diagnosticar novos casos de Lepra, de os orientar no difícil acesso ao tratamento e de difundir informação acerca desta doença hoje facilmente tratável, no sentido de diminuir o estigma na comunidade que, desconhecendo a doença, lhe atribui frequentemente conotações de maldição levando as comunidades a se excluírem mutuamente do convívio social.

A Estrella vê o que ninguém quer ver. Vai aos lugares onde ninguém quer ir. Toca nas feridas que ninguém quer tocar e que são efetivamente dolorosas até à visão. Faz o que os dados estatísticos não querem que se faça: revelar o aumento do número de novos casos de uma doença que o mundo desenvolvido pensa (ou faz de conta) estar erradicada. Leva consigo a esperança da cura das feridas internas e das externas causadas por esta doença filha da pobreza que, de forma mutilante, incapacita e estigmatiza quem visivelmente a carrega consigo. A Estrella parte e faz-se presente, curando as feridas.

No próximo dia 29 de janeiro celebra-se o 70º Dia Mundial dos Doentes de Lepra. Pretende-se com este dia consciencializar para a (ainda) existência milhares de pessoas que (sobre)vivem com a atrocidade desta doença. A Estrella é luz que as guia naquela geografia do norte de Moçambique, ainda a braços com mais de um milhão de deslocados internos devido aos conflitos sem rosto que ceifaram já a vida a milhares de pessoas. Unamo-nos a ela na sua missão através da oração. Para os mais ousados convido-vos a visitar a sua obra no website www.aparf.pt. De qualquer forma, a Estrella irá em nosso nome!

Artigo publicado no Suplemento Igreja Viva de 05 de janeiro de 2023.