Arquidiocese de Braga -

16 dezembro 2022

A Espera

Fotografia Joana Peixoto

O Conquistador

Joana Peixoto, equipa missionária Salama!

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“O tempo do Advento que nos prepara para o Natal é uma espécie de alavanca da nossa humanidade. Deus vem ao nosso encontro para que nós possamos ir ao encontro de Deus. Deus humaniza-se para que a nossa vida se divinize um pouco mais.” Cardeal José Tolentino de Mendonça

Esperar não é fácil… e a maioria das vezes, esperar não é, como dizem os moçambicanos, “sentar”. Esperar pode ser começar o caminho. Talvez o Advento nos queira pôr a mexer.

O tempo em Ocua não é uma medida que limita, mas apenas uma referência. Por isso quando marcamos às 14h, os encontros podem ser às 15h ou às 16h. Aqui a passagem do tempo faz-se notar pela força do sol e pelo calor que dita que chegou a hora de sair da machamba. O tempo gira à volta destes momentos de cada dia.

Dou por mim a reparar como me custa esperar. É mais natural querer a solução no momento, insistir para saber uma resposta o mais rápido possível, querer descobrir depressa qual é o plano a seguir para alcançar os resultados. Já todos sabemos que vivemos numa sociedade do contra-relógio, e que essa pressa pode ser boa, mas também muito má para o nosso bem-estar. Enquanto carrego a minha pressa, dou também por mim a reparar como este povo está tão habituado a esperar, e a encarar a espera como parte do seu dia - como certa.

Aqui é comum esperar-se muito, esperar-se para tudo. Até porque os caminhos são longos, e fazem-se devagar, debaixo deste calor que em dezembro já aperta. Por isso espero, porque também me esperam muitas vezes…é a vida. Mas zango-me com muitas das esperas que encontro aqui: quando têm que esperar porque não há medicamento no posto (outra vez), quando têm que esperar pela chuva para ter a certeza que este ano não será um ano de fome, quando têm que esperar para que as escolas tenham professores assíduos para as crianças poderem começar as aulas… Há esperas que não são boas. Mas a verdade é que o Advento nos traz esta novidade de que a Espera, a verdadeira - aquela que nos traz o sentido da nossa vida - vale a pena. No íntimo dela pode estar a crescer, em silêncio, o melhor da nossa vida!

Às vezes estamos tão preocupados nas esperas que temos que viver, que nos esquecemos de como somos também esperados. Ao olhar estas esperas, dispostas debaixo dos cajueiros, imagino o Senhor também à minha espera. Imagino-o como uma criança a fazer o presépio, há tantos anos atrás. A prepará-lo com muito amor e cuidado, à espera que eu entre lá. Por isso a cada ano, e a cada dia, é bom O imitarmos neste gesto e O esperarmos a Ele.

Aqui encontro esse lado divino, de quem sabe esperar. Porque eu já percebi que Deus é que sabe esperar, é o mestre da espera. Deus sabe-me esperar. Não se impõe, não reclama, mesmo quando eu Lhe digo que ainda não me apetece pôr a caminho. Ele sabe que o caminho é longo, aliás Ele conhece melhor o caminho do que eu. Não se incomoda nada se eu tiver que voltar atrás porque me esqueci de alguma coisa, ou se perdi o chapa e afinal vou no próximo. Ele veio viver connosco para nos olhar perto e nos mostrar que nunca deixamos de ser esperados.

Em Ocua dou por mim a contemplar este encontro entre o humano e o divino. Este lado divino que é saber esperar com paciência e amor, mas também saber-se esperado e ir ao encontro.

Artigo publicado no Jornal O Conquistador de 16 de dezembro de 2022.