Arquidiocese de Braga -

3 novembro 2022

Vida doada plenamente

Fotografia mccj

CMAB

Pe. Alberto Vieira, mccj

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Sereis minhas testemunhas… (At1,8) até aos confins do mundo. Eis o tema da celebração da missão deste ano 2022.

“Na evangelização, caminham juntos o exemplo de vida cristã e o anúncio de Cristo. Um serve ao outro. São os dois pulmões com que deve respirar cada comunidade (e cada batizado) para ser missionária”.

Neste mês desejamos recordar uma vida doada até ao fim no serviço à missão. É o exemplo da Irmã Maria de Coppi missionária comboniana. Estamos em 1963. Uma jovem apaixonada pela missão ao jeito de S. Daniel Comboni com apenas 24 anos partiu pela primeira vez para Moçambique e nunca mais de lá se foi. Viveu os anos da luta de libertação nacional do colonialismo até à independência em 1975. Seguiu-se a guerra civil de 16 anos que terminou com a assinatura dos acordos de paz, em Roma, a 4 de outubro de 1992. Iniciaram-se, no dia de S. Francisco de Assis, os tempos lindos e evangélicos do perdão e da reconstrução nacional. Porém Moçambique vive, de novo e há alguns anos, outra guerra. A guerra dos recursos naturais existentes no Norte e cobiçados por tantos. Os grupos terroristas do estado islâmico aproveitam para semear o terror e a morte. Ultrapassaram já os confins da província de Cabo Delgado e, passando o rio Lúrio, chegaram à província de Nampula.

Nas margens do rio Lúrio os Missionários Combonianos construíram uma Missão na aldeia de Chipene. Chama-se Missão de S. Pedro do Lúrio. Tinha Igreja, casa dos padres, casa das Irmãs, hospital e internato um masculino e outro feminino. No passado dia 6 de setembro a missão foi invadida pelos rebeldes. Incendiaram e destruíram todos os edifícios e até as viaturas bem como as casas, hospital, escolas primária e secundária e a Igreja. Nem os internatos escaparam. Encontravam-se na missão 3 irmãs e dois padres. A maioria dos alunos já tinham regressado ás suas casas pela insegurança que se vivia. Ficaram apenas alguns que eram de muito longe. A irmã Maria de Coppi estava no quarto com a Irmã Angeles. As irmãs não se aperceberam da chegada dos rebeldes. Quando a Irmã Maria se dirigia para o seu quarto foi baleada. A irmã Angeles ao ver a irmã Maria morta no chão conseguiu escapar escondendo-se no mato para onde tinham já fugido os poucos alunos dos internatos e a outra irmã. Os padres esconderam-se nos quartos onde os rebeldes não entraram mas incendiaram a casa. Depois de matarem a irmã saquearam a Igreja antes de a destruir. O atentado terminou pelas 23.00h. Durou cerca de duas horas. Posteriormente os rebeldes reconheceram a autoria do atentado e escreveram que os membros da missão católica estavam a espalhar o cristianismo e mereciam a morte.
As suas últimas palavras na mensagem à sobrinha Gabriella, também ela irmã comboniana, revelam a mulher que era: serena e confiante, ciosa da sua vocação missionária, cheia de esperança e com o coração aberto à vida do povo de Moçambique e disposta ao serviço incondicional, «até ao fim». «Aqui a situação é muito tensa… Há perigo e a situação é triste, muito triste. Toda a gente dorme na floresta… Reza por nós: que o Senhor nos proteja e a este povo. Boa noite».

O Bispo de Nacala. D. Alberto Vera disse: “Eu conhecia-a e posso dizer que ela era a imagem de uma mãe, de uma santa. Dedicou praticamente seis décadas da sua vida ao povo moçambicano. Ela estava realmente a ajudar toda a gente, com amor simples e humilde”, afirmou, acrescentando que se vai abrir “um processo” de forma a se apurar se este é um caso de martírio.

No domingo seguinte, o Papa Francisco no Angelus falou da irmã Maria de Coppi pedindo que o seu testemunho dê força e coragem aos cristãos e a todo o povo moçambicano. Vale a pena fazer memória da Irmã Maria que se doou desde os 24 anos até aos 83 sempre servindo os pobres mais pobres de Moçambique pelo amor e dedicação até ao fim na vanguarda da missão. Obrigado Maria de Coppi. A festa eterna da missão esperamos fazê-la um dia, contigo, no regaço terno e eterno do Pai na ternura da comunhão com todos e todas.

Artigo publicado no Suplemento Igreja Viva de 03 de novembro de 2022.


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