Arquidiocese de Braga -
7 outubro 2022
“E o que é que andas a comer?”
CMAB
Joana Peixoto, equipa missionária Salama! 2022
Perdi a conta às vezes que me fizeram esta pergunta nos últimos meses! E confesso que esta pergunta me faz sentir em casa, porque é verdade que um bom português está à mesa a sonhar onde será a próxima jantarada. Não há uma chamada com a família onde eles não nos perguntem o que almoçamos e jantamos, para garantir que estamos bem, e que está tudo a correr como deve ser. Esta seria sem dúvida uma pergunta que eu faria se estivesse desse lado, e que continuo a fazer para saber com toda a certeza “como estás?”.
Ninguém nos prepara para a sensação de pequenez que nos invade quando chegamos aqui. Tudo é maior do que aquilo que parece que nós podemos dar. Basta estar a chegar e pelo caminho olharmos as casas de matope e capim, para percebermos que o nosso coração vai precisar de tempo e espaço para acolher tudo o que vamos vivendo a cada dia.
Por isso, enquanto vou respondendo à pergunta “o que andas a comer?”, consigo escapar a outras perguntas mais difíceis às quais ainda não “cheguei” o suficiente para conseguir responder, como: “quais são as tuas primeiras impressões?”. Não faço ideia… Estar a chegar, é ser difícil distinguir o que está a impressionar-nos. Poderia dizer que é tudo. Detenho o olhar em cada árvore, em cada capulana, em cada pôr-do-sol que todos os dias me parece novo, e tudo cria uma impressão no coração.
Mas depois ouço histórias que nunca imaginei serem possíveis, ou atrapalho-me a tentar comunicar qualquer coisa entre um português estranho e algumas palavras macua, e o coração fica cheio de coisas maiores que ele. E aí já nem sei qual é a primeira, a segunda, a terceira impressão… É um colorido bonito, com cores alegres e tristes.
Tenho a impressão de que estas pessoas me vão alargar o coração. Tenho a impressão de que a missão é muita escuta e oração, para acolher este mistério de que, aqui ao lado, no mesmo mundo que nós, é possível que tudo seja novo. Acolher que nós não sabemos nada e só partilhando a vida é que a vemos melhor.
Que bom que a nossa diocese vem até aqui, através desta missão, para tocar o que nos é desconhecido, e o que se vive aqui a cada dia - as suas alegrias, mas também muitas das suas dores. Precisamos de sair e tentar chegar ao que nos é desconhecido, porque só com todos os contributos do mundo é que vamos ver tudo com olhos novos e compreender melhor o Evangelho.
Artigo publicado no Suplemento Igreja Viva de 07 de outubro de 2022.
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IV_2022_10_07_net.pdf
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