Arquidiocese de Braga -

30 setembro 2022

Bispos católicos russos lembram aos fiéis que “a Constituição protege a objecção ao uso de armas”

Fotografia DR

DACS com Religión Digital

Quanto aos religiosos católicos, a Conferência Episcopal lembra que a sua participação na guerra é categoricamente proibida, tanto pela Tradição da Igreja dos primeiros séculos, quanto pelas convenções internacionais vigentes.

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“O duro confronto na Ucrânia degenerou num conflito militar de grande escala que já causou milhares de vítimas, minou a confiança e a unidade entre países e povos e ameaça a existência de todo o mundo. (...) Queremos seguir o ensinamento da Igreja, segundo o Evangelho e a Tradição da Igreja antiga: a guerra nunca foi e nunca será um meio para resolver os problemas entre as nações; «nada se perde com a paz, tudo se perde com a guerra» (Pio XII, 1939)”.

Assim começa o apelo da Conferência dos Bispos Católicos da Rússia em relação à declarada mobilização parcial na Federação Russa. O apelo, publicado ontem e assinado por Paolo Pezzi, Arcebispo Metropolita da Mãe de Deus em Moscovo, em nome da Conferência Episcopal da Rússia, oferece algumas orientações para os fiéis leigos e religiosos católicos de nacionalidade russa, que hoje são obrigados a tomar decisões difíceis.

O recurso lembra, entre outras coisas, que a Constituição da Federação protege quem repudia o uso de armas por motivos de consciência. Embora notando a impossibilidade de tomar um rumo diferente, visando evitar mais derramamento de sangue, os bispos pedem que sejam levadas em conta as palavras do Papa Francisco em Nur-Sultan, durante a sua recente viagem apostólica ao Cazaquistão:

“Não nos habituemos à guerra, não nos resignemos ao inevitável. Ajudemos os que sofrem e insistamos para que a paz seja verdadeiramente tentada. O que é que ainda deve acontecer, que número de mortes devemos esperar antes que as rivalidades dêem lugar ao diálogo para o bem do povo, dos povos e da humanidade? A única saída é a paz e a única maneira de alcançá-la é através do diálogo”.

A Conferência Episcopal diz estar ciente da necessidade de os governos, em determinadas situações, recorrerem ao uso de armas e pedirem aos cidadãos que cumpram o seu dever pela Pátria e pelo bem comum, especificando: “O que foi dito é verdade se a acção militar visar acabar com o conflito o mais rápido possível e evitar a multiplicação de vítimas”.

O documento indica ainda como texto de referência para compreender esta passagem o terceiro parágrafo do artigo 5.º do Catecismo da Igreja Católica (2302-2317), que admite o recurso à guerra apenas para legítima defesa e apenas em caso de determinadas condições. A este respeito, a Conferência Episcopal sublinha que a decisão final sobre a participação ou não de um cidadão individual na guerra é uma questão que corresponde à dimensão sagrada da sua própria consciência.

Também lembra que tanto o ensinamento da Igreja Católica (Catecismo, §2311) quanto o terceiro parágrafo do artigo 59 da Constituição da Federação Russa protegem aqueles que, por motivos de consciência e crença religiosa, rejeitam o uso de armas.

O lembrete surge após o anúncio oficial a 25 de Setembro no portal do governo “объясняем.рф”, um serviço que responde às perguntas mais frequentes dos cidadãos russos, que declarou ser impossível aos objectores de consciência realizar alternativas de serviço comunitário durante a mobilização, negando efectivamente uma opção legal que não o envio daqueles chamados para a frente de armas na actual fase de mobilização parcial.

Quanto aos religiosos católicos, a Conferência Episcopal lembra que a sua participação na guerra é categoricamente proibida, tanto pela Tradição da Igreja dos primeiros séculos, quanto pelas convenções internacionais vigentes.

De acordo com as informações recebidas pela Agência Fides, vários sacerdotes ortodoxos russos foram convocados nos últimos dias para delegações da polícia militar. O seu não alistamento não foi justificado pelo seu estatuto religioso, mas por referência a outros requisitos incompatíveis com as orientações recebidas até agora dos gabinetes de recrutamento.

O documento conclui com um apelo a todos os católicos na Rússia para que rezem e jejuem “por uma paz justa e segura” e aos sacerdotes para que ofereçam a celebração de missas com orações específicas para o mesmo propósito.

Artigo da Agência Fides, publicado em Religión Digital a 30 de Setembro de 2022.