Arquidiocese de Braga -
27 setembro 2022
“Uma grande sinfonia de oração” para preparar o Jubileu de 2025
DACS com Omnes
Numa carta dirigida ao presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, o Papa Francisco antecipa as chaves do próximo Jubileu 2025, que terá como lema “Peregrinos da Esperança” e será precedido por um ano dedicado à oração.
Há algumas semanas, a Omnes anunciou na edição digital o tema do próximo Jubileu da Igreja universal a ser celebrado em 2025, “Peregrinos da Esperança”. A informação, pouco divulgada por outros meios de comunicação, surgiu numa audiência privada que o Papa Francisco teve com o presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, Rino Fisichella.
Em meados de Fevereiro, foi o próprio Pontífice quem o anunciou, comunicando publicamente pela primeira vez alguns detalhes e desejos sobre o próximo Ano Santo, numa carta dirigida ao próprio D. Fisichella e divulgada pela Sala de Imprensa da Santa Sé.
Na nossa antecipação, deixamos claro que, além do tema e do aspecto logístico da preparação para um evento que irá reunir milhões de fiéis de todo o mundo em Roma, centro do cristianismo, também era necessário reflectir sobre o caminho de preparação espiritual que o acompanhará.
O precedente mais imediato, o Grande Jubileu do ano 2000, tinha sido preparado por São João Paulo II seis anos antes, em 1994, com a famosa Carta Apostólica Tertio millennio adveniente.
O texto recentemente publicado pelo Papa Francisco vai precisamente no sentido de salvaguardar e valorizar a dimensão espiritual do Jubileu, evento que deve ser vivido “como um dom especial da graça, caracterizado pelo perdão dos pecados e, em particular, pela indulgência, plena expressão da misericórdia de Deus”, como sempre foi desde o primeiro Ano Santo de 1300 convocado pelo Papa Bonifácio VIII.
Fé, esperança e caridade
Precisamente por isso, o Santo Padre sugere que o Dicastério para a Evangelização encontre o caminho e as formas mais adequadas para viver a experiência tão esperada “com intensa fé, esperança viva e caridade activa”.
O lema geral será, como a Omnes também antecipou, “Peregrinos da Esperança”, e pretende ser o sinal – escreve o Papa na sua carta a Fisichella – “de uma nova renovação que todos sentimos ser urgente”. Justamente porque viemos de dois anos caracterizados por uma epidemia que também alterou o bem-estar espiritual das pessoas, trazendo morte, incerteza, sofrimento, solidão e limitações de todo tipo. Francisco também cita como exemplos igrejas que são obrigadas a fechar escritórios, escolas, locais de trabalho e instalações de lazer.
“Devemos manter acesa a chama da esperança que nos foi dada e fazer todo o possível para que cada um de nós recupere a força e a certeza de olhar para o futuro com mente aberta, coração confiante e visão ampla”, é a perspectiva que o Santo Padre propõe. Uma visão de abertura e esperança, de facto, que só pode ser alcançada redescobrindo uma fraternidade universal efectiva, que se materializa antes de tudo na escuta dos mais pobres e desfavorecidos, que devem ser o público privilegiado do Jubileu de 2025.
“Estes aspectos fundamentais da vida social” devem, portanto, ser combinados com a dimensão espiritual da “peregrinação”, que não deve descurar a beleza da criação e o cuidado da casa comum, através da qual – como demonstraram muitos jovens em muitas partes da mundo – também é possível mostrar a essência “da fé em Deus e da obediência à sua vontade”.
As quatro do Concílio Vaticano II
Neste ponto, o Papa Francisco propõe tomar como modelo para o caminho de preparação as quatro constituições do Concílio Vaticano II, Dei Verbum sobre a revelação divina, Lumen Gentium sobre o mistério e a formação da Igreja e do Povo de Deus, Sacrosanctum Concilium sobre a liturgia e a Gaudium et Spes sobre a projecção da Igreja no mundo contemporâneo, enriquecida por toda a contribuição magisterial das últimas décadas com sucessivos pontífices, até ao presente.
Uma grande sinfonia de oração
Aguardando da leitura da bula com as indicações específicas para a celebração do Jubileu, que será publicada mais tarde, o Papa sugere que o ano anterior ao evento jubilar seja dedicado “a uma grande «sinfonia» de oração”, porque antes de se colocar em marcha em direcção ao lugar santo, é preciso “recuperar o desejo de estar na presença do Senhor, de ouvi-lo e adorá-lo”.
Em suma, a oração deve ser o primeiro passo na peregrinação da esperança, através de um ano intenso “no qual os corações se possam abrir para receber a abundância da graça, fazendo do «Pai Nosso» a oração em que Jesus nos ensinou o programa de vida de cada um de seus discípulos”.
Um primeiro balanço da viagem sinodal
Quanto à escuta e ao envolvimento universal de toda a Igreja, o caminho do processo sinodal, que neste primeiro ano envolve as Igrejas locais, avança com satisfação. Uma nota recente da Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos afirma que 98% das Conferências Episcopais e Sínodos das Igrejas Orientais em todo o mundo nomearam uma pessoa ou uma equipa dedicada ao processo sinodal.
De acordo com os dados recolhidos em vários encontros online com os responsáveis do Sínodo, há também um grande entusiasmo por parte dos leigos e da vida consagrada. “Não é por acaso”, lê-se na nota, “que inúmeras iniciativas têm sido realizadas para promover a consulta e o discernimento eclesial nos diversos territórios”. Muitos desses depoimentos são recolhidos de tempos a tempos no site www.synoresources.org.
Também é um sucesso a iniciativa multimédia dedicada à oração pelo Sínodo – www.prayforthesynod.va – que foi lançada em conjunto com a Rede Mundial de Oração do Papa e a União Internacional dos Superiores Gerais, que também usa uma aplicação chamada Click to Pray: são propostas intenções de oração escritas pelas comunidades monástica e contemplativa, sobre as quais qualquer pessoa pode meditar.
Não faltam desafios no caminho sinodal, incluindo “os medos e relutâncias de alguns grupos de fiéis e do clero” e uma certa desconfiança entre os leigos “que duvidam que a sua contribuição seja realmente levada em consideração”. Soma-se a isso a persistente situação de pandemia, que ainda não favorece os encontros presenciais, que são, sem dúvida, muito mais proveitosos para partilhar e trocar ideias. Não é por acaso, reflecte o Secretariado do Sínodo, que a consulta do Povo de Deus “não pode ser reduzida a um simples questionário, pois o verdadeiro desafio da sinodalidade é precisamente a escuta mútua e o discernimento comunitário”.
Isso também lembra quatro aspectos que não devem ser subestimados: a formação específica em escuta e discernimento, que nem sempre é a norma; a necessidade de evitar a autorreferencialidade nas reuniões de grupo, valorizando antes as experiências de cada baptizado; maior envolvimento dos jovens, mas também daqueles que vivem à margem das realidades eclesiais; tentar superar a desorientação expressa por uma parte do clero.
Em suma, além da alegria e do dinamismo que a novidade do processo sinodal indubitavelmente inspira, todo o processo deve ser trabalhado com paciência, para que cada baptizado possa verdadeiramente redescobrir-se como membro essencial do Povo de Deus.
Artigo de Giovanni Tridente, publicado em Omnes a 27 de Setembro de 2022.
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