Arquidiocese de Braga -

“Os jovens estão a sofrer”. Foi assim que começou um dos relatórios de uma comunidade, que trazia à fase paroquial da Assembleia Nacional de Pastoral a escuta dos jovens, e das suas preocupações.

Em todas as “escutas” as preocupações foram-se repetindo. O desemprego, a baixa qualidade da educação, a pobreza, a violência… é longa a lista que os leva a afirmar com tanta firmeza que se sentem privados dos seus direitos.

A todas estas inquietações, em Cabo Delgado, acrescenta-se ainda a guerra. Muitos jovens perderam a oportunidade de prosseguir os seus estudos, perderam amigos, família e estão hoje deslocados das suas terras. A dificuldade de integração nas novas zonas de residência torna ainda mais difícil os recomeços, e manter a esperança de que vale a pena apostar no seu futuro.

Os jovens de Cabo Delgado, encontram-se por isso numa situação de vulnerabilidade muito grande. Esta vulnerabilidade e falta de esperança num futuro melhor, aproxima-os de caminhos que muitos nunca teriam pensado trilhar. Para além dos consumos de álcool e de drogas, falamos também de caminhos contrários aos seus valores mais profundos, contra o conceito de comunidade e de família. Um desses caminhos possíveis é a aproximação a grupos violentos que, independentemente do rótulo que lhes possam atribuir, roubam, destroem e espalham o medo um pouco por toda a província. Grupos que se aproveitam da fragilidade, prometendo um “agora” com mais possibilidades, em troca de um compromisso com os seus ideais.

Terminamos a discussão deste tema da assembleia com a única conclusão possível - não nos podemos esquecer dos jovens. É preciso que a pastoral juvenil cresça, alargue horizontes de futuro dentro de uma sociedade que não tem conseguido fazê-lo, e ao mesmo tempo crie raízes de amor muito fortes no coração dos jovens. Só reconhecendo-se amados poderão também amar um mundo com tantas feridas.

Artigo publicado no Jornal O Conquistador de 23 de setembro de 2022.