Arquidiocese de Braga -

21 setembro 2022

Bispo católico indiano torna-se eremita

Fotografia DR

DACS com La Croix International

O bispo Jacob Muricken escolheu o seu caminho há muito desejado para se tornar um eremita após uma espera de cinco anos pela aprovação da sua Igreja Católica Siro-Malabar de rito Oriental.

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Depois de acordar às três da manhã para rezar durante anos, doar o seu rim, andar descalço e consumir apenas uma refeição por dia, era natural que o Bispo Auxiliar Jacob Muricken, da Diocese de Palai, no sul da Índia, se tornasse um eremita.

O bispo Muricken, de 59 anos, da Igreja Católica Siro-Malabar, de rito Oriental, mudou-se a 15 de Agosto para um eremitério que ele mesmo construiu na vizinha Diocese de Kanjirappally. O Sínodo da Igreja Siro-Malabar tinha dado a sua aprovação para que o bispo Muricken perseguisse o seu sonho há muito acalentado.

O bispo, que foi ordenado sacerdote em 1993, escolheu o remoto local montanhoso porque queria ficar longe do público que o visitava  “apenas por ganhos pessoais mundanos”. Ao tornar-se um eremita, o prelado quer manter essas pessoas afastadas e atender apenas aqueles que desejem ganhar uma visão espiritual.

D. Muricken, bispo auxiliar de Palai desde 2012, planeia a sua vida na ermida centrado em Cristo e na Eucaristia, passando o tempo em oração e isolamento.

Mas irá continuar a manter o título de bispo. Esta é a primeira vez na Igreja Católica da Índia que um bispo se torna eremita.

D. Muricken nasceu em Muttuchira, uma paróquia da diocese de Palai, em 1963. Depois de concluir o mestrado em Economia, ingressou no Seminário e foi ordenado sacerdote em 1993.

Durante a sua decisão de se tornar um eremita, houve muito debate sobre esse movimento dentro da Igreja Siro-Malabar, porque as autoridades achavam difícil encontrar um precedente para um bispo se tornar eremita.

Finalmente, o Sínodo dos Bispos, que exerce autoridade na Igreja Siro-Malabar, atendeu ao seu pedido e concedeu-lhe permissão depois de uma espera de cinco anos.

Anteriormente, em entrevista ao UCA News, o bispo Muricken disse que a sua decisão veio de “uma inspiração de Deus”.

“É um chamamento especial dentro de um chamamento para me tornar monge e abster-me da vida oficial como bispo e outras funções administrativas na diocese. É aproximar-me de Deus e da natureza”, afirmou.

 

“A vida solitária não significa que odeie o mundo”

As sementes de eremita e o desejo de levar uma vida longe da agitação das rotinas de um bispo chegaram-lhe em 2017, cinco anos depois de ter sido ordenado bispo auxiliar de Palai. Levar a vida de um eremita ocorreu-lhe pela primeira vez enquanto rezava numa manhã.

O bispo Joseph Kallarangatt de Palai, que liderava a diocese, encorajou-o e o cardeal George Alencherry, líder da Igreja Siro-Malabar, apoiou-o na sua busca por levar uma vida ascética.

Noutra entrevista ao Deepika, um portal de notícias administrado pela Igreja, o bispo Muricken disse que a sua oração em solidão “irá ajudar a transformar a Igreja Católica e as pessoas em todo o mundo”.

Porquê a Igreja global? De acordo com D, Muricken, a Igreja Universal está actualmente pressionada por muitos compromissos pastorais e sociais, enquanto o apoio monástico às missões está a ser deixado de lado.

“A vida solitária não significa que odeie o mundo, mas sim ver o mundo conforme a vontade de Deus que é o Criador. Agora as pessoas tratam o mundo como uma utilidade e exploram-no para o luxo, mas a minha tentativa como eremita é viver no mundo de acordo com a vontade do Criador”, observou.

O bispo Muricken doou um rim e tornou-se um herói nacional em 2016, ao tornar-se o primeiro bispo ao serviço na Índia a doar um dos seus rins a um Hindu.

O bispo ficou comovido com a situação de Sooraj Sudhakaran, de 30 anos, o único ganha-pão da sua família, composta pela sua esposa e mãe.

O bispo Muricken é uma pessoa prática e começou a usar chinelos depois de se tornar bispo auxiliar. Os seus amigos disseram que come apenas uma refeição vegetariana por dia – talvez ao meio-dia – e no resto do dia só bebe água.

Segundo os seus amigos, ele costumava acordar às três da manhã para rezar durante uma ou duas horas.

A Igreja Católica na Índia compreende o rito Latino e dois ritos Orientais, Siro-Malabar e Siro-Malankara. O rito Latino segue a liturgia Romana introduzida pelos missionários Europeus no século XV, enquanto os dois ritos Orientais seguem as tradições da Igreja Síria e as suas origens remontam a São Tomé Apóstolo.

Artigo de Ben Joseph, publicado no La Croix International a 20 de Setembro de 2022.