Arquidiocese de Braga -

8 setembro 2022

Grupo católico diz que rebelião em Moçambique ainda ameaça civis

Fotografia Marc Hoogsteyns/AP

DACS com Crux

Depois de os rebeldes terem tomado a cidade de Palma no início de 2021, tropas de países vizinhos chegaram ao país para ajudar os militares moçambicanos.

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Uma série de terríveis ataques de rebeldes muçulmanos atingiu a província de Cabo Delgado, em Moçambique, nas últimas semanas.

Os combates eclodiram na região de Cabo Delgado, em Moçambique, em 2017, quando um grupo que se autodenomina al-Shabab — não ligado ao grupo Somali do mesmo nome — atacou cidades da região.

Depois de os rebeldes terem tomado a cidade de Palma no início de 2021, tropas de países vizinhos chegaram ao país para ajudar os militares moçambicanos.

Cerca de 2.000 tropas de oito nações da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), conhecida como Missão da SADC em Moçambique (SAMIM), foram destacadas a 15 de Julho de 2021. O Ruanda, não membro da SADC, tinha enviado anteriormente mil soldados para Cabo Delgado, após um acordo com Moçambique.

No entanto, uma nova ofensiva foi lançada pelos rebeldes durante o Verão, levando à deslocação de 80.000 pessoas.

Os rebeldes são conhecidos pelos seus métodos brutais, incluindo o incendiar de aldeias e a decapitação de civis, e pelo menos 4.000 pessoas morreram no conflito.

A Organização Internacional para as Migrações estima que mais de 900.000 pessoas tiveram de fugir das suas casas desde o início do conflito.

O Denis Hurley Peace Institute, órgão associado da Conferência dos Bispos Católicos da África Austral, disse na sexta-feira que houve “violentas incursões, entre terça e quarta-feira, todas em aldeias administrativamente pertencentes ao distrito de Ancuabe, no Sul da província”.

O instituto disse que várias pessoas foram decapitadas no fim de Agosto à volta de várias aldeias.

A declaração afirmou ainda que pelo menos 70 casas e um camião que transportava milho foram incendiados em Nacuale a 30 de Agosto.

“Os últimos relatórios reforçaram mais uma vez a ideia de que os rebeldes conseguiram nos últimos tempos reagrupar-se para novos ataques que colocam em risco a população e as Forças de Defesa e Segurança”, disse o instituto.

Johan Viljoen, director do Denis Hurley Peace Institute, disse que os assassínios não são ataques direccionados.

“As decapitações são realizadas pelos rebeldes. Parece que não há um alvo específico. As vítimas incluem cristãos, muçulmanos e pessoas de várias etnias”, disse ao Crux.

Afirmou ainda que conversou com muitas pessoas deslocadas pela guerra que dizem acreditar que “a guerra não tem nada que ver com religião, mas que o objectivo é expulsá-los das suas terras para que as terras possam ser entregues a corporações multinacionais e exploradores de metais e minerais preciosos”.

“A natureza indiscriminada das decapitações corrobora essa afirmação – que o objectivo dos ataques é expulsar as populações locais das suas terras. Esta não é uma guerra religiosa. Trata-se do acesso à riqueza mineral, petróleo e gás”, disse Viljoen.

Cabo Delgado é a província mais a Norte de Moçambique. Embora o país seja 75% cristão, Cabo Delgado tem uma ligeira maioria muçulmana.

As duas religiões historicamente têm vivido em paz e a rebelião é atribuída aos ensinamentos de um extremista Queniano.

No entanto, as tensões na região foram agravadas pela chegada de várias empresas petrolíferas multinacionais, que prometeram empregos e crescimento económico à região, o que nunca se concretizou.

“As autoridades não geriram bem a situação. A Total [empresa de energia francesa] disse que irá retomar as operações assim que a área estiver estável e [os moradores deslocados] regressarem. Desesperadas pelo regresso total, as autoridades – apoiadas pelo presidente Ramaphosa, entre outros – têm dito que o conflito acabou e que os deslocados internos (IDPs) devem regressar”, disse Viljoen ao Crux.

“Os líderes da Igreja Católica, por outro lado, disseram que a área ainda não é segura e que os deslocados internos devem ficar onde estão. Recebemos relatos de deslocados internos a serem atacados ao longo do caminho, ou mesmo nas suas aldeias de origem após o regresso”, explicou.

Viljoen disse que a situação de segurança em Cabo Delgado está a piorar, estando agora a ser atacadas zonas como Ancuabe, no Leste da província a cerca de 60 quilómetros da capital Pemba.

“Os ataques estão a espalhar-se para o Sul e Oeste. Mesmo áreas que até recentemente eram consideradas como estáveis pela Comunidade de Desenvolvimento da África Austral e tropas ruandesas – como Muidumbe e Macomia – estão agora a ser atacadas”, afirmou.

Observando que a guerra é sobre terras e riquezas minerais, Viljoen disse que “os pobres e marginalizados estão a ser sacrificados no altar da conveniência política e económica”.

Artigo de Ngala Killian Chimtom, publicado no Crux a 6 de Setembro de 2022.