Arquidiocese de Braga -

6 setembro 2022

Papa desafia rumores de renúncia e oferece mensagem de misericórdia às vítimas de terramoto

Fotografia Domenico Stinellis/AP

DACS com Crux

L'Aquila, capital da região central italiana de Abruzzo e o local de descanso final do Papa Celestino V no século XIII, foi o local de um forte terramoto que praticamente destruiu a cidade em 2009.

\n

 

Para deleite de muitos, e talvez consternação de alguns, o Papa Francisco, em cadeira de rodas, desafiou no Domingo os rumores persistentes ao não anunciar sua renúncia durante uma visita ao túmulo do último pontífice a renunciar voluntariamente antes de Bento XVI, oferecendo aos moradores locais uma mensagem de misericórdia e consolação no meio do sofrimento.

L'Aquila, capital da região central italiana de Abruzzo e o local de descanso final do Papa Celestino V no século XIII, foi o local de um forte terramoto que praticamente destruiu a cidade em 2009, deixando cerca de 300 pessoas mortas e cerca de 1.500 outras feridas.

Celestino V liderou a Igreja Católica por apenas cinco meses, de 5 de Julho de 1294 até à sua renúncia a 13 de Dezembro.

O Papa Bento XVI visitou L'Aquila após o terramoto de 2009, deixando para trás o pálio, ou estola, que recebeu na sua eleição, gesto que os observadores mais tarde passaram a ver como um prenúncio da sua própria renúncia quatro anos depois.

Esse gesto alimentou rumores de que o Papa Francisco, que enfrenta vários desafios de saúde e que expressou vontade de renunciar se se sentir incapaz de cumprir as exigências do seu cargo, potencialmente anunciaria a sua própria renúncia no Domingo.

(Outros especularam que Francisco pode esperar até às suas reuniões com os cardeais na segunda e terça-feira para dar a notícia, embora ele tenha usado várias entrevistas recentes para negar categoricamente que actualmente esteja a pensar em afastar-se, insistindo que tal nunca lhe passou pela cabeça).

Durante a sua breve estada em L'Aquila, o Papa estendeu uma mensagem de fé e esperança aos cidadãos que continuam a reconstruir-se depois de o terramoto destruir grande parte da sua cidade.

Após a sua chegada, Francisco, que usou uma cadeira de rodas durante toda a visita devido à osteoartrite do joelho, fez uma breve saudação aos familiares das vítimas do terramoto, assegurando-lhes a sua proximidade e agradecendo-lhes pelo seu “testemunho de fé”.

“Mesmo na dor e na perplexidade, que pertencem à nossa fé de peregrinos, fixaram o vosso olhar em Cristo, crucificado e ressuscitado, que com o seu amor redimiu a dor e a morte de um vazio de sentido”.

“Jesus colocou-vos de volta nos braços do Pai, que não deixa cair em vão uma lágrima, nem uma só, mas recolhe-as no seu coração misericordioso”, disse o Papa, afirmando que no coração de Deus estão escritos “os nomes dos seus entes queridos, que passaram do tempo para a eternidade”.

“A comunhão com eles está mais viva do que nunca”, afirmou, acrescentando que “a morte não pode quebrar o amor”.

Também fez uma saudação especial aos presos, vários dos quais presentes, dizendo que eles também são um sinal de esperança, “porque mesmo nas prisões há muitas, muitas vítimas”.

“Hoje, aqui, vocês são um sinal de esperança na reconstrução humana e social”, apontou.

O Papa Francisco celebrou então a Missa pelo chamado “Perdão Celestino”, que é celebrado anualmente de 28 a 29 de Agosto, e que tem no seu cerne a concessão de indulgência plenária a todos os que visitam a Basílica local e se confessam, recebem a comunhão e rezam pelas intenções do Papa.

Celestino estabeleceu a celebração durante o seu breve pontificado em 1294, declarando, numa época em que as indulgências eram vendidas por dinheiro ou outra consideração, que apenas duas condições eram necessárias para receber o perdão: entrar na Basílica entre 28 e 29 de Agosto de cada ano, e estar “verdadeiramente arrependido e confessado”.

Na sua homilia, Francisco lembrou o seu predecessor do século XIII como “o homem do «sim»” e um “testemunho corajoso do Evangelho” e de humildade.

A humildade, disse o Papa, “não consiste na desvalorização de si mesmo, mas naquele realismo saudável que nos faz reconhecer as nossas potencialidades e também as nossas misérias. Partindo precisamente das nossas misérias, a humildade faz-nos olhar para longe de nós mesmos para nos voltarmos para Deus”.

Celestino V, disse, foi corajoso porque “nenhuma lógica de poder poderia aprisioná-lo ou administrá-lo”, e por isso o seu exemplo pode ser admirado como “uma igreja que está livre da lógica mundana e testemunha plenamente daquele nome de Deus que é a misericórdia”.

Um dos maiores legados de Celestino, disse o Papa Francisco, é que “com misericórdia, e sé com ela, a vida de cada homem e de cada mulher pode ser vivida com alegria”.

Misericórdia, afirmou, é a experiência de nos sentirmos “acolhidos, postos em pé novamente, fortalecidos, curados e encorajados.

O Papa rezou para que a Basílica, que ainda está a ser restaurada, seja para sempre um lugar de reconciliação e um lugar onde “Deus nos coloca de pé e nos dá outra hipótese. Que seja um templo de perdão, não apenas uma vez por ano, mas sempre”.

Apontando para o sofrimento vivido por aqueles que perderam lares e entes queridos, o Papa disse aos locais que aqueles que sofreram devem ser capazes de “fazer um tesouro do seu próprio sofrimento” e devem entender que “na escuridão vivida, também foi dado o dom de compreender a dor dos outros”.

Quando alguém está a passar por um “terramoto da alma”, explicou, pode perder tudo, mas ainda aprender a “verdadeira humildade”.

O Papa Francisco concluiu a sua homilia rezando para que L’Aquila fosse a capital do “perdão, paz e reconciliação” e que se tornasse um exemplo da humildade mencionada nos Evangelhos.

Após a missa, o Papa guiou os locais na tradicional oração do Ângelus Mariano.

Antes de regressar a Roma, dirigiu uma saudação especial a todos os que participaram nos eventos da sua visita, pessoalmente ou à distância, e agradeceu a ajuda das autoridades civis e eclesiais locais.

Também ofereceu uma oração pelo povo do Paquistão que foi sofreu com as recentes inundações e por todos aqueles que sofrem com a guerra, especificamente na Ucrânia.

Francisco pediu a Deus para “reavivar nos corações dos líderes das nações o sentido humano e cristão da piedade e da misericórdia”.

Artigo de Elise Ann Allen, publicado no Crux a 28 de Agosto de 2022.