Arquidiocese de Braga -

2 setembro 2022

Francisco abre a porta a novas evoluções dos ministérios laicais

Fotografia DR

DACS com Vida Nueva Digital

Pontífice publicou uma mensagem por ocasião do 50º aniversário do motu proprio “Ministeria quaedam” de Paulo VI, em que os ministérios do leitor e do acólito foram restaurados.

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O Papa Francisco quis celebrar com uma mensagem o 50º aniversário da publicação do motu proprio de Paulo VI “Ministeria quaedam”, com o qual os ministérios do acólito e dos leitores foram recuperados após o caminho do Vaticano II, abrindo-os aos leigos. O pontífice felicitou o caminho percorrido e convidou a continuá-lo sem forçá-lo com opções “fruto de visões ideológicas”.

 

Uma grande consulta

Após estas cinco décadas, o Papa quer iniciar um diálogo com as Conferências Episcopais de todo o mundo “para poder partilhar a riqueza das experiências ministeriais que a Igreja viveu nestes cinquenta anos, tanto como ministérios instituídos (leitores, acólitos e, só recentemente, catequistas), como ministérios extraordinários e de facto”.

Francisco pede para “saber ouvir a voz do Espírito e não parar o processo, tendo o cuidado de não querer forçá-lo impondo opções fruto de visões ideológicas”, uma vez que incorporou o ministério dos catequistas e abriu às mulheres todos os ministérios.

Para o pontífice “é útil partilhar, ainda mais no clima do caminho sinodal, as experiências destes anos. Podem oferecer indicações preciosas para chegar a uma visão harmoniosa da questão dos ministérios baptismais e assim continuar o caminho”.

O documento de Paulo VI, destaca a mensagem, “ofereceu à Igreja uma perspectiva importante que teve o poder de inspirar desenvolvimentos posteriores”, como foi demonstrado no Sínodo sobre a Amazónia e com duas Cartas Apostólicas de Francisco: Spiritus Domini (10 de Janeiro 2021), que abriu o acesso das mulheres ao ministério instituído de Leitor e Acólito, e Antiquum ministerium (10 de Maio de 2021), com o qual instituiu o ministério de catequista.

Para o pontífice, “estas duas intervenções não devem ser interpretadas como uma superação da doutrina anterior, mas como um desenvolvimento ulterior que foi possível porque se baseia nos mesmos princípios – consistentes com a reflexão do Concílio Vaticano II – que inspiraram Paulo VI”.

 

Ao serviço da comunidade

Francisco insiste que este tema “é de fundamental importância para a vida da Igreja: de facto, não há comunidade cristã que não expresse ministérios”, já que todo ministério é “um chamamento de Deus para o bem da comunidade”.

Por isso, esta deve organizar “a variedade de ministérios que o Espírito suscita em relação à situação concreta em que vive”, algo que, insiste o Papa, “não é um facto meramente funcional, mas é, antes, um discernimento comunitário atento, escutando o que o Espírito sugere à Igreja, num determinado lugar e no momento presente da sua vida”.

“Toda a estrutura ministerial que nasce deste discernimento é dinâmica, viva, flexível como a acção do Espírito: deve enraizar-se cada vez mais profundamente para não correr o risco de que o dinamismo se transforme em confusão, a vivacidade se reduza a improvisação, a flexibilidade se transforme em adaptações arbitrárias e ideológicas”, alerta.

“A eclesiologia da comunhão, a sacramentalidade da Igreja, a complementaridade do sacerdócio comum e do sacerdócio ministerial, a visibilidade litúrgica de cada ministério são os princípios doutrinais que, animados pela acção do Espírito, tornam harmoniosa a variedade dos ministérios”, sublinha Bergoglio.

Por isso, ao promover ministérios laicais, insiste, há vários aspectos que “certamente devem ser considerados: a terminologia utilizada para indicar os ministérios, a sua base doutrinal, os aspectos jurídicos, as distinções e as relações entre cada um dos ministérios, o seu valor vocacional, os itinerários formativos, o evento instituinte que possibilita o exercício de um ministério, a dimensão litúrgica de cada ministério”.

“Certamente devemos continuar a aprofundar”, afirma Francisco, mas sem “pretender defini-los e resolvê-los para depois poder viver a ministerialidade”, porque agindo assim “é muito provável que não se vá muito longe”.

“Em vez de ficarmos obcecados com os resultados imediatos na resolução de todas as tensões e no esclarecimento de todos os aspectos, correndo o risco de cristalizar os processos e, às vezes, tentar pará-los, é preciso acompanhar a acção do Espírito do Senhor”, concluiu.

Artigo de Mateo González Alonso, publicado em Vida Nueva Digital a 24 de Agosto de 2022.