Arquidiocese de Braga -

27 julho 2022

Viagem do Papa no Canadá continua no Québec

Fotografia AP Photo/Eric Gay

DACS com Agência Ecclesia

A segunda etapa da viagem apostólica inclui uma celebração pela reconciliação no Santuário de Santa Ana de Beaupré, com participação especial de comunidades indígenas.

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O Papa deixa esta quarta-feira a província de Alberta, na região ocidental do Canadá, para continuar a peregrinação penitencial” no Québec, onde se vai encontrar esta tarde com autoridades políticas e representantes indígenas.

Após um voo de 3.116 quilómetros e pouco mais de 4 horas, Francisco vai ser recebido pela governadora geral do Canadá, Mary May Simon, e pelo primeiro-ministro do país, Justin Trudeau, antes do discurso oficial às autoridades civis, representantes das populações indígenas e membros do corpo diplomático, pelas 21h45 em Portugal continental.

A segunda etapa da viagem apostólica inclui uma celebração pela reconciliação, esta quinta-feira, com participação especial de comunidades indígenas, no Santuário de Santa Ana de Beaupré, um dos locais de peregrinação mais antigos e populares da América do Norte, que atrai mais de um milhão de pessoas por ano.

Já no Lago de Santa Ana, em Alberta, nesta terça-feira, o Santo Padre uniu-se à tradicional procissão dos católicos indígenas do Canadá e evocou os terríveis efeitos da colonização” e a consequente dor indelével de tantas famílias, avós e crianças”, pedindo ajuda para curar as nossas feridas”.

No dia da festa litúrgica de São Joaquim e Santa Ana, avós de Jesus, o pontífice declarou que “parte da dolorosa herança que estamos a enfrentar nasce do facto de se ter impedido às avós indígenas de transmitirem a fé na sua língua e na sua cultura”, uma perda que constitui uma tragédia, mas cuja peregrinação rumo à cura, de abertura do coração a Deus que sara o nosso sermos comunidade” é iniciada pela presença das comunidades indígenas nesta viagem.

O Papa evocou ainda o “papel vital” das mulheres nas comunidades indígenas e falou dos idosos como um “tesouro” para as famílias, a “herança mais preciosa a amar e proteger” como fontes abençoadas de vida, não apenas física, mas também espiritual” que são.

Francisco mostrou-se impressionado com o som dos tambores que o tem acompanhado desde domingo no Canadá, descrevendo-o como o palpitar” dos corações que, ao longo dos séculos, vibraram junto destas águas; os corações de tantos peregrinos que concordaram juntos o passo para chegar a este lago de Deus”.

O Santo Padre, que chegou ao Lago em cadeira de rodas, começou por fazer o sinal da cruz virado para os quatro pontos cardeais, segundo a tradição indígena, e abençoou as águas, assim como os fiéis presentes. Na homilia, destacou que Jesus pregou junto a um lago, o Mar da Galileia, “a sede dum inaudito anúncio de fraternidade; duma revolução sem mortos nem feridos, a revolução do amor”.

A viagem, entre 24 e 30 de Julho, passa pelas cidades de Edmonton, Quebeque e Iqaluit – que abriga o maior número de inuítes, os membros da nação indígena esquimó.

Em 2021 foram descobertas mais de um milhar de sepulturas anónimas junto de antigas escolas residenciais indígenas, com 751 sepulturas anónimas a serem descobertas perto de uma única escola em Saskatchewan. Várias destas instituições pertenciam à rede de escolas administrada pela Igreja Católica e eram destinadas à “re-educação” de crianças indígenas, com o apoio do governo canadiano.

Nos séculos XIX e XX, até aos anos 1990, mais de 150 mil crianças indígenas passaram por este sistema de 139 instituições pelo Canadá. Em alguns casos, as crianças eram forçadas a ir para colégios internos para serem assimiladas pela sociedade caucasiana do país.

No final de Setembro de 2021, a Conferência Episcopal do Canadá publicou um “pedido inequívoco de desculpas” aos povos indígenas do território.

Os bispos canadianos reconheceram “os graves abusos cometidos por alguns membros” da comunidade católica, abusos estes “físicos, psicológicos, emocionais, espirituais, culturais e sexuais”, para além de reconhecer “com tristeza, o trauma histórico e contínuo, bem como o legado de sofrimento e os desafios que perduram até hoje para os povos indígenas”.

A Igreja Católica no Canadá admitiu que o sistema implementado nestes internatos, nos séculos XIX e XX, “levou à supressão das línguas, cultura e espiritualidade autóctones, sem respeitar a rica história, tradições e sabedoria dos povos indígenas”, e assumiu o compromisso de promover uma arrecadação de fundos em todas as regiões do Canadá para apoiar “iniciativas assumidas localmente com os parceiros indígenas”.

Em 2015, após sete anos de investigação, a Comissão de Verdade e Reconciliação do Canadá divulgou um relatório sobre escolas residenciais, revelando que entre 1890 e 1996 mais de 3 mil crianças morreram por causa de doenças, fome, frio e outros motivos.