Arquidiocese de Braga -

15 julho 2022

D. Luis Marín: “Queremos uma Igreja aberta, que fale a linguagem do povo”

Fotografia DR

DACS com Vida Nueva Digital

Subsecretário da Secretaria Geral do Sínodo explicou que “o processo sinodal oferece a oportunidade de uma profunda reforma na Igreja”.

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“O processo sinodal oferece-nos a oportunidade de uma profunda reforma na Igreja: a originada pelo Espírito Santo, que nos une a Cristo e nos impele a dar testemunho na missão evangelizadora”. É o que afirma o Bispo de Suliana e Subsecretário da Secretaria Geral do Sínodo, Luis Marín, num documento intitulado “Juntos com Cristo no caminho”.

Portanto, o processo sinodal é “um movimento para dentro, de coerência, e também para fora, de comunicação e testemunho. Queremos uma Igreja aberta, que fale a linguagem do povo, que sinta e partilhe os seus problemas. E seja consistente. O Evangelho não se torna atractivo por adaptação ou tibieza, mas pelo testemunho radical e credível de Cristo tanto por parte do indivíduo, como da comunidade”.

Como sublinhou o bispo: “percorremos este caminho não sozinhos, mas em comunidade, ou seja, em relação e participação, abertos ao diálogo e à corresponsabilidade”. No entanto, “hoje, na Igreja, encontram-se forças centrífugas que a convulsionam” e que “devem ser superadas: a perda do sentido da universalidade eclesial, de catolicidade; a crescente ideologização; e o mundanismo”. Nesta última “inscrevem-se o clericalismo e o assembleísmo. Em suma, na sua base não está o serviço, que é uma doação gratuita de amor, mas o poder: como preservá-lo, como distribuí-lo ou como participar nele”.

Apesar de tudo, Marín está convencido de que “ao olhar para o momento que se está a viver, a consideração é, sem dúvida, optimista e esperançosa”. “Acredito sinceramente que estamos num processo irreversível, com velocidades diferentes, cheio de nuances e talvez esclarecimentos necessários, mas não há como voltar atrás. Porque não se trata, essencialmente, de mudar estruturas, partilhar poder, programação detalhada, reflexões académicas inteligentes ou marketing para promoção pessoal ou de grupo”, explica.

“Refere-se à vivência coerente da nossa fé, liga-nos a Cristo e aos irmãos, tem como eixo o amor verdadeiro e abre-nos ao dinamismo evangelizador. É uma opção essencialmente crente”, explicou.

 

Trabalhar para a fraternidade

Outro desafio sinodal importante, para Marín, é o da fraternidade.

“Neste mundo de contrastes, injustiças, desigualdades sangrentas, o Papa convida-nos a recuperar a fraternidade fundamental, que brota da imagem de Deus em cada ser humano. Mas, se voltarmos o olhar para a própria realidade da Igreja, constatamos a crescente polarização ideológica, que muitas vezes esquece a caridade, rompe escandalosamente a comunhão e prejudica a unidade”, adianta.

Nesse sentido, “a ausência do amor fundador, do primeiro amor, a falta da experiência de Cristo, leva a uma radicalização progressiva e evidente” nos nossos dias.

“É impossível para o mundo acreditar, encontrar Cristo em nós, se fizermos do Evangelho uma ideologia, rejeitando até com raiva e agressividade aqueles que pensam diferente, têm uma sensibilidade diferente ou não seguem as nossas ideias. Chegando ao ponto de considerá-los inimigos. Isso é um escândalo, que deve ser denunciado e corrigido”, acrescenta.

Como conclusão, o prelado indicou que a sinodalidade é um processo que não termina, “porque faz parte da identidade eclesial: de ser, agir e estilo da Igreja”.

“É errado pensar que a sinodalidade actual termina com a fase diocesana, com a fase continental, ou com a celebração da Assembleia do Sínodo dos Bispos, que são eventos integrados no único processo sinodal”, afirma.

Da mesma forma, “todas as manifestações ou formas concretas em que a sinodalidade se expressa não podem e não devem ser vistas como eventos isolados e desconexos: sínodos nacionais ou locais, assembleias (como a recente do CELAM), conselhos pastorais nos diferentes níveis, os dicastérios da Cúria Romana, etc. Essas estruturas são elementos que preservam a sua própria identidade, mas que só adquirem verdadeiro significado quando integrados no todo eclesial”.

“Precisamos também de avançar na relação entre as Igrejas locais e as organizações nacionais-continentais e entre as Igrejas locais entre si e na Igreja universal”, acrescenta.

 

Artigo de Elena Magariños, publicado em Vida Nueva Digital a 14 de Julho de 2022.