Arquidiocese de Braga -
31 maio 2022
Onufriy declara-se “independente” e Kirill fica sozinho
DACS com Vida Nueva Digital
O Patriarcado Ortodoxo de Kiev segue o caminho de Epifaniy e não reconhece mais a autoridade espiritual de Moscovo.
Um enfraquecimento da sua autoridade espiritual que já começou em Dezembro de 2018, quando surgiu uma divisão do Patriarcado Ortodoxo de Kyiv, subordinado ao de Moscovo por três séculos, na forma da Igreja Autocéfala Ucraniana.
Liderada por Epifaniy, tornou-se a décima quinta Igreja Ortodoxa do mundo e, desde o início, foi colocada sob a órbita do Patriarcado Ecuménico de Constantinopla, a outra grande corrente ortodoxa, liderada pelo Patriarca Bartolomeu.
Até agora, Kirill teve o apoio do Patriarcado Ortodoxo de Kyiv, que reconheceu a autoridade espiritual de Moscovo, apesar de mostrar desde o início da invasão (agora há 100 dias) a sua rejeição contundente à acção violenta de Putin contra o seu povo.
Mas a situação, já enraizada, deu uma volta definitiva e, desde o último 27 deMmaio, a Igreja liderada pelo Patriarca Onufriy já declara espiritualmente a sua “plena independência”.
Possível acordo?
Basta verificar se haverá ou não um acordo entre Epifaniy e Onufriy diante de uma possível reunificação eclesial da ortodoxia ucraniana (até agora, a única coisa que os confrontava era a sua posição de subordinação em relação a Moscovo), mas parece que estamos diante de uma mudança irreversível e Kirill, que tanto denegriu o que entendia como um “cisma” sombrio provocado por Bartolomeu (chegou a acusá-lo formalmente disso numa carta recente ao Conselho Mundial de Igrejas), perdeu toda a influência sobre uma Igreja na qual vê “a pia baptismal” da Ortodoxia Russa.
Nesta ocasião, o patriarca usou um tom diplomático e, como afirmou na sua homilia de Domingo, dia 29, na Catedral de Cristo Salvador em Moscovo, assegurou que compreendem “perfeitamente o sofrimento actual da Igreja Ortodoxa Ucraniana” e entendem que “Sua Beatitude, o Metropolita Onufriy e o seu episcopado devem agir da maneira mais sábia possível para não complicar a vida dos seus fiéis”.
É claro que, embora sem citar ninguém especificamente, Kirill acrescentou que nunca irão alcançar o seu objectivo aqueles que procuram “dividir” e “destruir a unidade espiritual” das Igrejas russa e ucraniana.
Propagação de uma “heresia”
A crise dentro da ortodoxia eslava parecia ter passado de um ponto sem volta quando, há uns dias e com o apoio explícito de Epifaniy, que partilhou a resolução nas suas redes, o Conselho da Igreja Ortodoxa Ucraniana veio formalmente solicitar a Bartolomeu que retirasse o status de Kirill como patriarca, culpando-o por “interferir” nos seus “assuntos internos” e por “propagar a heresia de uma doutrina étnico-racial baseada na ideologia do «mundo russo»”, entendendo, em suma, que promoveu um “cisma”.
Em declarações à RT1, o patriarca de Constantinopla, embora não tenha respondido a esse pedido específico de dezenas de padres ortodoxos ucranianos, reconheceu que Kirill havia “defraudado” aqueles que esperavam uma condenação unânime da invasão de Putin dentro da Ortodoxia.
Além disso, reconheceu que se pergunta “como se justificará à sua consciência”. Por fim, também lamentou o facto que na sua opinião está na base de tudo: “A Igreja Russa cobiça a primazia de Constantinopla”.
Artigo de Miguel Ángel Malavia, publicado em Vida Nueva Digital a 30 de Maio de 2022.
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