Arquidiocese de Braga -

27 maio 2022

Nadia Coppa: “A sinodalidade na Igreja local é urgente”

Fotografia DR

DACS com Vida Nueva Digital

A nova presidente da União Internacional dos Superioras Gerais é a voz de mais de 650.000 religiosas.

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No início de Maio, a Assembleia Geral da União Internacional das Superioras Gerais (UISG), órgão que reúne mais de 1.900 líderes de congregações religiosas femininas às quais pertencem cerca de 650.000 freiras, elegeu a italiana Nadia Coppa como a sua nova presidente.

Superiora Geral das Adoradoras do Sangue de Cristo desde 2017, Coppa explica em entrevista ao Vida Nueva o que, na sua opinião, é a “peculiaridade” da vida religiosa: “Ser o colo da Igreja para acolher as várias formas de vulnerabilidade”.

Assegura que o compromisso da UISG com a intercongregacionalidade não vem de “uma necessidade”, mas como resultado de “um processo de amadurecimento da consciência”, e denuncia a urgência de abrir “caminhos de sinodalidade” em todas as Igrejas.

 

Porque acha que a escolheram precisamente a si?

Quando se desenvolveu o processo de discernimento para a nomeação do novo Conselho da UISG, algumas irmãs expressaram que eu poderia ser uma novidade pela minha idade, experiência e formação. Algumas irmãs queriam que fosse aberta uma nova etapa, mantendo a continuidade com os passos que já tinham sido dados. Muito foi feito na UISG durante o último triénio e agora parece que algo novo está a abrir-se, seguindo o diálogo e a escuta recíproca. Estou muito grata pela eleição e pelos temas discutidos na assembleia plenária, com indícios de grande novidade e abertura. Pessoalmente, estou muito animada pelas orientações que foram feitas e pela declaração assinada por todas nós, líderes de congregações religiosas femininas, para abraçar a vulnerabilidade e estarmos abertas aos caminhos sinodais. É algo com o qual estou profundamente envolvida. A sinodalidade é um estilo de vida que nos encoraja a acolher a diversidade, a crescer em comunhão e a abrir-nos ao enriquecimento que a intercongregação implica. A eleição representa para mim uma novidade que vem depois do trabalho realizado na minha congregação, as Adoradoras do Sangue de Cristo, e na constelação da qual fui delegada, onde houve um dinamismo muito bonito. As constelações são as comunidades geográficas nas quais nos organizamos na UISG e que estão espalhadas pelo mundo.

 

Que novidade é essa que supõe? Quem é Nádia Coppa?

Tenho 49 anos e, desde 2017, sou a superiora geral da minha congregação, à qual prestei serviço ao nível da administração e do Conselho Geral nos últimos 12 anos. Tenho uma experiência particular de ministério, já que durante 13 anos trabalhei numa comunidade para recuperar pessoas que sofriam de dependências patológicas. Foi uma experiência humana e espiritual muito enriquecedora, onde lidei com pessoas em estado de vulnerabilidade muito forte, o que me permitiu crescer como mulher, como mulher consagrada e como adoradora. Ali intuí a peculiaridade da vida religiosa: ser o colo da Igreja para acolher as diversas formas de vulnerabilidade. Lá descobri situações que tocam a nossa realidade de consagradas a partir da vulnerabilidade, que é uma oportunidade de gerar vida. Essa experiência é o que agora trago para a UISG, onde quero partilhar a nossa missão de maneira concreta e eficaz com outras irmãs e superioras gerais. Somente quando descobrimos a vulnerabilidade, descobrimos a humanidade e podemos gerar vida nas pessoas que encontramos. Nestes anos aprendi a ouvir e a dar espaço aos outros. Isso tornou-me a pessoa que sou: alguém disponível para os outros e disposta a criar redes e relações, estar em comunhão com todos. Sou uma pessoa que ama muito a vida religiosa, consagrada há 27 anos e que, desde as origens da minha vocação, sempre senti que somos verdadeiramente uma semente lançada nos sulcos da história para dar o fruto do génio feminino, que é o acolhimento e a vida dada aos outros sem condições. Se, como religiosas, descobrirmos este grande valor, estaremos abertos aos caminhos sinodais.

 

Que funções é que a Assembleia Plenária da UISG atribuiu ao novo Conselho?

Um tema que sempre acompanhou a assembleia é a sinodalidade, a ideia de caminhar juntas na Igreja e com a Igreja. Tanto como consagrada, como ao nível de minha congregação e na UISG, já iniciamos um caminho muito significativo nestes últimos anos, colaborando com vários dicastérios vaticanos, como a Congregação para os Institutos dos Consagrados Vida e Sociedades de Vida Apostólica (CIVCSVA) e o Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral. Há projectos que a UISG desenvolveu em colaboração com outras organizações, como a Plataforma Laudato si', e há outras experiências que queremos continuar a promover. Refiro-me a alguns projectos que desenvolvemos há anos, como o Talitha Kum, em que apoiamos as vítimas de tráfico de seres humanos, ou a iniciativa de acolhimento e integração de migrantes que está a ser desenvolvida numa comunidade da Sicília. São pequenos grandes projectos que continuamos a apoiar e em que colaboram outras instituições. Temos também uma comissão conjunta com a União dos Superiores Gerais (USG) dedicada ao Cuidado e Protecção, que promove a salvaguarda da pessoa e visa favorecer a protecção contra várias formas de abuso, incluindo o abuso espiritual. Esta comissão quer ajudar a encontrar caminhos e processos concretos de consciencialização e formação na vida religiosa.

 

Porque considera tão importante neste momento que a UISG tenha em conta a vulnerabilidade?

Vivemos uma época de grandes desafios. A pandemia atingiu-nos a todos profundamente, perdemos muitas irmãs nas nossas congregações. O coronavírus trouxe uma mudança profunda, de forma que a nossa vida já não é a mesma. Experimentamos vulnerabilidade nos nossos sistemas políticos e económicos, bem como na manutenção da paz. Não podemos esconder e pensar que a vida religiosa é alheia a essa realidade, pois está no meio da terra. A Assembleia Plenária foi o espaço concreto para tomar consciência da vulnerabilidade, que somos líderes vulneráveis, chamados a acompanhar essa vulnerabilidade das nossas irmãs e das nossas congregações. Se não a abraçarmos, não seremos capazes de vivenciá-la como uma oportunidade. Nós abraçamo-la para construir um espaço de crescimento e participação. Agir como Jesus e criar um espaço generativo.

 

Qual é a contribuição que a UISG está a dar ao caminho sinodal?

Queremos continuar a promover a espiritualidade da escuta de forma profunda, criando espaços para acolher a riqueza da diversidade. Isto requer um estilo de vida humilde, que permita acolher o outro com o coração aberto. Sem humildade, não há escuta verdadeira. O próprio Papa, na audiência que nos concedeu no dia 5 de Maio, pediu que usássemos o coração para interceptar situações de vulnerabilidade. Devemos ser mulheres presentes onde a sociedade nos chama e agir com compromisso. Queremos sustentar a espiritualidade do diálogo. Para isso, a palavra “juntos” é a chave: devemos caminhar juntos e estabelecer um diálogo gerador que nasce da consciência de que os outros têm sempre uma riqueza. Por isso quisemos comprometer-nos com a espiritualidade do cuidado, definida na Assembleia Plenária. A atenção ao outro deve levar-nos a cuidar dos outros, mas começando antes de tudo pela relação com Deus e connosco. Essa ideia de cuidado tem um impacto significativo na Igreja, pois significa abrir-se para uma atenção profunda aos outros, especialmente às pessoas mais vulneráveis. Se sentirmos que a Terra é a nossa Casa Comum, levaremos a sério o cuidado da Criação e da própria vida, desde a sua origem até à morte. Francisco iluminou-nos muito a esse respeito, lembrando-nos que a qualidade da nossa presença não depende do que fazemos, mas de como o fazemos.

Entrevista de Darío Menor, publicada em Vida Nueva Digital a 27 de Maio de 2022.