Arquidiocese de Braga -

16 maio 2022

Vaticano repete ofertas de mediação enquanto guerra inflama divisões religiosas

Fotografia CNS/Thomas Peter/Reuters

DACS com The Tablet

Cardeal Pietro Parolin admitiu que parece haver “pouca esperança de uma conclusão consensual para a guerra”.

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O secretário de Estado do Vaticano alertou que uma escalada da guerra na Ucrânia ameaçaria “a destruição de toda a humanidade”.

Falando na quarta-feira durante uma visita a Zagreb por ocasião dos trinta anos de relações diplomáticas entre a Croácia e a Santa Sé, o cardeal Pietro Parolin reiterou a disposição do Papa de mediar entre os combatentes, embora “de momento haja pouca esperança de que uma conclusão consensual da guerra possa ser alcançada”.

O Cardeal Parolin encontrou-se com os bispos croatas e proferiu a homilia numa missa na capital, onde citou o Beato Alojzije Stepinac, arcebispo de Zagreb durante a Segunda Guerra Mundial, como testemunha de Cristo diante das trevas:

“Nestes tempos de guerra na Europa vale a pena recorrer à sua intercessão. Hoje, como ele então, estamos diante do mal que nasce no coração dos homens e tende a ocupar mentes e almas”.

Stepinac é uma figura popular entre os católicos croatas e considerado um mártir do regime comunista da Jugoslávia. Após a guerra, foi condenado por colaboração com o regime fascista de Ustaše que governou a Croácia entre 1941-1945 e foi preso. O seu histórico durante a Segunda Guerra Mundial, o seu julgamento e condenação e a sua posterior beatificação ainda dividem opiniões.

O Vaticano foi um dos primeiros estados a estabelecer o reconhecimento da Croácia depois de ter declarado independência da Jugoslávia a 25 de Junho de 1991. Estabeleceram relações diplomáticas formais em Fevereiro do ano seguinte.

Foram feitas comparações entre as condições nos Balcãs após o colapso da Jugoslávia e a situação actual na Ucrânia, onde a guerra acirrou as tensões religiosas.

Os cristãos ortodoxos leais ao patriarcado de Moscovo são suspeitos de simpatizar com a Rússia. O Guardian deu conta esta semana de acusações de colaboração contra um padre da Igreja alinhada a Moscovo na cidade de Borodyanka. Outro clérigo da Igreja Ortodoxa Ucraniana independente afirma que o padre Viktor Talko foi cúmplice na remoção de civis ucranianos para a Bielorrússia quando a cidade estava sob ocupação russa.

O padre Vitaliy Novak, padre católico romano e presidente da Depaul Ucrânia, disse que a Ucrânia se deve reconstruir mesmo enquanto os combates continuam, e comparou as condições com as dos Balcãs na década de 1990. Disse ao The Tablet que estava a aproveitar as suas experiências na Sérvia enquanto trabalhava nos esforços de ajuda da caridade na Ucrânia.

“Estamos a ajudar as pessoas a voltarem às suas vidas”, disse durante uma visita rápida a Londres para o evento “Brave Ukraine” a 5 de Maio, dirigido por Volodymyr Zelenskiy via vídeo e com a presença de Boris Johnson e Sir Keir Starmer. Descreveu ter feito 20.000 km com o seu carro enquanto fazia entregas com ajudas em todo o país.

O padre Novak descreveu a celebração da Páscoa ortodoxa na sua cidade natal de Kharkiv, onde uma entrega de trigo da Depaul permitiu que os cidadãos assassem os seus bolos tradicionais para a festa.

“O que nos pode impedir de celebrar a Páscoa? É o mais poderoso dos factos, a vitória da vida sobre a morte”, disse. “Temos uma grande experiência de vida e morte agora”.

Descreveu a sua surpresa com o tamanho da sua recepção no “Brave Ukraine”, onde a Depaul era a única organização de ajuda representada: “Não esperava tanta atenção, estou grato. Todo o povo ucraniano está agradecido, nem acreditam que as pessoas aqui se lembram deles”.

O ministro dos Negócios Estrangeiros do Vaticano, o arcebispo Paul Gallagher, deve visitar Kiev na próxima semana. Falando na televisão italiana na quinta-feira, disse que a Santa Sé reconhece o direito da Ucrânia de se defender, mas que uma paz negociada continua a ser a prioridade.

Observando a dimensão religiosa dos conflitos, disse que a Igreja Ortodoxa Russa luta para se diferenciar da posição do governo russo, mas que o Papa Francisco ainda deseja conversas.

“Para o Papa, o diálogo ecuménico é uma prioridade, mesmo que de momento o encontro com o patriarca Kirill não pareça oportuno, porque não estão reunidas as condições adequadas. Mas o diálogo vai para frente”.

Artigo de Patrick Hudson, publicado no The Tablet a 13 de Maio de 2022.