Arquidiocese de Braga -

17 março 2022

Sudão do Sul começa a preparar-se para visita papal histórica em Julho

Fotografia

DACS com La Croix

O Papa Francisco fará uma visita de 5 a 7 de Julho à nação mais jovem do mundo, uma viagem há muito desejada que foi adiada pela violência política.

\n

Começaram os preparativos para a histórica visita do Papa Francisco ao Sudão do Sul, uma viagem há muito desejada que foi adiada em várias ocasiões até agora por causa da violência e instabilidade política na nação mais jovem do mundo.

“Será um grande momento para todos todos do Sudão do Sul, que se reunirão pela paz e pela reconciliação", disse o arcebispo Stephen Ameyu, de Juba, na capital.

A Igreja Católica criou um comité de quatro pessoas que trabalhará em colaboração com o governo para preparar a visita do Papa de 85 anos.

“Como nação e como Igreja, sentimo-nos honrados e felizes com a visita”, disse o arcebispo a 3 de Março, quando o Vaticano fez o anúncio oficial de que Francisco finalmente poderia visitar o Sudão do Sul, um país sem litoral no centro-leste de África, fundado em 9 de Julho de 2011.

“Esperamos que o Santo Padre nos encoraje a todos a avançar no caminho do diálogo, da paz e da justiça para a consolidação da paz no país”, disse o arcebispo Ameyu, de 58 anos, que assumiu a liderança da Igreja em Juba há apenas dois anos.

Apontou ainda que a visita papal também incluirá uma característica ecuménica significativa.

“Ao mesmo tempo, o arcebispo de Canterbury e o moderador da Igreja Presbiteriana da Escócia também estarão presentes durante a visita ao Sudão do Sul", disse.

 

As condições para uma visita apostólica

O Papa Francisco realizou um dos actos mais marcantes do seu pontificado em Outubro de 2019, quando reuniu os dois líderes rivais do Sudão do Sul num encontro no Vaticano.

Depois de um “retiro espiritual” de 24 horas na sua Residência Santa Marta, ajoelhou-se para beijar os pés dos dois políticos e pediu que se reconciliassem.

Desde esse gesto comovente, há mais de dois anos, estão em andamento planos para uma visita papal ao país.

Mas a Santa Sé disse que uma condição crucial tinha que ser cumprida antes que tal viagem pudesse acontecer – as facções rivais tinham que formar um governo de unidade nacional. Isto já aconteceu.

O líder da rebelião do Sudão do Sul, Riek Machar, concordou com os termos de um governo de unidade nacional que foram propostos a 20 de Fevereiro de 2019 pelo presidente Salva Kiir.

Um ano depois – a 22 de Fevereiro de 2020 – Machar tomou posse como primeiro vice-presidente. A pandemia de Covid-19 e outros compromissos proibiram o Papa de visitar o Sudão do Sul mais cedo.

 

Violência em queda desde 2018, mas nunca extinta

O conflito entre os dois políticos cristãos – Kiir, católico, e Machar, protestante – mergulhou o país numa sangrenta guerra civil que se estendeu de 2013 a 2018 e fez quase 400.000 mortos.

A Comunidade de Sant'Egidio, com sede em Roma, trabalhou durante vários anos para facilitar as negociações de paz e, em 2018, o grupo católico conseguiu com que as partes em conflito assinassem um acordo em Adis Abeba.

A violência diminuiu significativamente desde que o acordo foi firmado, mas não parou completamente o conflito.

As Nações Unidas relataram no final do mês passado que pelo menos 440 civis foram mortos entre Junho e Setembro de 2021 em confrontos entre as duas facções em guerra.

 

Nomeações complicadas de bispos

O arcebispo Ameyu também agradeceu ao Papa Francisco pelas muitas nomeações de bispos neste país onde a maioria das dioceses tinha sede vacante.

No entanto, essas nomeações foram muitas vezes marcadas por controvérsias e turbulências.

A nomeação do próprio arcebispo para Juba a 12 de Dezembro de 2019 foi marcada por polémicas e até violência.

Alguns dos padres da Arquidiocese opuseram-se ferozmente à mudança e juraram que nunca permitiriam que Ameyu fosse instalado.

O Vaticano teve que enviar a Juba o Mons. Visvaldas Kulbokas, da Congregação para a Evangelização dos Povos, para supervisionar a tomada de posse do novo arcebispo.

E a nomeação de um novo bispo no ano passado para a Diocese de Rumbek, no centro do Sudão do Sul, quase se transformou num drama. O Vaticano anunciou a 8 de Março de 2021 que o Papa havia nomeado o padre missionário comboniano Christian Carlassare como o próximo líder da diocese. O italiano de 45 anos deveria ser ordenado bispo a 23 de Maio do mesmo ano.

Mas, nas primeiras horas da manhã de 26 de Abril, dois homens armados balearam quatro vezes o bispo eleitona sua casa em Rumbek. Sobreviveu e agora está quase totalmente recuperado.

O homem que foi acusado como o principal culpado no ataque é o padre John Mathiang, o ex-administrador diocesano. A ordenação episcopal do bispo eleito Carlassare acontecerá agora a 25 de Março, daqui a pouco mais de uma semana.

Artigo do La Croix, publicado a 16 de Março de 2022.