Arquidiocese de Braga -
16 março 2022
Arcebispo afirma que o Papa está a ser impedido de falar com Putin
DACS com Crux
Gudziak fez os comentários durante uma conferência de imprensa a 15 de Março ao lado de Oksana Markarova, embaixadora da Ucrânia nos Estados Unidos.
“Estou convencido de que [o papa Francisco] fez todos os esforços para falar com Putin e tenho algumas informações de que não obteve respostas aos seus gestos em relação ao patriarca Kirill, mas acho que isso vai mudar”, disse Gudziak, líder da Arquieparquia Católica Ucraniana da Filadélfia. “Espero que a liderança da Igreja Russa se abra e ouça o Evangelho”.
Gudziak fez os comentários durante uma conferência de imprensa a 15 de Março ao lado de Oksana Markarova, embaixadora da Ucrânia nos Estados Unidos. Falaram sobre o estado da sua nação natal, as urgentes necessidades militares e humanitárias e outras acções que os EUA e outras nações aliadas podem tomar em relação a sanções e política interna de refugiados.
Gudziak disse que o seu conhecimento do desejo do Papa Francisco em falar com Putin veio de uma conversa que os dois partilharam cinco semanas antes da invasão russa. Embora a relutância do Papa Francisco em mencionar a Rússia e Putin pelo nome tenha começado desde que a invasão foi questionada, Gudziak elogiou o Pontífice “por fazer tudo o que pode nos bastidores”, citando a sua recente visita sem precedentes à Embaixada da Rússia.
Durante a conferência, Gudziak também reforçou as suas recentes críticas a Kirill pelo seu papel na invasão. O Arcebispo criticou Kirill várias vezes. Apontou particularmente para o Patriarca dar um ícone de Maria ao líder da Guarda Nacional Russa enquanto a invasão estava a acontecer, chamando-os de “criminosos de guerra”.
“É muito triste que hoje a Igreja Ortodoxa Russa e a sua liderança estejam com o presidente Putin”, disse Gudziak. “Ele representa esta guerra. É contra a defesa da inocência”.
Uma nação que precisa de apoio
Gudziak ligou a guerra na Ucrânia com a mensagem bíblica de David contra Golias, afirmando que se pode “ter a certeza de que o Senhor estará com as pessoas que amam”. No entanto, da mesma forma que os traços físicos de David eram inferiores aos de Golias, Gudziak destacou a realidade da guerra: que a Ucrânia está em desvantagem em recursos de 10 para 1.
É precisamente por isso que Gudziak disse que a questão do momento é como o mundo continuará a ajudar.
“Houve uma resposta massiva, mas para ser franco: de que adianta alimentar os estômagos destas crianças, destas mulheres, destas pessoas nas cidades se as suas mentes não estão bem? Se os seus prédios serão transformados em escombros?”, questionou Gudziak. “É preciso haver uma defesa massiva e uma ajuda humanitária massiva”.
Markarova fez um apelo para apoio militar.
“Neste momento, as forças armadas ucranianas, o presidente Zelensky, homens, mulheres, todos na Ucrânia estão muito resolutos e sabemos que não nos iremos render”, disse Markarova. “Lutaremos pela nossa casa e tudo o que precisamos de todos os nossos parceiros é de um aumento imediato do apoio militar para podermos sustentar a luta”.
Markarova acrescentou que fornecer mais armas e ferramentas aos soldados ucranianos é a principal prioridade. Observou ainda que as armas que impedirão os ataques aéreos russos são especialmente críticas “para proteger a Ucrânia deste ataque brutal que estão a fazer a partir do céu”.
A 12 de Março, o Gabinete do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos tinha documentado 1.663 vítimas civis na Ucrânia: 596 mortos e 1.067 feridos. Muitas das vítimas foram resultado de ataques aéreos russos.
A segunda maior necessidade identificada por Markarova é a assistência humanitária dentro da Ucrânia, especialmente nas cidades cercadas pelas forças russas. Markarova pediu aos líderes mundiais que trabalhem juntos para forçar a Rússia a permitir corredores humanitários. E disse ainda que mais sanções são essenciais.
“Temos que isolar completamente a Rússia. Eles não podem estar em nenhuma organização internacional”, disse Markarova. “Não se podem sentar à mesa a menos que parem com esta agressão brutal, cessem fogo e saiam do nosso país”.
Gudziak destacou a necessidade de os EUA estabelecerem uma política e um processo para acolher os refugiados ucranianos, se assim o pretenderem. O arcebispo disse que os EUA estão “muito atrás dos países europeus” na criação de uma política de refugiados. Indicou que os seus gabinetes receberam "incontáveis telefonemas de pessoas que estão dispostas a receber refugiados, mas não conseguem vistos”.
O governo Biden sinalizou a disposição de aceitar refugiados ucranianos, embora não tenha mencionado como é que isso poderia acontecer, ou se havia um plano para fazê-lo. O número de refugiados ucranianos desde o início da invasão ultrapassou três milhões a 15 de Março, segundo dados da ONU. 3.000, 381 foi o total relatado.
“Isto precisa de ser abordado com muita clareza”, disse Gudziak.
Gudziak, que é o presidente da Universidade Católica Ucraniana em Lviv, pediu às universidades americanas que também se cheguem à frente.O arcebispo pediu a criação de programas de bolsas para estudantes ucranianos que já estão nos EUA que estão potencialmente deslocados do seu país de origem como resultado da invasão, e programas adicionais para estudantes que vêm para os EUA como refugiados.
Gudziak, como tem feito mesmo antes do início da invasão, também sublinhou a importância de as pessoas se manterem informadas e reconhecerem a verdade. Referiu as acções dos três últimos presidentes dos EUA e como as coisas poderiam ser diferentes hoje em dia se eles tivessem abordado a Rússia de forma diferente naquela altura.
O arcebispo citou o presidente George Bush em 2001 declarando Putin “muito directo e confiável”; Barack Obama a ridicularizar Mitt Romney em 2012 depois de Romney dizer que a Rússia era o maior desafio geopolítico para os EUA, e o presidente Donald Trump no segundo dia da invasão russa apelidando-a de um “acto de génio”.
“Este tipo de postura ingénua, ignorante ou intencionalmente negativa é influenciadora”, disse Gudziak. “É muito importante entender qual é a verdade no terreno e hoje essa mensagem está a ser divulgada lentamente, mas ainda são muitos fornecedores de desinformação e isto precisa de ser combatido.”
Avaliando as circunstâncias actuais, Markarova disse o término da guerra depende inteiramente de Putin.
“Não há nada que a Ucrânia tenha feito para iniciá-la e não há nada que possamos fazer para realmente impedi-los de nos atacarem. Depende deles”, disse. “Temos um ditado na Ucrânia que diz que se a Rússia parar os tiroteios, a guerra vai parar. Se a Ucrânia parar de se defender hoje, o nosso país irá desaparecer”, respondeu.
Artigo de John Lavenburg, publicado no Crux a 16 de Março de 2022.
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