Arquidiocese de Braga -
11 março 2022
Igreja espanhola recolhe 506 casos de abuso: “Não queremos lobos disfarçados de cordeiros”
DACS com Vida Nueva Digital
O Secretário Geral do Episcopado, Luis Argüello, revela pela primeira vez dados sobre a pederastia eclesial, além da auditoria externa que está em curso.
Esta é a primeira vez que estes dados são compilados, para além do relatório pedido à empresa Cremades&Calvo Sotelo.
Argüello fez referência a esta questão durante a conferência de imprensa por ocasião da reunião da Comissão Permanente dos bispos que se reuniu esta semana em Madrid.
“Conhecemos de perto o drama de 506 pessoas a quem temos oferecido, oferecemos e ofereceremos reconhecimento e reparação”, afirmou.
Esses casos incluem os 251 casos recebidos pelo jornal El País, alguns conhecidos e outros novos, explicou Argüello.
Casos em Espanha e Roma
Dos 506 casos, mais de 300 estariam prescritos com 103 perpetradores já falecidos, segundo o secretário-geral, que explicou como a Igreja analisa cada caso, apesar de não poderem ser abordados do ponto de vista civil.
Da mesma forma, esclareceu que as exigências incluem sacerdotes, religiosos e leigos em diferentes momentos do século passado.
Paralelamente, Argüello lembrou também que a Santa Sé já notificou um total de 220 casos estudados até 2020 na Congregação para a Doutrina da Fé.
Em 2021 outros 14 novos casos teriam chegado a partir do Vaticano, o que não significa que se refiram a acontecimentos deste ano.
De qualquer forma, esclareceu possíveis lacunas entre alguns dados e outros com “contas que podem ser feitas mais de uma vez”.
“Daí a necessidade de uma auditoria”, comentou.
A verdade
“Queremos que a verdade brilhe para que não haja lobos que se disfarcem de cordeiros”, sublinhou Argüello, ao condenar “a permanente suspeita” que pode surgir daqueles que rotulam a Igreja como um “lugar inseguro para crianças, adolescentes e jovens”.
Além disso, confirmou que foram abertos 202 gabinetes dedicados ao abuso na Igreja espanhola, entre os 60 dos episcopados – alguns conjuntos – e os 121 pertencentes a institutos de vida consagrada, para atenção às vítimas e elaboração de protocolos de prevenção.
A nova Comissão
Sobre a aprovação da Comissão de Abuso Infantil pelo Congresso, (…) esclareceu que haverá um “espírito de colaboração” que incluirá também a abertura dos arquivos eclesiais, se necessário. “Somos os mais interessados em saber a verdade”, insistiu.
“Não podemos negar que, sendo uma iniciativa que não abrange todas as áreas da sociedade, reconhecendo a responsabilidade moral única da Igreja, devemos esperar por aquilo com que nos depararmos”, salientou sobre um contacto mais ou menos imediato com o próprio Ángel Gabilondo, Provedor de Justiça.
“Da proposta real que nos é feita, o princípio da colaboração real está na própria base da relação entre a Igreja e a Sociedade Democrática do ordenamento jurídico vigente”, explicou.
“Temos que conhecer o objectivo, a proposta e o pedido de colaboração”, esclareceu.
Competências do Provedor
Sobre o assunto, esclareceu que a proposta não de lei atribui funções à comissão que estariam “fora das competências do Provedor de Justiça”, como auditar a Igreja.
“A Igreja não é um poder público, não é uma administração pública”, concluiu.
De qualquer forma, demonstrou uma certa tranquilidade porque finalmente foi adiante a proposta do PSOE e do PNV e não a promovida pela United We Can, que procurava uma comissão parlamentar.
Para o porta-voz dos bispos, essa alternativa levaria a cair numa “utilização partidária de uma questão de gravidade singular”, tornando-se num “objecto de transacção entre os partidos políticos”.
Investigação aberta
“Desejamos o que se pode fazer dentro da Igreja para que esta investigação, que num órgão tão importante como o Congresso dos Deputados se concentra exclusivamente na Igreja, mas que infelizmente afecta muitas áreas da sociedade”, continuou no seu discurso.
Por outro lado, o também auxiliar bispo de Valladolid descartou que na próxima Assembleia Plenária de Abril os bispos escutem os porta-vozes dos afectados.
“Isso não significa que não queremos ouvir as vítimas”, destacou, ao defender que há “encontros com as vítimas que já ocorreram nas suas dioceses e nesta Casa da Igreja”.
Artigo de José Beltrán, publicado em Vida Nueva Digital a 11 de Março de 2022.
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