Arquidiocese de Braga -

8 março 2022

Bispos alemães caminham com cuidado no Caminho Sinodal

Fotografia HARALD OPPITZ/KNA

DACS com La Croix International

Após a votação de uma série de propostas que sugerem mudanças profundas no Caminho Sinodal, os bispos alemães realizam esta semana a sua Assembleia Plenária.

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O Caminho Sinodal, lançado pela Igreja Católica na Alemanha em Dezembro de 2019, está a gerar grandes expectativas após as últimas revelações de escândalos de abusos sexuais. Organizado pela Conferência Episcopal Alemã e pelo Comité Central dos Católicos Alemães (ZdK), a principal organização leiga, este processo de reforma sobre a organização e o futuro dos católicos na Alemanha parece ser apoiado pela maioria dos 67 bispos do País.

A última sessão do Caminho Sinodal, realizada de 3 a 5 de Fevereiro em Frankfurt, mostrou essa tendência. Dos 14 textos discutidos, três foram aprovados em segunda leitura e obtiveram a necessária maioria de dois terços entre os 230 membros da assembleia sinodal e entre os 67 bispos.

 

Uma dúzia de bispos vota contra

O primeiro texto propõe ao Papa Francisco um maior papel de decisão dos leigos nos órgãos de governo da Igreja, com base no modelo de “uma sociedade democrática e aberta”.

O segundo texto defende a participação dos leigos na escolha dos bispos, enquanto o terceiro texto – mais teológico – pede que as fontes de verdade da Igreja sejam estendidas à “ciência teológica”, “aos sinais dos tempos” e “ao sentido da fé para o povo de Deus”.

Nas várias votações, um punhado de bispos absteve-se enquanto uma dúzia de outros votou contra. Entre aqueles que votaram “não” estavam o bispo Rudolf Voderholzer de Regensburg, o bispo Stefan Oster de Passau, o bispo Wolfgang Ipolt de Görlitz e o bispo auxiliar Florian Wörner de Augsburg.

Das vozes dissidentes, o bispo Voderholzer é o mais proeminente nos média.

Em entrevista ao La Croix em Setembro de 2021, disse que a crise dos abusos sexuais estava a ser “instrumentalizada” por alguns para “reorganizar a Igreja Católica no modelo das ordenanções da Igreja Protestante, onde a palavra «sínodo» tem um significado diferente e significa uma espécie de parlamento da Igreja”.

 

“Em minoria”

“A sopa do caminho sinodal é cozinhada num fogo alimentado pela indignação contra os abusos sexuais”, disse Voderholzer.

Voderholzer reconheceu que estava “em minoria” na conferência dos bispos, mas disse estar “perplexo” pela lacuna entre as opiniões do Caminho Sinodal e a posição do Vaticano.

O bispo de 62 anos, que dirige a Diocese de Regensburg desde 2012, ganhou mais visibilidade como o principal crítico do Caminho Sinodal desde que o Cardeal Rainer Maria Woelki, de Colónia, tem sido cada vez mais criticado pela sua má gestão dos casos de abuso sexual.

Woelki, de 65 anos, apresentou ao Papa a sua renúncia a 2 de MMarço pela segunda vez. Disse repetidamente que o processo sinodal poderia levar a uma séria “divisão” na Igreja e não participou a sessão de Fevereiro.

“Não sei que papel é que ele poderá desempenhar no processo sinodal”, disse Claudia Lücking-Michel, membro do ZdK, que dirige um dos quatro fóruns do processo sinodal.

 

“Uma forma de vida cristã que não é politizada”

Além desses poucos bispos que são resolutamente contra as reformas, a maioria dos “conservadores” permanece discreta.

“Eles sabem que as suas posições estão em minoria nas suas próprias dioceses”, observou Michael Seewald , professor da Faculdade de Teologia Católica da Universidade de Münster.

“A maioria dos bispos conservadores observa uma contenção que tem as suas vantagens. Permite-lhes preservar uma certa forma de vida cristã que não é politizada. Essa postura também é partilhada por alguns reformadores”, afirmou.

Os “reformadores” também não apoiam necessariamente todas as propostas do caminho sinodal.

É o caso de Dom Peter Kohlgraf de Mainz, que se opõe a uma maior participação dos leigos na nomeação dos bispos. Portanto, não implementará esta medida na sua própria diocese, porque cabe ao Ordinário local decidir se implementa ou não medidas que não são da alçada da Igreja universal.

Outros assuntos, como a possibilidade de ordenar mulheres, exigem necessariamente a aprovação do Papa.

E em questões candentes como esta, os bispos alemães que desconfiam do Caminho Sinodal têm uma vantagem: têm muitos apoiantes na Cúria Romana.

“Isto é um facto”, diz Claudia Lücking-Michel.

“Ao contrário dos conservadores, os reformistas têm poucos apoiantes em Roma. Mas isso não deve impedi-los de fazer propostas”, insistiu. “O importante é que cheguem a Roma”.

 

Artigo de Delphine Nerbollier, publicado no La Croix International a 7 de Março de 2022.