Arquidiocese de Braga -

16 fevereiro 2022

Vítimas exigem inquérito independente aos abusos na Itália

Fotografia Gregorio Borgia/AP

DACS

Na Itália, os padres ainda são vistos como “sagrados e intocáveis” enquanto as vidas das vítimas “têm sido devastadas de formas indizíveis”.

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Esta terça-feira, um conjunto de grupos católicos italianos criticou a incapacidade da Igreja na Itália avaliar a sua crise clerical de abusos sexuais e pediu um inquérito nacional independente, à semelhança dos que estão a ser feitos noutros países europeus.

Numa conferência de imprensa no dia 16 de Fevereiro, Ludovica Eugenio, directora do semanário digital, Adista, que cobre notícias católicas e religiosas, afirmou que desde que a equipa de investigação Spotlight, do Boston Globe, revelou a extensão dos abusos sexuais clericais nos Estados Unidos, “tem sido cada vez mais difícil ignorar o problema”.

Enquanto inquéritos de larga escala e profundidade foram ou estão a ser realizados em países como Portugal, França, Alemanha, Irlanda, Estados Unidos e Espanha, no ‘quintal’ do Papa “não acontece nada”, diz Ludovica.

Na Itália, os padres ainda são vistos como “sagrados e intocáveis” enquanto as vidas das vítimas “têm sido devastadas de formas indizíveis”.

O Adista é um de nove grupos – sete dos quais liderados por mulheres – que se juntaram numa exigência de um inquérito com o lançamento da campanha “Para Além do Grande Silêncio”, que está a ser promovida nas redes sociais com a hashtag #ItalyChurchToo, inspirada pelo movimento mundial #MeToo contra o assédio sexual.

A campanha pretende aumentar a pressão pública tanto na liderança da Igreja Católica como no governo italiano para um inquérito formal, nacional e independente sobre os abusos sexuais cometidos por membros do clero durante as últimas décadas.

Paola Lazzarini, da organização Donne per la Chiesa (Mulheres pela Igreja), pediu na terça o lançamento de uma investigação “assim que possível”, e que esta seja liderada por uma parte independente, com as qualificações necessárias.

Lazzarini também pediu que sejam usados tanto métodos “qualitativos como quantitativos” para análise de documentos, o que vai contra uma actual proposta do presidente da Conferência Episcopal Italiana, o cardeal Gualtiero Bassetti, de Perugia.

Com tanto outros países europeus a levar a cabo inquéritos, os próprios bispos italianos estão a ponderar a ideia, com a decisão a ser tomada depois da eleição do substituito de Bassetti na assembleia da Primavera, em Maio.

Bassetti, cujo mandato termina com a nomeação de um sucessor, insistiu no inquérito qualitativo em vez de quantitativo, e disse que a conferência como um todo, apesar de actualmente dividida no assunto, deve aprovar o inquérito.

A proposta actual iria recolher dados a um novo programa a nível diocesano para a escuta das vítimas, programa esse dirigido pela Conferência Episcopal e por superiores religiosos.

Lazzarini argumenta que, como este programa não é independente, não pode ser uma fonte de dados, e pediu que os arquivos de “todas as dioceses, conventos e mosteiros” sejam abertos de forma a descobrir a verdade, “não importa o quão dolorosa”.

Ele também exigiu compensações para as vítimas e sublinhou a importância de o inquérito ser focado “exclusivamente na realidade dos abusos na Igreja Católica italiana”, para que o retrato seja claro e, do seu ponto de vista, criar um modelo que possa ser replicado em outras instituições educativas.