Arquidiocese de Braga -
22 setembro 2021
Mosteiro de Fahr na Suíça: o Jardim “Laudato Si’”
DACS com Vatican News
A noviça Beneditina Judith Samson é também animadora “Laudato Si’” e explicou à Rádio Vaticano como é que as religiosas beneditinas do mosteiro procuram viver de forma sustentável.
O primeiro Jardim “Laudato Si’” foi inaugurado no Convento de Fahr, a 21 de Maio, dando seguimento à ideia da noviça Judith Samson. Graças a ela, agora os visitantes podem não só apreciar o belo jardim com ervas aromáticas e flores, mas também aprender um pouco mais sobre a Encíclica “Laudato si’”" do Papa Francisco.
A noviça Beneditina Judith Samson é também animadora “Laudato Si’” e explicou à Rádio Vaticano como é que as religiosas beneditinas do mosteiro procuram viver de forma sustentável. “Cada um de nós pode fazer a diferença”, afirma.
Judith Samson, de 43 anos, nascida em Münsterland, na Alemanha, é uma noviça no mosteiro de Fahr, na Suíça, há pouco mais de um ano. O mosteiro de religiosas beneditinas localiza-se nas proximidades de Zurique. Ali, devido à pandemia, a religiosa teve de se submeter a uma quarentena e foi nesse período que nasceu a ideia de transformar o popular jardim do mosteiro, aberto ao público gratuitamente, num Jardim “Laudato Si’”.
Jardim do Prior, Jardim didáctico, Jardim “Laudato Si’”
Judith Samson: O Papa Francisco publicou a Encíclica “Laudato Si’” há seis anos, na qual convocou urgentemente cada um de nós a agir. O jardim é muito importante para os beneditinos de cá, bem como para os beneditinos em geral. Sempre foi importante: primeiro como jardim do Prior, depois como jardim didáctico. Até 2013 havia uma escola de camponeses. Para a Irmã Beatriz, a sustentabilidade sempre foi um factor muito importante, proteger as variedades e insectos, criar pastagens... Aqui estamos num oásis para os turistas que vêm ao Vale do Limmat em grande número, principalmente aos fins-de-semana. Há pessoas de todas as idades: casais, famílias e solteiros. Quando comecei o meu noviciado, estávamos a meio da pandemia de Covid-19. Por isso, tive de fazer a quarentena e o meu quarto dava para o jardim. Vi a multidão de pessoas que ia lá e então pensei, ou melhor, o Espírito Santo falou através de mim: este é o lugar perfeito para levar a mensagem do Papa Francisco às pessoas.
Como é que levou essa ideia adiante?
Judith Samson: Eu já era uma animadora “Laudato Si’”, ou seja, recebi uma formação do Movimento Católico Global pelo Clima que agora se chama Movimento Laudato Si’. Eles oferecem uma formação profunda que permite um conhecimento mais profundo da Encíclica a todos aqueles que se querem comprometer com a divulgação do texto, para que possam agir como multiplicadores no seu próprio ambiente e com os meios à sua disposição. Obviamente, estamos comprometidos com a oração, mas também com acções para o cuidado e a conservação da Criação.
Teve uma ideia para uma acção concreta: transformar o jardim do Mosteiro de Fahr num Jardim “Laudato Si’”. Como é que fez isso concretamente?
Judith Samson: Sugeri à Priora e à comunidade que colocássemos citações da Encíclica em vários lugares do jardim, para que as pessoas tivessem a oportunidade não só de admirar a natureza, mas também de voltar a ter contacto com o Criador. Todos acharam que era uma boa ideia, então começámos a implementá-la.
Havia uma poetisa conhecida no nosso convento, Silja Walter, que viveu aqui com o nome de Irmã Maria Hedwig. Ela inspirou-se muito na Criação que a rodeava neste ambiente. Os seus versos e pensamentos combinam incrivelmente com a “Laudato Si’”. Assim, a Priora pensou que seria uma boa ideia ver se havia algumas citações de Silja Walter que correspondessem às do Papa Francisco. E assim surgiu a ideia de “colocar em diálogo” a Encíclica do Papa Francisco com os versos de Silja Walter.
Pode dar-nos um exemplo concreto desse diálogo entre a poetisa e a Encíclica? Recorda algum verso ou um tema onde Silja Walter teve pensamentos semelhantes aos do Papa Francisco na “Laudato Si’”?
Judith Samson: Bem, naquela época, nos anos 70, a protecção ambiental e a preservação da Criação já eram um tema importante. Ela escreveu muito sobre isso. Por exemplo, “Fastenopfer”, uma grande organização de ajuda internacional aqui na Suíça, encarregou Silja Walter de escrever uma canção para promover o contacto com igrejas e parceiros internacionais, até nos países em desenvolvimento e, ao mesmo tempo, promover a protecção da Criação. Ela escreveu uma canção que dizia: “Deus nos conceda a nós, que somos mornos e mancos, não obstante devermos ser o sal da terra, a graça de conseguir salvar este mundo da decadência”. Acho que isto está muito em sintonia com a preocupação que está hoje no coração do Papa Francisco.
Quais são as reacções dos visitantes, como é que o projecto é acolhido?
Judith Samson: Ainda é um projecto muito novo. Inaugurámos o jardim na sexta-feira antes do Pentecostes, durante a Semana “Laudato Si’”, que encerrou internacionalmente com o evento de Pentecostes, para que o Espírito Santo pudesse continuar a trabalhar e a inspirar-nos. Até agora, vimos que as pessoas estão muito interessadas em ler as placas. Entretanto também já tivemos um feedback positivo do mosteiro das nossas irmãs em Einsiedeln.
Acabou de dizer que, com o fim do Ano “Laudato Si’” e da Semana “Laudato Si’” nem tudo acabou. Precisamos de levar adiante a ideia do Papa Francisco desenvolvida na “Laudato Si’” e devemos continuar a implementando activamente este documento. Para este fim, o Vaticano lançou recentemente uma nova plataforma de acção na Internet. Já tem ideias sobre como contribuir?
Judith Samson: Já estamos a fazê-lo, por exemplo, comprometemo-nos com o grito da terra, ou com a protecção da biodiversidade. No jardim, plantamos conscientemente ervas autóctones e plantas úteis, como ervas medicinais. Não há plantas exóticas. Alugamos a nossa quinta e estamos a convertê-la com os critérios de agricultura biológica. Imprimimos os textos do Jardim “Laudato Si’” em cartões postais, que vendemos na nossa loja do mosteiro. A maior parte dos recursos é destinada a apoiar um projecto da "Fastenopfer" para a reflorestação de florestas de mangais nas Filipinas, que são particularmente importantes para o sustento das famílias dos pescadores locais.
As vinte religiosas do convento partilham um carro, reciclamos o máximo possível, também fazemos muito “upcycling” (reaproveitamento de resíduos) com ideias criativas e geralmente tentamos reduzir o nosso lixo o máximo possível. O leite, por exemplo, é-nos entregue fresco por um agricultor local. Também procuramos comer de acordo com a estação: praticamente comemos apenas frutas do nosso pomar e de vez em quando compramos algumas maçãs. Alguns dos vegetais que comemos também vêm da horta “Laudato Si’”, assim como as ervas aromáticas. Naturalmente, como beneditinas, a espiritualidade ecológica é um dos nossos temas centrais. Incluímos a protecção da Criação já em 2020, por exemplo, no Tempo da Criação em Outubro, na Liturgia das Horas e nas celebrações eucarísticas. A partir do final de Junho haverá visitas guiadas ao Jardim “Laudato Si’” sobre os temas da espiritualidade e da Criação, e juntamo-nos à rede de comunidades contemplativas para o cuidado da Criação.
O que é que as pessoas podem fazer no quotidiano para viver de forma mais consciente e sustentável? Tem algum conselho concreto?
Judith Samson: O que eu gosto particularmente na Encíclica é o que o Papa diz, também em referência a Teresa de Lisieux, sobre os pequenos passos: cada um pode fazer algo no seu ambiente. Ele diz que devemos apenas estar atentos e ser abertos. Por exemplo, no nosso local de trabalho, na nossa família, com os nossos amigos. Reciclar alguma coisa, diminuir um pouco o aquecimento, por exemplo, vestindo-nos com roupa mais quente, economizar conscientemente a água... Todas essas coisas ajudam. São coisas pequenas para nós, mas no geral fazem a diferença. Comprar de forma sustentável de produtores regionais, talvez no mercado, e um ou outro produto do comércio justo e solidário, de acordo com as nossas possibilidades.
Acredito que muitas pequenas coisas criam uma mudança de consciência que gradualmente se tornará cada vez mais automática. Se vivermos a nossa vida com a mente em alerta, veremos onde é possível fazer algo mais, sem nos colocarmos sob pressão. Na minha opinião, basta tomar consciência da situação, começando pelas pequenas coisas, e depois permanecermos abertos, porque as coisas que podemos fazer virão por si. Estou convencida disso.
Artigo de Stefanie Stahlhofen, publicado em Vatican News a 21 de Setembro de 2021.
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