Arquidiocese de Braga -

29 julho 2021

Astrónomo do Vaticano: o Espaço sideral merece cuidado

Fotografia DR

DACS com Vatican News

O Irmão Guy Consolmagno, SJ, astrónomo e Director do Observatório do Vaticano, fala sobre as novas fronteiras espaciais, as viagens espaciais e a necessidade de cuidar da totalidade da nossa casa comum.

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As manchetes dos últimos tempos relataram um aumento na corrida comercial para atrair turistas ao Espaço, criando entusiasmo entre os entusiastas da astronomia e do espaço.

Em Julho, duas empresas espaciais fizeram descolagens e voos suborbitais, demonstrando a possibilidade, para quem pode pagar, da aventura no Espaço sideral. Os voos comerciais regulares estão programados para começarem em 2022, com uma crescente lista de espera de cerca de 600 bilhetes vendidos até agora.

No âmbito da conversa cada vez mais ampla sobre turismo e exploração espacial, Linda Bordoni, da Rádio Vaticano, falou com o Irmão Guy Consolmagno SJ, astrónomo especialista e director do Observatório do Vaticano sobre as implicações das viagens até novas fronteiras e se tal acontecimento poderá levar à necessidade de novas regras em relação ao cuidar do espaço, como nos ensina a Encíclica Papa Francisco Laudato si' a cuidar da nossa casa comum: a Terra.

 

O espaço Sideral, um campo de novas descobertas

O Ir. Consolmagno, um especialista no campo específico da Astronomia planetária, partilhou a sua experiência e o seu amor pela Astronomia, que começou desde a sua juventude.

Explicou que, graças aos avanços da ciência, os humanos são capazes de realmente ir ao espaço e regressar com amostras, sendo que algumas até podem ser examinadas no laboratório do Observatório do Vaticano em Castel Gandolfo, em Roma.

Observou ainda que a sua colecção crescente de mais de mil meteoritos é emocionante de examinar e que, em colaboração com outros cientistas nos Estados Unidos, mede a forma como as rochas mudam fisicamente em temperaturas muito baixas, semelhantes às obtidas no Espaço, para ver como elas cresceram, mudaram e evoluíram ao longo do tempo.

“Isso lembra-nos que o céu azul acima de nós não é uma barreira impenetrável que nos esconde do resto do mundo”, afirmou.

 

Cuidado para com o espaço sideral

O Irmão jesuíta continuou a falar sobre o crescente campo das viagens espaciais, observando que muitos aspectos ainda não foram regulamentados. Afirma que há uma necessidade de regulamentos que “todos possam aceitar e concordar” para que “os satélites não colidam uns com os outros e causem enorme destruição”.

À luz da Encíclica Laudato si’ e dos apelos do Papa Francisco para que cuidemos da nossa casa comum, o Ir. Consolmagno lembra que a palavra grega frequentemente usada para nos referirmos ao mundo é “cosmos”. Explicou que tudo o que está nele – seja a lua, um asteróide próximo da Terra, uma nave espacial acima da órbita da atmosfera, ou o lugar por onde caminhamos todos os dias – é uma criação de Deus que nos foi confiada para tomarmos conta.

Acrescentou ainda que o facto de haver alguma coisa em vez de nada no Universo aponta-nos para a existência de um mistério que só pode ser explicado por um Deus sobrenatural – o Logos – que o criou de uma maneira lógica e bela.

 

Financiamento de viagens espaciais

Respondendo a uma pergunta sobre os enormes recursos injectados nas viagens espaciais e se não poderiam ser usados ​​para alimentar os pobres ou melhor aproveitados, o Ir. Consolmagno reconhece que embora existam outras iniciativas que poderiam beneficiar desse tipo de financiamento, as pessoas são “mais do que animais que precisam de comer” e também precisam de alimentar as suas “almas”.

“Não vivemos só de pão. Portanto, não seria certo negar a um ser humano a hipótese de explorar e satisfazer aquela curiosidade sobre quem é e de onde veio e de que forma é que está numa relação com esta criação”, afirmou.

Para explicar, recordou a história da criação na Bíblia, observando que os primeiros seis dias foram para garantir que houvesse um planeta em que o ser humano pudesse viver. No entanto, “o objectivo final da criação é o Sábado, o dia para contemplar Deus e a criação de Deus”.

“Somos chamados a fazer isso, somos chamados a alimentar os pobres, para que os pobres tenham também oportunidade de contemplar a criação, seja através da ciência ou da arte”, disse.

Partilhando, em jeito de despedida, algumas palavras de sabedoria, o Irmão Consolmagno convidou toda a gente a sair de casa à noite e a passar alguns momentos a contemplar as estrelas e a lua, lembrando que “o mundo é maior do que quaisquer que sejam as preocupações do dia-a-dia”.

Artigo de Linda Bordoni e Pe. Benedict Mayaki, SJ, publicado por Vatican News a 29 de Julho de 2021.