Arquidiocese de Braga -

18 março 2021

Itália: jogadora de voleibol processada por engravidar

Fotografia Benjamin Voros

DACS com Crux

Lara Lugli não planeou gravidez e pouco tempo depois perdeu o bebé. Clube onde jogava está a processá-la por prejudicar a "performance" da equipa.

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Lara Lugli, atleta de voleibol, está a ser processada pelo seu antigo clube por uma gravidez não planeada. 

Virginia Coda, Presidente da Marcha de Itália pela Vida, explicou ao Crux que o caso é ilustrativo de uma sociedade que menospreza as mulheres, particularmente aquelas que são mães.

Em Março de 2019, Lugli, na altura com 38 anos, foi despedida pelo seu clube, o Volley Pordenone, depois de ter informado a equipa de que estaria grávida. Um mês depois, sofreu um aborto.

Pouco tempo depois, informou o clube da perda gestacional e requereu o pagamento pelo mês inteiro que tinha jogado com a equipa antes de perder o bebé. Em resposta, o clube informou-a não só de que não receberia o pagamento, mas também a processariam por não lhes ter dito que estaria a planear uma gravidez quando se juntou à equipa, quebrando também as condições do seu contrato, supostamente para conseguir um salário melhor.

De acordo com documentos do tribunal que Lugli publicou na sua página de Facebook, o clube argumentou que a sua saída precoce prejudicou a “performance” da equipa, tendo-lhe até causado prejuízos financeiros.

A jogadora instaurou também um processo ao clube, argumentando que lhe causaram danos emocionais, até porque a gravidez tinha sido inesperada, e o tratamento que recebeu por parte do clube, sobretudo depois da perda gestacional, deixou marcas. 

Em declarações ao jornal La Repubblica, Lugli afirmou que depois de informar o clube sobre a perda do bebé, ainda lhe disseram que ela poderia ter começado a jogar de novo, ou pelo menos treinar e ficar no banco.
 

“Os jovens casais precisam de redescobrir a generosidade e a abertura à vida, o espírito de sacrifício e uma boa dose de abandono à Providência Divina”.


“Já nem falando do estado psicológico em que me encontrava naquele momento, foi uma frase de deselegância monstruosa. Senti vergonha, tristeza e agora, poucos dias após o pedido de indemnização, decidi contar minha história. É inacreditável que em 2021 engravidar seja considerado anti-profissional e que uma gravidez seja criminalizada como consumir cocaína ou testar positivo para doping”, afirmou.

“É incrível que uma mulher seja humilhada dessa forma e até mesmo a sua dor e detalhes muito particulares da sua história pessoal sejam usados”, disse Lugli.

Virginia Coda disse que há “uma conversa contínua sobre o papel da mulher, a importância de equipará-la aos homens, sobre as quotas rosa, sobre o drama do feminicídio”, mas ainda há pouca consideração pela maternidade.

Acrescentou ainda que os apelos para o empoderamento das mulheres são abundantes, mas essas conversas são surpreendentemente vazias quando se trata do papel da mulher como mãe, que é o cerne da vida e da identidade de muitas mulheres.

“Infelizmente, essa mentalidade agora também está enraizada na cultura dominante do nosso país”, afirmou, observando que até à década de 1970, as famílias numerosas eram uma das características da cultura italiana.

Agora, em parte graças aos problemas económicos e a uma mudança nos hábitos culturais, as famílias da Itália estão cada vez mais pequenas e a taxa de natalidade anual tem caído para níveis alarmantes. Nos últimos anos, o governo italiano lançou campanhas de fertilidade destinadas a incentivar os casais a ter mais filhos.

O facto de que um caso como o de Lugli possa acontecer em 2021, quando as tendências demográficas são uma preocupação primordial na Europa e a pressão pelo empoderamento e igualdade das mulheres é mais forte do que nunca, não é apenas chocante, disse Virginia, mas ilustra que o papel da mulher na sociedade moderna “foi distorcido”.
 

“Uma sociedade, não só italiana, mas eu diria ocidental, que não coloca a maternidade em primeiro lugar, não se projecta para o futuro e, portanto, é uma sociedade que está a morrer”


O caso Lugli, que inicialmente veio à tona a 7 de Março, um dia antes de o mundo comemorar o Dia Internacional da Mulher, está desde então a fazer alarido em Itália, com muitos grupos de direitos das mulheres, políticos e responsáveis desportivos a participar activamente.

A porta-voz do senado italiano, Maria Elisabetta Alberti Casellati, descreveu as acções tomadas contra Lugli como “violência contra as mulheres”, argumentando que “a maternidade tem um valor pessoal e social insubstituível”.

A ministra italiana para a igualdade de oportunidades e a família, Elena Bonetti, também expressou apoio a Lugli e choque “pela sua experiência dramática pela qual nenhuma mulher deveria passar”.

Num tweet a 9 de Março, Bonetti disse que o caso de Lugli é um exemplo claro de haver “pouco o que comemorar” na Itália no Dia da Mulher “e muito a lutar pela igualdade”.

Em declarações ao Crux, Virginia afirmou que o empoderamento das mulheres não deve acontecer às custas do seu papel como mães.

“Uma sociedade, não só italiana, mas eu diria ocidental, que não coloca a maternidade em primeiro lugar, não se projecta para o futuro e, portanto, é uma sociedade que está a morrer”, alertou.

Apontando para as baixas taxas de natalidade da Europa, Virginia disse que se os políticos não respondem a essa tendência “colocando a taxa de natalidade em primeiro lugar, se o mundo profissional, ou o mundo do desporto, considera a gravidez um «problema» e um impedimento, isso deixa claro que as mulheres são vistas apenas de forma instrumental”.

As sociedades são construídas com base no papel inestimável que as mães desempenham, afirmou a responsável, acrescentando que, na sua opinião, “muitas coisas precisam de mudar na sociedade para se poder voltar a colocar a família no centro de tudo”.

Assim como a gravidez de Lugli não foi planeada, os casais não podem, e não devem, antecipar os filhos como fazem com a compra de um carro, ou casa, ou as férias de sonho, continuou Virginia, acrescentando: “Os jovens casais precisam de redescobrir a generosidade e a abertura à vida, o espírito de sacrifício e uma boa dose de abandono à Providência Divina”.

“Hoje as mulheres são consideradas apenas se tiverem sucesso no ambiente de trabalho, ao qual se devem dedicar de «corpo e alma»”, disse Virginia, insistindo que, além do sucesso profissional, uma mulher que trabalha deve “ser ajudada a desempenhar o seu papel de mãe, exactamente o contrário do que aconteceu com Lara Lugli”.
 

Artigo de Elise Ann Allen, publicado em Crux