Arquidiocese de Braga -

27 janeiro 2021

Itália: Sinal da paz volta à missa, mas com um olhar ou uma reverência de cabeça

Fotografia Thays Orrico

DACS com La Stampa e CEI

O sinal da paz será restaurado em Itália a partir de 14 de Fevereiro, mas sem contacto entre as pessoas. "Fazer contacto visual com o seu vizinho pode ser uma forma sóbria e eficaz de recuperar um gesto ritual”, explicam Bispos italianos.

\n

Ainda não é altura de voltar a apertar as mãos, mesmo durante as celebrações na igreja. No entanto, os bispos italianos discutiram o sinal da paz na missa e decidiram restaurá-lo a partir de 14 de Fevereiro. Os gestos possíveis serão o olhar, ou a curvatura da cabeça. É o que informa o comunicado final do Conselho Permanente da Conferência Episcopal Italiana (CEI), realizado ontem por videoconferência.

“Não sendo apropriado no contexto litúrgico substituir o aperto de mão ou o abraço por toques com os cotovelos, neste momento pode ser suficiente e mais significativo olhar nos olhos um do outro e desejar o dom da paz, acompanhando-o com uma simples inclinação de cabeça”, recomenda a CEI.

Os Bispos italianos explicam que “virar os olhos para interceptar os do próximo e fazer uma vénia” pode exprimir “de forma eloquente, segura e sensível, a procura do rosto do outro, para acolher e trocar o dom da paz, fundamento de toda fraternidade”. Onde for necessário será mesmo possível “reiterar que não é possível apertar as mãos e que olhar uns para os outros e olhar nos olhos do próximo, desejando «A paz esteja convosco», pode ser uma forma sóbria e eficaz de recuperar um gesto ritual”. 

A preocupação com a “estabilidade do país” dominou a sessão de inverno do Conselho Episcopal, que aconteceu sob a liderança do Cardeal Presidente Gualtiero Bassetti. No comunicado dos Bispos italianos é explicado que durante esta “fase delicada surgiu a urgência de um trabalho de reconciliação que consiga sanar as várias fracturas que a pandemia provocou no território nacional, passando a atacar todas as faixas da população, sobretudo os mais vulneráveis”. 

Do ponto de vista da saúde, os bispos sublinharam “a importância da vacinação, entendida como um gesto de amor próprio e aos outros, mas também como um acto de confiança na reconstrução”. Já na frente social “puseram em destaque a crise demográfica, as novas formas de pobreza, as agruras e a solidão, ou as muitas dificuldades que correm o risco de romper ainda mais o tecido comunitário já dilacerado pela crise”. 
 

“As novas tecnologias são de grande ajuda para manter o contacto e realizar actividades, mas não podem substituir a riqueza do encontro pessoal, da presença. As dificuldades das crianças, e principalmente dos adolescentes, são cada vez maiores e, na maioria dos casos, é preciso reconhecer que viveram estes meses com grande responsabilidade e sentido cívico. Não podemos, no entanto, esconder que a impaciência dos jovens e a preocupação das famílias parecem aumentar.”


Os dados mais recentes sobre Itália dão conta de um país dividido, “onde a criatividade e a resiliência de toda a comunidade italiana são contrabalançadas pela incerteza do futuro, a ansiedade pela falta ou perda de trabalho, um crescimento significativo das desordens psicológicas, ou o surgimento de novas formas de pobreza que estão a esmagar famílias e empresas”, alertam os Bispos.

A CEI afirma ainda que a questão da educação é preocupante e deve ser enfrentada em conjunto, com a contribuição de todos para que se desenvolvam projectos que renovem e revitalizem escolas, paróquias, cursos de catequese. 

“Embora complexo, este não é um tempo suspenso, deve antes ser aproveitado como uma oportunidade. A reconciliação torna-se então a ferramenta a ser usada para consertar o tecido social dilacerado e para dar esperança às mulheres e aos homens de hoje”, pode ler-se no comunicado.

Os Bispos alertam ainda para a necessidade de se impedir “qualquer autorreferencialidade eclesial” que impeça olhar o outro com de forma materna e de trabalhar em harmonia para realizar uma verdadeira comunhão, sendo antes necessária uma visão “comum, capaz de apoiar as comunidades, ajudando-as a redescobrirem-se como tais”. 

Para a CEI, é ainda necessário multiplicar os esforços “para continuar, apesar das graves dificuldades em que se encontram famílias, professores e catequistas, o compromisso educativo para com as novas gerações e para reconstruir condições e contextos que permitam experiências formativas integrais”. 

“As novas tecnologias são de grande ajuda para manter o contacto e realizar actividades, mas não podem substituir a riqueza do encontro pessoal, da presença. As dificuldades das crianças, e principalmente dos adolescentes, são cada vez maiores e, na maioria dos casos, é preciso reconhecer que viveram estes meses com grande responsabilidade e sentido cívico. Não podemos, no entanto, esconder que a impaciência dos jovens e a preocupação das famílias parecem aumentar”, adiantam.

Os prelados sublinham que os jovens e toda a comunidade precisam de escolas, centros educativos e paróquias para poderem voltar o mais cedo possível a concentrarem-se na sua função de crescimento. 

“Não pode haver um retorno repentino às condições anteriores, mas, a partir de agora, todos, comunidades civis e eclesiais, são chamados a fazer a sua parte, a partir do que este tempo está a destacar. Está a amadurecer a consciência de que os processos educativos são significativos para as pessoas quando se baseiam na comunicação da atenção e do cuidado, mesmo quando se é obrigado a interagir à distância”, explicam, afirmando que só através de alianças educativas nos territórios será possível seguir a proposta do Papa Francisco de um “Pacto Global pela Educação”.

 

Artigo original publicado em La Stampa, a 27 de Janeiro de 2021