Arquidiocese de Braga -
26 outubro 2020
Pe. Rúben Cruz: "Igreja tem obrigação de ser perita no ser humano"
DACS
O Departamento Arquidiocesano para a Presença da Igreja no Ensino sublinha ainda que a Igreja não deseja transformar-se em recurso de elites, desejando igualdade de acesso à escola e de sucesso na educação.
O Pe. Rúben Cruz, Director do Departamento Arquidiocesano para a Presença da Igreja no Ensino, afirmou, em entrevista ao Departamento Arquidiocesano para a Comunicação Social (DACS), que a Igreja enfrenta actualmente vários desafios, devendo esta concentrar-se em dois grandes blocos que lhes poderão dar resposta: fomentar e desenvolver a identidade católica (universal) nos seus diversos âmbitos (ad intra) e, por outro lado, ter em conta a realidade complexa da liberdade de educação (ad extra).
"Preferencialmente, devemos primeiro falar “para dentro”. O principal desafio que a Igreja enfrenta na escola é o de ser uma presença qualificada e qualificadora que contribui, de sobremaneira, para a formação da pessoa toda e de todas as pessoas – sem acepção de qualquer espécie. Temos, como Igreja, a obrigação de sermos conhecedores em termos científicos, das melhores pedagogias, mas, em simultâneo, de sermos peritos acerca do humano", explicou.
Sobre esta "especialidade", o sacerdote apontou como necessário o acompanhamento, o discernimento a escuta e a aprendizagem de quem "faz caminho", sendo por isso de sobeja importância a formação permanente dos professores de EMRC e professores das Escolas Católicas e a presença em encontros nacionais e diocesanos de professores, alunos, acções de formação diversa, para que possa ser materializada de forma diversa – nos ideários das escolas católicas e na presença da Igreja em geral – a riqueza da diversidade.
"A este nível, Jean de Munk, partindo da experiência Belga onde a Igreja «não é vista como minoritária, mas como um parceiro qualitativo e quantitativo» na escola, delimita quatro desafios: do projeto cultural universalista da escola; da integração intercultural; da educação moral e estética; introduzir sementes religiosas em sociedades secularizadas", adiantou.
Ciente de que os horários da disciplina de EMRC muitas vezes condicionam a matrículas dos alunos e das concepções "não laicas, mas laicistas" de quem quer fazer da religião um domínio apenas de foro privado, o Departamento Arquidiocesano para a Presença da Igreja no Ensino frisa, no entanto, que o contributo do religioso para uma esfera pública mais comprometida com o bem comum, é enorme, tal como até já Habermas havia apontado.
O Pe. Rúben Cruz lembrou ainda, nas palavras de António Pedro Homem, que Portugal, nos últimos anos, tem vindo a perder pontos no índice de OIDEL – Organização Internacional para a Liberdade de Ensino, "reflexo de políticas do Estado – central e das autarquias locais – que desvalorizam a liberdade de aprender e a livre escolha de projectos educativos".
"Parece-nos importante relembrar, e remetemos leitura para a nota pastoral do sr. Arcebispo, recentemente publicada, fazendo memória do artigo 36º, nº5, da Constituição Portuguesa, que prescreve que o direito e o dever de educação dos filhos compete aos pais. Perante esta lei, e apenas em jeito de reflexão, que sentido faz um pai pretender um estabelecimento de ensino com qualidade comprovada, assente na segurança, por exemplo, com um projeto educativo consentâneo com os valores que o próprio defende para os seus filhos, se depois não o pode escolher, pois o acesso a esse projeto não é livre? É só para quem pode pagar?", questionou.
O sacerdote afirma não ser esta a matriz que a Escola Católica quer seguir, não desejando transformar-se em recurso de elites e antes trabalhar para que estes projectos educativos estejam abertos a todos, proporcionando igualdade de acesso à escola e de sucesso na educação.
"De igual modo, tem merecido muito a nossa atenção a batalha seguinte dos «inimigos da liberdade de escolha de escola»: a ideologia de género. Estamos pervertidos por uma agenda clara e, talvez, nunca as condições foram tão favoráveis para a tornar viável como agora, concretamente pela usurpação e manipulação dos processos de aprendizagem. Neste sentido, é importante recordar um outro artigo da nossa constituição: «o Estado não pode programar a educação e a cultura segundo quaisquer diretivas filosóficas, estéticas, políticas, ideológicas ou religiosas» (artigo 43º, n.º2). Como afirma o Pe. José Lopes, no livro acima referido: «Os aluno são filhos dos pais e não do Estado»", concluiu.
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