Arquidiocese de Braga -

31 março 2017

Leituras para o 5º Domingo da Quaresma – Ano A - 5 de Abril 2017

Fotografia

Paróquia da Lapa

«Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido. Mas sei que, mesmo agora, tudo o que pedires a Deus, Deus To concederá»

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05º Domingo da Quaresma – Ano A

 

 

ANO A
5º DOMINGO DA QUARESMA

Tema do 5º Domingo da Quaresma

Neste 5º Domingo da Quaresma, a liturgia garante-nos que o desígnio de Deus é a comunicação de uma vida que ultrapassa definitivamente a vida biológica: é a vida definitiva que supera a morte.
Na primeira leitura, Jahwéh oferece ao seu Povo exilado, desesperado e sem futuro (condenado à morte) uma vida nova. Essa vida vem pelo Espírito, que irá recriar o coração do Povo e inseri-lo numa dinâmica de obediência a Deus e de amor aos irmãos.
O Evangelho garante-nos que Jesus veio realizar o desígnio de Deus e dar aos homens a vida definitiva. Ser “amigo” de Jesus e aderir à sua proposta (fazendo da vida uma entrega obediente ao Pai e um dom aos irmãos) é entrar na vida definitiva. Os crentes que vivem desse jeito experimentam a morte física; mas não estão mortos: vivem para sempre em Deus.
A segunda leitura lembra aos cristãos que, no dia do seu Baptismo, optaram por Cristo e pela vida nova que Ele veio oferecer. Convida-os, portanto, a ser coerentes com essa escolha, a fazerem as obras de Deus e a viverem “segundo o Espírito”.

LEITURA I – Ez 37,12-14

Leitura da Profecia de Ezequiel

Assim fala o Senhor Deus:
«Vou abrir os vossos túmulos
e deles vos farei ressuscitar, ó meu povo,
para vos reconduzir à terra de Israel.
Haveis de reconhecer que Eu sou o Senhor,
quando abrir os vossos túmulos
e deles vos fizer ressuscitar, ó meu povo.
Infundirei em vós o meu espírito e revivereis.
Hei-de fixar-vos na vossa terra
e reconhecereis que Eu, o Senhor, o disse e o executarei».

AMBIENTE

Ezequiel é chamado “o profeta da esperança”. Desterrado na Babilónia desde 597 a.C. (no reinado de Joaquin, quando Nabucodonosor conquista, pela primeira vez, Jerusalém e deporta para a Babilónia um primeiro grupo de jerusalimitanos), Ezequiel exerce aí a sua missão profética entre os exilados judeus.
A primeira fase do ministério de Ezequiel decorre entre 593 a.C. (altura em que sentiu o chamamento de Deus) e 586 a.C. (data em que Jerusalém é arrasada pelas tropas de Nabucodonosor e uma nova leva de exilados é encaminhada para a Babilónia). Nesta fase, Ezequiel procura destruir falsas esperanças e anuncia que, ao contrário do que pensam os exilados, o cativeiro está para durar… Eles não só não vão regressar em breve a Jerusalém, mas os que ficaram em Jerusalém (e que continuam a multiplicar os pecados e infidelidades) vão fazer companhia aos que já estão desterrados na Babilónia.
A segunda fase do ministério de Ezequiel desenrola-se a partir de 586 a.C., até cerca de 570 a.C. Instalados numa terra estrangeira, sem Templo, sem sacerdócio e sem culto, os exilados estão desesperados e duvidam da bondade e do amor de Deus. Nessa fase, Ezequiel procura alimentar a esperança dos exilados e transmitir ao Povo a certeza de que o Deus libertador e salvador não os abandonou.
O texto que nos é proposto como primeira leitura pertence à segunda fase. Faz parte da famosa “visão dos ossos calcinados” (cf. Ez 37). Ezequiel descreve a visão de uma planície cheia de ossos calcinados e sem vida; mas, na visão do profeta, o Espírito do Senhor sopra sobre os ossos calcinados e eles são revestidos de pele, de músculos e ganham vida. Nesta parábola, os ossos calcinados representam o Povo de Deus, que jaz abandonado, sem esperança e sem futuro, no meio da planície mesopotâmica.

MENSAGEM

A situação de desespero em que estão os exilados é uma situação de morte. Eles sentem-se próximos da ruína e do aniquilamento e não vêem no horizonte quaisquer perspectivas de futuro. O texto define esta situação de ausência total de esperança como “estar no túmulo”.
No entanto, é aqui que Deus entra. Jahwéh vai transformar a morte em vida, o desespero em esperança, a escravidão em libertação. O que é que Deus vai fazer, nesse sentido?
Em termos concretos, Jahwéh promete ao Povo o regresso à sua terra, restaurando a esperança dos exilados num futuro de felicidade e de paz… Mas Deus vai fazer ainda mais: vai derramar o seu Espírito (o “ruah”) sobre o Povo condenado à morte.
Esta referência à acção do Espírito de Deus na revivificação do homem coloca-nos no mesmo contexto de Gn 2,7: no homem que criou do barro, Deus infundiu o seu “hálito de vida” (“neshamá”) para o tornar um ser vivente; aqui, sobre o Povo que jaz no túmulo, Deus “infunde o seu Espírito” (“ruah” – Ez 37,14). Trata-se, portanto, de uma nova criação.
No entanto, o “ruah”, que aqui é transmitido ao Povo que jaz no túmulo, é mais do que a simples “força vital”, que dá vida física ao homem: é a vida divina que transforma completamente os homens, fazendo com que os corações de pedra – duros, insensíveis, auto-suficientes – se transformem em corações de carne, sensíveis e bons, capazes de amar Deus e os irmãos (cf. Ez 36,26-27). Esta nova criação vai, portanto, muito mais longe do que a antiga criação.
Então, com um coração de carne capaz de compreender o amor, o Povo reconhecerá a bondade de Deus, a sua fidelidade à Aliança e às promessas que fez ao seu Povo.
A questão mais significativa é que, apesar das aparências, Deus não abandona o seu Povo à morte. Mesmo quando tudo parece perdido e sem saída, Deus lá está, transformando o desespero em esperança, a morte em vida. Jahwéh é o Deus da vida, que encontra sempre formas de transmitir vida ao seu Povo. Em cada instante da história Ele está presente, recriando o seu Povo, transformando-o, renovando-o, encaminhando-o para a vida plena.

ACTUALIZAÇÃO

Reflectir as seguintes questões:

• Na nossa existência pessoal passamos, muitas vezes, por situações de desespero, em que tudo parece perder o sentido. A morte de alguém querido, o desmoronar dos laços familiares, a traição de um amigo ou de alguém a quem amamos, a perda do emprego, a solidão, a falta de objectivos lançam-nos muitas vezes num vazio do qual não conseguimos facilmente sair. A Palavra de Deus garante-nos: não estamos perdidos e abandonados à nossa miséria e finitude… Deus caminha ao nosso lado; em cada instante Ele lá está, tirando vida da morte, “escrevendo direito por linhas tortas”, dando-nos a coragem de “sair do sepulcro” e avançar mais um passo ao encontro da vida plena.

• Mais: Deus recria-nos, cada dia, oferecendo-nos o Espírito transformador e renovador, que elimina dos nossos corações o orgulho e o egoísmo (afinal, os grandes responsáveis pelo sofrimento, pela injustiça
, pela violência) e transformando-nos em pessoas novas, com um coração sensível ao amor e às necessidades dos outros.

• Ver os telejornais ou ler os jornais é – mais do que nos mantermos a par dos passos que o mundo vai dando – um autêntico exercício de masoquismo: parece que só há dramas, sofrimentos, injustiças e violências, como se o mundo fosse um imenso campo de morte. No entanto, nós os crentes sabemos que, apesar do sofrimento que faz parte da condição de fragilidade em que vivemos, Deus está presente na história humana, criando vida e oferecendo a esperança aos homens nesses mil e um gestos de bondade, de ternura e de amor que acontecem a cada instante (e que não chegam aos jornais ou às objectivas da televisão porque “não vendem” e, por isso, não são notícia). A Palavra Deus que hoje nos é proposta sugere que o crente – pelo simples facto de acreditar em Deus – deve ser um arauto da esperança.

• É sempre Deus – e só Deus – que oferece aos homens a vida e a esperança… No entanto, Deus age no mundo através de homens – como Ezequiel – que distribuem a vida nova de Deus, com palavras e com gestos. Já pensei que Deus me chama a ser uma luz de esperança no mundo? Tenho consciência de que é através dos meus gestos e das minhas palavras que Deus oferece a sua vida aos homens meus irmãos?

SALMO RESPONSORIAL – SALMO 129 (130)

Refrão 1: No Senhor está a misericórdia e abundante redenção.

Refrão 2: No Senhor está a misericórdia,
no Senhor está a plenitude da redenção.

Do profundo abismo chamo por Vós, Senhor,
Senhor, escutai a minha voz.
Estejam os vossos ouvidos atentos
à voz da minha súplica.

Se tiverdes em conta as nossas faltas,
Senhor, quem poderá salvar-se?
Mas em Vós está o perdão,
para Vos servirmos com reverência.

Eu confio no Senhor,
a minha alma espera na sua palavra.
A minha alma espera pelo Senhor
mais do que as sentinelas pela aurora.

Porque no Senhor está a misericórdia
e com Ele abundante redenção.
Ele há-de libertar Israel
de todas as suas faltas.

LEITURA II – Rom 8,8-11

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos

Irmãos:
Os que vivem segundo a carne não podem agradar a Deus.
Vós não estais sob o domínio da carne, mas do Espírito,
se é que o Espírito de Deus habita em vós.
Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo,
não Lhe pertence.
Se Cristo está em vós,
embora o vosso corpo seja mortal por causa do pecado,
o espírito permanece vivo por causa da justiça.
E, se o Espírito d’Aquele que ressuscitou Jesus de entre os mortos
habita em vós,
Ele, que ressuscitou Cristo Jesus de entre os mortos,
também dará vida aos vossos corpos mortais,
pelo seu Espírito que habita em vós.

AMBIENTE

Já dissemos, noutras circunstâncias, que a Carta aos Romanos é um texto sereno e didáctico, no qual Paulo faz uma espécie de resumo do seu pensamento teológico e expõe a sua concepção daquilo que é essencial na mensagem cristã. Numa época (anos 57/58) em que existem problemas graves de entendimento e de perspectiva entre os cristãos vindos do judaísmo e os cristãos vindos do paganismo, Paulo sublinha a unidade da revelação e da história da salvação: Deus tem um projecto de salvação e de vida plena, que se destina a todos os homens, sem excepção.
Depois de provar que todos os homens (judeus e pagãos) vivem no domínio do pecado (cf. Rom 1,18-3,20), mas que a “justiça de Deus” oferece a vida a todos, sem distinção (cf. Rom 3,21-5,11), Paulo mostra como é que, através de Jesus Cristo, essa vida se comunica ao homem (cf. Rom 5,12-8,39).
Indo mais ao pormenor: como é, então, que a vida de Deus se comunica ao homem? Paulo desenvolve o seu pensamento de acordo com a seguinte sequência: a obediência de Cristo ao plano do Pai fez com que a graça da salvação fosse oferecida a todos os homens (cf. Rom 5,12-20); acolhendo essa graça e aceitando receber o Baptismo, os homens tornam-se todos participantes do dom de Deus (cf. Rom 6,1-23); a adesão a Cristo faz os homens livres das cadeias do egoísmo e do pecado e transforma-os em homens novos (cf. Rom 7,1-25); e é o Espírito (dado ao crente no baptismo) que potencia essa vida nova (cf. Rom 8,1-39).

MENSAGEM

O Espírito é, verdadeiramente, a personagem central do capítulo 8 da Carta aos Romanos (o termo “pneuma” – “espírito” – aparece trinta e quatro vezes na Carta aos Romanos; e, dessas trinta e quatro, vinte e uma são neste capítulo). De acordo com a perspectiva teológica de Paulo, o Espírito é o responsável pelo facto de a vida nova que Deus oferece ao homem crescer e se desenvolver.
Neste capítulo, Paulo desenvolve uma das suas mais famosas antíteses: “carne”/”Espírito”. “Viver segundo a carne” significa, em Paulo, uma vida conduzida à margem de Deus: o “homem da carne” é o homem do egoísmo e da auto-suficiência, cujos valores são o ciúme, o ódio, a ambição, a inveja, a libertinagem (cf. Gal 5,19-21); “viver segundo o Espírito” significa, em Paulo, uma vida vivida na órbita de Deus, pautada pelos valores da caridade, da alegria, da paz, da fidelidade e da temperança (cf. Gal 5,22-23).
Paulo recorda aos crentes, no texto que nos é proposto, que o cristão, no dia do seu baptismo, optou pela vida do Espírito. A partir daí, vive sob o domínio do Espírito – isto é, vive aberto a Deus, recebe vida de Deus, torna-se “filho de Deus”. Identifica-se, portanto, com Cristo; e assim como Cristo – depois de uma vida vivida “no Espírito” (isto é, depois de uma vida de renúncia ao egoísmo e ao pecado e de opção por Deus e pelas suas propostas) – ressuscitou e foi elevado definitivamente à glória do Pai, assim o cristão está destinado à vida nova, à vida plena, à vida eterna.
É, pois, o Espírito – presente naqueles que renunciaram à vida da “carne” e aderiram a Jesus – que liberta os crentes do pecado e da morte, que os transforma em homens novos e que os leva em direcção à vida plena, à vida definitiva.

ACTUALIZAÇÃO

Para a reflexão, considerar os seguintes dados:

• Na verdade, no dia do meu Baptismo, eu escolhi a vida “segundo o Espírito” (provavelmente, fui baptizado muito pequenino, numa altura em que não tinha consciência plena do que isso significava; mas, mais tarde, tive a oportunidade – em vários m
omentos da minha caminhada cristã – de validar e confirmar essa opção inicial). A minha vida tem sido coerente com essa opção? A minha vida tem-se desenrolado à margem de Deus e das suas propostas (“vida segundo a carne”) ou na escuta atenta e consequente dos projectos de Deus (“vida segundo o Espírito”)?

• O baptizado é alguém que escolheu identificar-se com Cristo – isto é, alguém que escolheu viver na obediência aos planos do Pai e no dom da vida em favor dos irmãos. O exemplo de Cristo garante-me: uma vida gasta desse jeito não termina no fracasso, mas na vida definitiva, na felicidade total. A realização plena do homem não está nos valores efémeros (muitas vezes propostos como os valores mais fundamentais), mas no amor e no dom da vida. É daí que brota a ressurreição.

ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO – Jo 11, 25a.26

Escolher um dos refrães:

Refrão 1: Louvor e glória a Vós, Jesus Cristo, Senhor.
Refrão 2: Glória a Vós, Jesus Cristo, Sabedoria do Pai.
Refrão 3: Glória a Vós, Jesus Cristo, Palavra do Pai.
Refrão 4: Glória a Vós, Senhor, Filho do Deus vivo.
Refrão 5: Louvor a Vós, Jesus Cristo, Rei da eterna glória.
Refrão 6: Grandes e admiráveis são as vossas obras, Senhor.
Refrão 7: A salvação, a glória e o poder a Jesus Cristo, Nosso Senhor.

Eu sou a ressurreição e a vida, diz o Senhor.
Quem acredita em Mim nunca morrerá.

EVANGELHO – Jo 11,1-45

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João

Naquele tempo,
estava doente certo homem, Lázaro de Betânia,
aldeia de Marta e de Maria, sua irmã.
Maria era aquela que tinha ungido o Senhor com perfume
e Lhe tinha enxugado os pés com os cabelos.
Era seu irmão Lázaro que estava doente.
As irmãs mandaram então dizer a Jesus:
«Senhor, o teu amigo está doente».
Ouvindo isto, Jesus disse:
«Essa doença não é mortal, mas é para a glória de Deus,
para que por ela seja glorificado o Filho do homem».
Jesus era amigo de Marta, de sua irmã e de Lázaro.
Entretanto, depois de ouvir dizer que ele estava doente,
ficou ainda dois dias no local onde Se encontrava.
Depois disse aos discípulos:
«Vamos de novo para a Judeia».
Os discípulos disseram-Lhe:
«Mestre, ainda há pouco os judeus procuravam apedrejar-Te
e voltas para lá?»
Jesus respondeu:
«Não são doze as horas do dia?
Se alguém andar de dia, não tropeça,
porque vê a luz deste mundo.
Mas se andar de noite, tropeça,
porque não tem luz consigo».
Dito isto, acrescentou:
«O nosso amigo Lázaro dorme, mas Eu vou despertá-lo».
Disseram então os discípulos:
«Senhor, se dorme, está salvo».
Jesus referia-se à morte de Lázaro,
mas eles entenderam que falava do sono natural.
Disse-lhes então Jesus abertamente:
«Lázaro morreu;
por vossa causa, alegro-Me de não ter estado lá,
para que acrediteis.
Mas, vamos ter com ele».
Tomé, chamado Dídimo, disse aos companheiros:
«Vamos nós também, para morrermos com Ele».
Ao chegar, Jesus encontrou o amigo sepultado havia quatro dias.
Betânia distava de Jerusalém cerca de três quilómetros.
Muitos judeus tinham ido visitar Marta e Maria,
para lhes apresentar condolências pela morte do irmão.
Quando ouviu dizer que Jesus estava a chegar,
Marta saiu ao seu encontro,
enquanto Maria ficou sentada em casa.
Marta disse a Jesus:
«Senhor, se tivesses estado aqui,
meu irmão não teria morrido.
Mas sei que, mesmo agora, tudo o que pedires a Deus,
Deus To concederá».
Disse-lhe Jesus: «Teu irmão ressuscitará».
Marta respondeu:
«Eu sei que há-de ressuscitar na ressurreição, no último dia».
Disse-lhe Jesus:
«Eu sou a ressurreição e a vida.
Quem acredita em Mim,
ainda que tenha morrido, viverá;
E todo aquele que vive e acredita em Mim, nunca morrerá.
Acreditas nisto?»
Disse-Lhe Marta:
«Acredito, Senhor, que Tu és o Messias, o Filho de Deus,
que havia de vir ao mundo».
Dito isto, retirou-se e foi chamar Maria,
a quem disse em segredo:
«O Mestre está ali e manda-te chamar».
Logo que ouviu isto, Maria levantou-se e foi ter com Jesus.
Jesus ainda não tinha chegado à aldeia,
mas estava no lugar em que Marta viera ao seu encontro.
Então os judeus que estavam com Maria em casa
para lhe apresentar condolências,
ao verem-na levantar-se e sair rapidamente,
seguiram-na, pensando que se dirigia ao túmulo para chorar.
Quando chegou aonde estava Jesus,
Maria, logo que O viu, caiu-Lhe aos pés e disse-Lhe:
«Senhor, se tivesses estado aqui,
meu irmão não teria morrido».
Jesus, ao vê-la chorar,
e vendo chorar também os judeus que vinham com ela,
comoveu-Se profundamente e perturbou-Se.
Depois perguntou: «Onde o pusestes?»
Responderam-Lhe: «Vem ver, Senhor».
E Jesus chorou.
Diziam então os judeus:
«Vede como era seu amigo».
Mas alguns deles observaram:
«Então Ele, que abriu os olhos ao cego,
não podia também ter feito que este homem não morresse?»
Entretanto, Jesus, intimamente comovido, chegou ao túmulo.
Era uma gruta, com uma pedra posta à entrada.
Disse Jesus: «Tirai a pedra».
Respondeu Marta, irmã do morto:
«Já cheira mal, Senhor, pois morreu há quatro dias».
Disse Jesus:
«Eu não te disse que, se acreditasses,
verias a glória de Deus?»
Tiraram então a pedra.
Jesus, levantando os olhos ao Céu, disse:
«Pai, dou-Te graças por Me teres ouvido.
Eu bem sei que sempre Me ouves,
mas falei assim por causa da multidão que nos cerca,
para acreditarem que Tu Me enviaste».
Dito isto, bradou com voz forte:
«Lázaro, sai para fora».
O morto saiu, de mãos e pés enfaixados com ligaduras
e o rosto envolvido num sudário.
Disse-lhes Jesus:
«Desligai-o e deixai-o ir».
Então muitos judeus, que tinham ido visitar Maria,
ao verem o que Jesus fizera, acreditaram n’Ele.

AMBIENTE

O Evangelho segundo João procura apresentar Jesus como o Messias, Filho de Deus, enviado pelo Pai para criar um Homem Novo. No “Livro dos Sinais” (cf. Jo 4,1-11,56), o autor apresenta – recorrendo aos “sinais” da água (cf. Jo 4,1-5,47), do pão (cf. Jo 6,1-7,53), da luz (cf. Jo 8,12-9,41), do pastor (cf. Jo 10,1-42) e da vida (cf. Jo 11,1-56) – um conjunto de cateque
ses sobre a acção criadora e vivificadora do Messias.
O texto que hoje nos é proposto é, exactamente, a quinta catequese (a da vida) do “Livro dos Sinais”. Trata-se de uma narração única, que não tem paralelo nos outros três Evangelhos.
A cena situa-nos em Betânia, uma aldeia a Este do monte das Oliveiras, a cerca de três quilómetros de Jerusalém. O autor da catequese coloca-nos diante de um episódio – um triste episódio – familiar: a morte de um homem. A família mencionada, constituída por três pessoas (Marta, Maria e Lázaro), parece conhecida de Jesus: no vers. 5, diz-se que Jesus amava Marta, a sua irmã Maria e Lázaro. A visita de Jesus a casa desta família é, aliás, mencionada em Lc 10,38-42; e João tem o cuidado de observar que a Maria, aqui referenciada, é a mesma que tinha ungido o Senhor com perfume e lhe tinha enxugado os pés com os cabelos (vers. 2, cf. Jo 12,1-8).

MENSAGEM

A família de Betânia apresenta algumas características dignas de nota…
Em primeiro lugar, o autor da narração não faz qualquer referência a outros membros, para além de Maria, Marta e Lázaro: não há pai, nem mãe, nem filhos. Além disso, João insiste no grau de parentesco que une os três: são “irmãos” (vers. 1.2b.3.5.19.21.23.28.32.39). A palavra “irmão” (“adelfós”) será a palavra usada por Jesus, após a ressurreição, para definir a comunidade dos discípulos (Jo 20,17); e este apelativo será comum entre os membros da comunidade cristã primitiva (Jo 21,23).
Por outro lado, notemos a forma como é descrita a relação entre Jesus e esta família de irmãos… Trata-se de uma família amiga de Jesus, que Jesus conhece e que conhece Jesus, que ama Jesus e que é amada por Jesus, que recebe Jesus em sua casa.
Um facto abala a vida desta família: um irmão (Lázaro) está gravemente doente. As “irmãs” mostram o seu interesse, preocupação e solidariedade para com o “irmão” doente e informam Jesus.
A relação de Jesus com Lázaro é de afecto e amizade; mas Jesus não vai imediatamente ao seu encontro; parece, até, atrasar-se deliberadamente (vers. 6). Com a sua passividade, Jesus deixa que a morte física do “amigo” se consume. Provavelmente, na intenção do nosso catequista, o pormenor significa que Jesus não veio para alterar o ciclo normal da vida física do homem, libertando-o da morte biológica; veio, sim, para dar um novo sentido à morte física e para oferecer ao homem a vida eterna.
Depois de dois dias, Jesus resolve dirigir-se à Judeia ao encontro do “amigo”. No entanto, a oposição a Jesus está, precisamente, na Judeia e, de forma especial, em Jerusalém. Os discípulos tentam dissuadi-l’O: eles não entenderam, ainda, que o plano do Pai é que Jesus dê vida ao homem enfermo, mesmo que para isso corra riscos e tenha de oferecer a sua própria vida. Jesus não dá atenção ao medo dos discípulos: a sua preocupação única é realizar o plano do Pai no sentido de dar vida ao homem. Jesus não pode abandonar o “amigo”: Ele é o pastor que desafia o perigo por amor dos seus.
Ao chegar a Betânia, Jesus encontrou o “amigo” sepultado há já quatro dias. De acordo com a mentalidade judaica, a morte era considerada definitiva a partir do terceiro dia. Quando Jesus chega, Lázaro está, pois, verdadeiramente morto. Jesus não elimina a morte física; mas, para quem é “amigo” de Jesus, a morte física não é mais do que um sono, do qual se acorda para descobrir a vida definitiva.
Por esta altura, entram em cena as “irmãs” de Lázaro. Marta é a primeira. Vem ao encontro de Jesus e insinua a sua reprovação: Jesus podia ter evitado a morte do amigo, se tivesse estado presente, pois onde Ele está reina a vida. No entanto, mesmo agora, Jesus poderá interceder junto de Deus, Deus atendê-lo-á e devolverá a vida física a Lázaro. Marta acredita em Deus; acredita que Jesus é um profeta, através de quem Deus actua no mundo; mas ainda não tem consciência de que Jesus é a vida do Pai e que Ele próprio dá a vida.
Jesus inicia a sua catequese dizendo-lhe: “teu irmão ressuscitará”. Marta pensa que as palavras de Jesus são uma consolação banal e que Ele se refere à crença farisaica, segundo a qual os mortos haveriam de reviver, no final dos tempos, quando se registasse a última intervenção de Deus na história humana. Isso ela já sabe; mas não chega: esse último dia ainda está tão longe…
Jesus, no entanto, não fala da ressurreição no final dos tempos. O que Ele diz é que, para quem é amigo de Jesus, não há morte, sequer. Jesus é “a ressurreição e a vida”. Para os seus amigos, a morte física é apenas a passagem desta vida para a vida plena. Jesus não evita a morte física; mas Ele oferece ao homem essa vida que se prolonga para sempre. Para que essa vida definitiva possa chegar ao homem é necessário, no entanto, que o homem adira a Jesus e O siga, num caminho de amor e de dom da vida (“todo aquele que vive e acredita em mim, nunca morrerá”). A comunidade de Jesus (a comunidade dos que aderiram a Ele e ao seu projecto) é a comunidade daqueles que já possuem a vida definitiva. Eles passarão pela morte física; mas essa morte será apenas uma passagem para a verdadeira vida. E é essa vida verdadeira que Jesus quer oferecer. Confrontada com esta catequese (“acreditas nisto?”), Marta manifesta a sua adesão ao que Jesus diz e professa a sua fé no Senhor que dá a vida (“acredito, Senhor, que Tu és o Messias, o Filho de Deus que havia de vir ao mundo”).
Maria, a outra irmã, tinha ficado em casa. Está imobilizada, paralisada pela dor sem esperança. Marta – que falara com Jesus e encontrara n’Ele a resposta para a situação que a fazia sofrer – convida a irmã a sair da sua dor e a ir, por sua vez, ao encontro de Jesus. Maria vai rapidamente, sem dar explicações a ninguém: ela tem consciência de que só em Jesus encontrará uma solução para o sofrimento que lhe enche o coração. Também nas palavras de Maria há uma reprovação a Jesus pelo facto de Ele não ter estado presente, impedindo a morte física de Lázaro. Jesus não pronuncia qualquer palavra de consolo, nem exorta à resignação (como é costume fazer nestes casos): vai fazer melhor do que isso e vai mostrar que Ele é, efectivamente, a ressurreição e a vida.
A cena da ressurreição de Lázaro começa com Jesus a chorar (vers. 35). Não é pranto ruidoso, mas sereno… Jesus mostra, dessa forma, o seu afecto por Lázaro, a sua saudade do amigo ausente. Ele – como nós – sente a dor, diante da morte física de uma pessoa amada; mas a sua dor não é desespero.
Jesus chega junto do sepulcro de Lázaro. A entrada da gruta onde Lázaro está sepultado está fechada com uma pedra (como era costume, entre os judeus). A pedra é, aqui, símbolo da definitividade da morte. Separa o mundo dos vivos do mundo dos mortos, cortando qualquer relação entre um e outro.
Jesus, no entanto, manda tirar essa “pedra”: para os crentes, não se trata de duas realidades sem qualquer relação. Jesus, ao oferecer a vida plena, abate as barreiras criadas pela morte física. A morte física não afasta o homem da vida.
A acção de dar vida a Lázaro representa a concretização da missão que o Pai confiou a Jesus: dar vida plena e definitiva ao homem. É por isso que Jesus, antes de mandar Lázaro sair do sepulcro, ergue os olhos ao céu e dá graças ao Pai (vers. 41b-42): a sua oração demonstra a sua comunhão com o Pai e a sua obediência na concretização do plano do Pai. Depois, Jesus mostra Lázaro vivo na morte, provando à comunidade dos crentes que a morte física não interrompe a vida plena do discípulo que ama Jesus e O segue.
A família de Betânia representa a comunidade cristã, formada por irmãos e irmãs. Todos eles conhecem Jesus, são amigos de Jesus, acolhem Jesus na sua casa e na sua vida. Essa família também faz a experiência da morte física. Como é que deve lidar com ela? Com o desespero de quem acha que tudo acabou? Com a tristeza de quem acha que a morte venceu, por algum tempo, até que Deus ressuscite o “irmão” morto, no final dos tempos (perspectiva dos fariseus da época de Jesus)?
Não. Ser amigo de Jesus é saber que Ele é a ressurreição e a vida e que dá aos seus a vida plena, em todos os momentos. Ele não evita a morte física; mas a morte física é, para os que aderiram a Jesus, apenas a passagem (imediata) para a vida verdadeira e definitiva. Para os “amigos” de Jesus – para aqueles que acolhem a sua proposta e fazem da sua vida uma entrega a Deus e um dom aos irmãos – não há morte… Podemos chorar a saudade pela partida de um irmão, mas temos de saber que, ao deixar este mundo, ele encontrou a vida plena, na glória de Deus.

ACTUALIZAÇÃO

A reflexão pode fazer-se a partir dos seguintes elementos:

• A questão principal do Evangelho deste domingo – e que é uma questão determinante para a nossa existência de crentes – é a afirmação de que não há morte para os “amigos” de Jesus – isto é, para aqueles que acolhem a sua proposta e que aceitam fazer da sua vida uma entrega ao Pai e um dom aos irmãos. Os “amigos” de Jesus experimentam a morte física; mas essa morte não é destruição e aniquilação: é, apenas, a passagem para a vida definitiva. Mesmo que estejam privados da vida biológica, não estão mortos: encontraram a vida plena, junto de Deus. A história de Lázaro pretende representar essa realidade.

• No dia do nosso Baptismo, escolhemos essa vida plena e definitiva que Jesus oferece aos seus e que lhes garante a eternidade. A nossa vida tem sido coerente com essa opção? A nossa existência tem sido uma existência egoísta e fechada, que termina na morte, ou tem sido uma existência de amor, de partilha, de dom da vida, que aponta para a realização plena do homem e para a vida eterna?

• Ao longo da nossa existência nesta terra, convivemos com situações em que somos tocados pela morte física daqueles a quem amamos… É natural que fiquemos tristes pela sua partida e por eles deixarem de estar fisicamente presentes a nosso lado. A nossa fé convida-nos, no entanto, a ter a certeza de que os “amigos” não são aniquilados: apenas encontraram essa vida definitiva, longe da debilidade e da finitude humanas.

• Diante da certeza que a fé nos dá, somos convidados a viver a vida sem medo. O medo da morte como aniquilamento total torna o homem cauteloso e impotente face à opressão e ao poder dos opressores; mas libertando-nos do medo da morte, Jesus torna-nos livres e capacita-nos para gastar a vida ao serviço dos irmãos, lutando generosamente contra tudo aquilo que oprime e que rouba ao homem a vida plena.

ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 5º DOMINGO DA QUARESMA
(adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)

1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 5º Domingo da Quaresma, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

2. INCLINAÇÃO NO MOMENTO PENITENCIAL.
Neste domingo sob o signo da Ressurreição e da Vida, eis uma sugestão para renovar o rito penitencial. Depois de uma breve introdução, o presidente da assembleia, virado para a cruz, inclina-se profundamente, assim como toda a assembleia. Permanecer assim durante algum tempo, em profundo silêncio… Seguem-se algumas invocações penitenciais que podem ter como resposta: “Senhor, dai-nos a Vida!”

3. RENOVAR A PROFISSÃO DE FÉ.
Habitualmente, dizemos o Credo com um ar demasiado rotineiro e repetitivo… Como transmitir-lhe mais alegria e entusiasmo interior? Uma brevíssima introdução pode motivar a uma maior atenção à recitação do Credo. Pode-se ainda proclamar o Símbolo dos Apóstolos (dando o texto antecipadamente, pois não é sabido de cor). Pode-se também proclamar a fórmula do credo baptismal (dialogada)…

4. BILHETE DE EVANGELHO.
A vida é esperança. Estão vivos aqueles que esperam. Depois do momento do nosso nascimento, em que fomos criados, somos habitados pela esperança. Não cessamos de procurar, esperar, desejar. Procuramos os sinais de Deus? Esperamos a sua vinda? Desejamos a sua presença? Neste tempo da Quaresma, somos convidados à conversão. A esperança opera uma mudança nos nossos comportamentos. Não nos contentemos com esperanças que nos podem decepcionar. Nós vivemos de esperança, porque Deus não pode decepcionar-nos. Porque o nosso Deus é um Deus que fala, somos chamados por Ele. A esperança faz-nos escutar os seus apelos e responder-lhes. Sejamos vivos. Sê-lo-emos se nós esperamos.

5. ORAÇÃO NA LECTIO DIVINA.
Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.

No final da primeira leitura:
Deus, nosso Pai, nós Te bendizemos, porque és o Deus da Vida. Tu o mostraste, libertando o teu povo, desde o tempo de Isaac, de Moisés e do exílio.
Nós Te pedimos pelo teu novo Povo: levanta as comunidades cristãs de todas as formas de morte, divisões, indiferenças, tédio, isolamento do mundo. Venha sobre nós o teu Espírito de Vida.

No final da segunda leitura:
Pai de Jesus Cristo, nós Te damos graças porque o teu Espírito habita em nós e pelo teu Baptismo nos incorporaste ao teu Filho.
Nós Te pedimos: vê as nossas fraquezas. Abrimos as nossas mãos para Ti, para Te pedir o teu Espírito: que Ele dê vida aos nossos corpos mortais, que Ele nos justifique com a justiça que está em Ti.

No final do Evangelho:
Senhor Jesus, proclamamos a tua glória, porque em Ti irradia a luz da vida e da ressurreição: associaste-te aos nossos lutos, chamas os teus amigos a sair dos seus túmulos, Tu arranca-los ao sono da morte.
Nós Te pedimos: desperta em nós a fé. Tu que libertaste Lázaro das ligaduras, liberta-nos dos laços que nos paralisam diante do próximo.

6. ORAÇÃO EUCARÍSTICA.
Pode-se escolher a Oração Eucarística IV.

7. PALAVRA PARA O CAMINHO.
O passo da confiança… A que “empresa” estamos nós sujeitos? À do Espírito de Cristo ressuscitado? Ou à da carne, isto é, aquela de todas as contingências humanas que esgotam o nosso tempo e a nossa energia? Ousaremos dar o passo da confiança? Ousaremos entregar-nos a este Espírito que habita em nós para nos comprometermos na sua plenitude de Vida? A quem pertencemos nós?


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