Arquidiocese de Braga -
27 julho 2016
Papa Francisco na Polónia: um discurso simples, mas cheio de esperança
DACS | Fotografias: PAP SA 2016
Discurso do Papa encorajou comunidade polaca a enfrentar desafios actuais. Elogios sentidos ao país e a João Paulo II emocionaram os presentes. Ruas de Cracóvia cobriram-se de cor para receber o Pontífice.
O Papa Francisco chegou hoje ao Aeroporto de Balice, Cracóvia, pelas 16h00 (menos uma hora em Lisboa). A recebê-lo esteve uma comitiva de soldados, representando o Exército Polaco. Uma pequena cerimónia de boas-vindas foi organizada com a presença do Presidente da República Andrzej Duda e o Cardeal Stanislaw Dziwisz. A Orquestra do Exército tocou os hinos da Polónia e do Vaticano.
Depois do evento, Bergoglio dirigiu-se ao Castelo Real de Wawel, onde teve oportunidade de discursar em nova cerimónia perante as autoridades e corpo diplomático polaco, logo depois do discurso proferido por Andrzej Duda.
As palavras do Papa Francisco, como já vem sendo tradição, pautaram-se pela simplicidade e, ao mesmo tempo, pela esperança. O Pontífice confessou sentir-se feliz por, na sua primeira visita à Europa Centro-Oriental, ter a oportunidade de começar pela Polónia que, entre os seus filhos, conta com o “inesquecível São João Paulo II”.
Bergoglio fez um sentido elogio à Polónia, diante de uma assembleia que o escutou atenta e emocionadamente.
“A memória caracteriza o povo polaco. Sempre me impressionou o sentido vivo da história do Papa João Paulo II. Quando falava dos povos, partia da sua história procurando fazer ressaltar os seus tesouros de humanidade e espiritualidade. A consciência da identidade, livre de complexos de superioridade, é indispensável para organizar uma comunidade nacional com base no seu património humano, social, político, económico e religioso, para inspirar a sociedade e a cultura, mantendo-as simultaneamente fiéis à tradição e abertas à renovação e ao futuro. Foi nesta perspectiva que celebrastes, recentemente, os mil e cinquenta anos do Baptismo da Polónia. Foi certamente um momento forte de unidade nacional, que confirmou como a concórdia, mesmo na diversidade das opiniões, é a estrada segura para se alcançar o bem comum de todo o povo polaco”, afirmou.
O Pontífice distinguiu ainda dois tipos de memória, louvando a Polónia por ter feito predominar aquela que considera a memória boa e não a que se fixa obsessivamente no mal. “Vendo a vossa história recente, agradeço a Deus porque soubestes fazer prevalecer a memória boa, celebrando, por exemplo, os cinquenta anos do perdão, mutuamente oferecido e recebido, entre os episcopados polaco e alemão, depois da II Guerra Mundial. Apesar de a iniciativa envolver inicialmente apenas as comunidades eclesiais, todavia desencadeou um processo social, político, cultural e religioso irreversível, mudando a história das relações entre os dois povos”, explicou, recordando de seguida a Declaração Conjunta celebrada entre a Igreja Católica da Polónia e a Igreja Ortodoxa de Moscovo.
Recorrendo à tradição e à memória, o Papa Francisco indicou que é com esses dois pilares que é possível ter esperança e confiança para enfrentar os desafios actuais, sempre com Deus como guia e, ao mesmo tempo, com um compromisso ético que abrange todas as relações humanas, cuja dignidade deve ser sempre preservada.
Sem esquecer aqueles que são perseguidos pela guerra e violência, o Santo Padre insistiu que é necessário “identificar as causas da emigração da Polónia, facilitando o regresso de quantos o queiram fazer”.
“Simultaneamente é precisa a disponibilidade para acolher as pessoas que fogem das guerras e da fome; a solidariedade para com aqueles que estão privados dos seus direitos fundamentais, nomeadamente o de professar com liberdade e segurança a sua fé. Ao mesmo tempo, devem ser estimuladas colaborações e sinergias a nível internacional, a fim de se encontrar soluções para os conflitos e as guerras que forçam tantas pessoas a deixar as suas casas e a sua pátria. Trata-se, pois, de fazer o possível para aliviar os seus sofrimentos, sem se cansar de trabalhar com inteligência e ininterruptamente pela justiça e a paz, testemunhando com os factos os valores humanos e cristãos”, sublinhou.
Francisco terminou o discurso convidando a Polónia a “olhar com esperança o futuro e as questões que tem de enfrentar”, algo que pode ajudar a criar melhores condições para vários tipos de crescimento como o civil, económico e até demográfico. Sobre este último, o Papa enfatizou que cada criança é um dom e que as pessoas mais frágeis e pobres não devem nunca ser abandonadas.
“Senhor Presidente, a nação polaca pode – como sucedeu em todo o seu longo percurso histórico – contar com a colaboração da Igreja Católica, para que, à luz dos princípios cristãos que a inspiram e que forjaram a história e a identidade da Polónia, saiba nas novas condições históricas avançar no seu caminho, fiel às suas melhores tradições e repleta de confiança e esperança, mesmo nos momentos difíceis”, concluiu.
Uma visita há muito aguardada
A Polónia encontra-se em festa há vários dias, mas hoje milhares de pessoas saíram à rua para poderem, pelo menos, ter a oportunidade de ver o Papa Francisco passar, mesmo que de relance.
A chegada de Bergoglio tem sido ansiosamente aguardada pelos milhares de peregrinos que participam na Jornada Mundial da Juventude.
Celine Figueiredo, 30 anos, é Catequista no Arciprestado de Vila do Conde, na paróquia de Touguinhó. É a primeira vez que participa numa JMJ e descreve esta experiência como sendo “única”.
“É muito cansativa, mas fantástica, sobretudo pela união que se vê, uma união realmente mundial entre os jovens, onde não parece haver diferenças”, confessou ao DACS.
Celine faz parte do grupo que partiu da Arquidiocese de Braga. O cansaço deve-se, em parte, à distância que os jovens têm que percorrer todos os dias até ao Campus, já que se encontram hospedados em Chelmek, o que se traduz em mais de uma hora de viagem de comboio, tanto para ir, como para voltar.
“Para concretizar este sonho foi necessário um ano de muito esforço e trabalho.”
Celine Figueiredo
Sobre a chegada do Papa Francisco, Celine salientou “uma grande ansiedade”.
“Por toda a cidade sente-se a preparação para a chegada do Papa, há uma grande segurança. Da parte das pessoas há mesmo muita ansiedade, penso que está toda a gente à espera da saudação mais logo, será um momento maravilhoso”, afirmou.
Junqueira e Touguinhó são as únicas paróquias do Arciprestado de Vila do Conde presentes na JMJ 2016, o que representa “um grande orgulho”. Para conseguir realizar o sonho de jovens, catequistas e párocos, foi necessário um grande esforço e trabalho durante um ano.
Pedro Pereira tem 28 anos e é de Barcelos, Carapeços. Já não é novato nestas andanças: em 2011 participou na JMJ em Madrid. Diz que esta é uma experiência diferente por ser “maior em termos logísticos”, mas que o ambiente é o mesmo.
“É uma boa experiência, o ambiente é excelente, fantástico, as bandeiras cobrem as ruas. A alegria nas ruas é a mesma que já vivi!”, sublinha. É ao telefone que Pedro fala connosco, mas não é difícil adivinhar-lhe o sorriso por esta altura.
“Esperamos que a nossa oração em conjunto dê frutos. Está o mundo inteiro aqui reunido, por isso acredito que sim.”
Pedro Pereira
Até agora, aquilo que Pedro mais gostou de vivenciar foi a missa de Abertura e a visita a Auschwitz.
“Embora seja um local «horroroso», é fascinante também no sentido de sentirmos que Deus está lá. É incrível pensar como aquele local poderia sido e ter oportunidade de prestar homenagem e rezar por aquelas pessoas que eram iguais a nós e que sofreram horrores”, diz.
Uma parte do grupo da Arquidiocese, no qual o jovem se inclui, visitou o local na segunda-feira. Outra irá fazê-lo amanhã, já que as visitas carecem de marcação e inscrição prévias.
Questionado sobre aquilo que irá “trazer” no regresso a Portugal – como questionava ontem, durante a Eucaristia, o Cardeal Stanislaw Dziwisz – Pedro diz que espera uma maior Misericórdia e a oportunidade de cumprir as bem-aventuranças que tanto refere o Papa Francisco.
“Queremos fazer deste um mundo melhor, queremos sobretudo a paz. Como não lembrar a guerra na Síria? Esperamos que a nossa oração em conjunto dê frutos. Está o mundo inteiro aqui reunido, por isso acredito que sim”, afirma.
LusoFesta deixa portugueses em euforia
A fadista Cuca Roseta participou hoje na LusoFesta, durante a qual, “além de cantar", partilhou o seu testemunho de fé e de vida aos sete mil portugueses esperados no encontro, de acordo com o padre Eduardo Novo, Director do Departamento Nacional da Pastoral Juvenil (DNPJ) da Igreja Católica, em declarações à Agência Lusa,
A participação da artista, afirmou Eduardo Novo, visou “aliar a fé e a cultura”.
“Queremos que os jovens bebam do testemunho e do exemplo de quem tem talento e o coloca ao serviço como dom, e não tem medo de o expressar publicamente. A importância de aliar esforço, dedicação, trabalho, empenho, ser feliz naquilo que se faz… Ousadia de educar com valores...”, afirmou o responsável.
Segundo o padre Eduardo Novo, perante o convite feito para participar na JMJ, Cuca respondeu que o via como um presente. “Com 34 anos vou finalmente à JMJ e cantar. Acho que agora vou finalmente poder unir o fado ao meu lado espiritual na LusoFesta”, referiu a cantora.
O Festival decorreu entre as 14h00 e as 18h30 locais, no pavilhão de congressos.
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