Arquidiocese de Braga -
5 abril 2021
“Entrou para ficar com eles” (Lc 24, 29)
Mensagem de Páscoa da LOC/MTC da Arquidiocese de Braga.
Inspirados pelo Papa Francisco, que na Páscoa de 2020 (12 de abril), ao final da tarde, dirigiu uma carta aos movimentos populares, de que a LOC/MTC faz parte, lembramos: “Também gostaria de convidá-los a pensar no “depois”, porque esta tempestade vai acabar e suas sérias consequências já estão sendo sentidas. Vocês não são uns improvisados, têm a cultura, a metodologia, mas principalmente a sabedoria que é amassada com o fermento de sentir a dor do outro como sua. Quero que pensemos no projeto de desenvolvimento humano integral que ansiamos, focado no protagonismo dos Povos em toda a sua diversidade e no acesso universal aos três T que vocês defendem: terra e comida, teto e trabalho. Espero que esse momento de perigo nos tire do piloto automático, sacuda nossas consciências adormecidas e permita uma conversão humanística e ecológica que termine com a idolatria do dinheiro e coloque a dignidade e a vida no centro”.
Também nós, ao fim da tarde no Dia Páscoa, tal como os discípulos de Emaús, que comentavam a sua morte, como uma desgraça, queremos que Jesus entre em nossas vidas, tal como entrou na vida dos seus discípulos, para tudo mudar. A desgraça tornou-se anúncio e a Boa Nova passou a ser anunciada em “velocidade de cruzeiro”. Hoje, pelo trabalho o Homem realiza-se, enquanto continuador da criação desta nova humanidade. Por isso todo o trabalho tem que ser digno, porque é feito pelo Homem, que procede das mãos de Deus e nós continuamos a lutar para que que a dignidade seja contínua.
O direito ao trabalho continua a ser posto em causa sucessivamente, em particular para os jovens e adultos desempregados, que ao encontrarem trabalho, sentem a abertura da porta da precaridade, que os manipula e passa a controla suas vidas. Empresas “fantasmas”, subcontratam e fragilizam o vínculo do trabalhador ao seu domínio. Enquanto a digitalização facilita a vida às empresas, para a maioria dos trabalhadores provoca incertezas, gastos pessoais, preocupações e desemprego. A pandemia tem obrigado as famílias a viverem tempos muito duros, quer em termos sanitários, quer em termos de organização familiar. O teletrabalho, desregulamentado, está longe de trazer calma e estabilidade às famílias; tem sido fator de aumento das doenças mentais, devido à pressão constante que provoca.
Apesar de tudo a fé, tem sido um pilar fundamental na vida dos trabalhadores, que os ajuda a ultrapassar dificuldades e os encoraja a não desanimarem. Como cristãos, acreditamos firmemente no Deus vivo e atuante, que ajuda a transformar a amargura em Alegria Pascal no meio laboral, como refere o Papa Francisco: “a Vida é a Maior Empresa do Mundo”, que merece todo o nosso investimento. Amamos a Vida a apreciamo-la, mesmo em tempos difíceis e injustos, que nos obrigam a fazer das nossas fraquezas forças de esperança, para travar “o bom combate”. Não temos inimigos, temos objetivos: a “Libertação de todo o Povo de Deus”, sobretudo dos mais simples, os ativos e reformados. Queremos usufruir da felicidade que nos convoca a todos como protagonistas duma vida banhada pelas lágrimas da alegria.
Tal como os discípulos de Emaús, continuamos, de portas abertas, a acolher Cristo nas nossas vidas, que nos fortalece e ajuda anunciar e proclamar um mundo mais justo e fraterno onde haja vida, e “vida em abundância” para todos. Queremos ser agentes da mudança, congregando a força dos fracos, numa força inabalável. Continuaremos a lutar por um mundo, onde novos e velhos tenham lugar e possam viver sem medo; onde o trabalho seja digno e dignifique quem o faz; um mundo que acaricie e proteja a “casa comum” que habita; com leis universais de combate à exclusão, que permita sentar todos em volta da “Mesa da Criação”. Para além de um salário mínimo digno, reivindicamos um salário máximo, para que os ricos e os grandes gestores, não continuem a humilhar os pobres com a ostentação da sua riqueza.
Braga, 4 de abril de 2021,
a Equipa Diocesana da LOC/MTC
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