Arquidiocese de Braga -

25 dezembro 2025

Fonte da Luz da luz

Fotografia

Homilia do Arcebispo, D. José Cordeiro, na Sé Primaz, 25 de dezembro de 2025

1. Fonte de Luz

Celebrar o Natal não é celebrar o aniversário de Jesus Cristo. 2025 anos depois celebramos o acontecimento que mudou a história humana: Deus faz-se um de nós para nos oferecer a sua maior dádiva. Encarnando e vivendo entre os seus filhos, Deus abre em definitivo a porta da salvação e todos podem ter acesso a essa porta. 

 Por isso, para nós cristãos a contagem do tempo ocorre não só na ordem cronológica, na mera sucessão dos dias e dos anos, mas também na ordem kairológica. É por isso que este dia de Natal se prolongará não apenas por vinte e quatro horas, mas por oito dias, para nos dizer que o Natal não marca um acontecimento qualquer, mas o evento decisivo de um Deus que está disposto a tudo para nos mostrar o seu amor, disposto até a dar a própria vida por nós, quando morre na cruz. 

Sim, «para nós cristãos, o sentido do Advento e do Natal vem do futuro, vem da Páscoa, a histórica e a nossa Páscoa eterna. A esperança é aquele momento em que o algoritmo falha e a graça entra na nossa vida. A máquina calcula, mas só a esperança cria. Somos feitos não para ser calculados, mas para ser criadores de novas histórias» (Laboratório da fé, 13 de dezembro de 2025). Natal é Luz da luz a cintilar em todos os caminhos de Páscoa e de Paz. Como Maria e José, levemos Jesus a todos e todos a Jesus.

2. Casa do Pão e pão em casa

Por isso, na sua grande sabedoria, a Igreja distende no tempo a celebração dos mistérios de Cristo, e isto para que tenhamos mais uma possibilidade de acolhermos o Verbo “que habitou entre nós”; mais uma oportunidade para nos deixarmos iluminar pela “luz verdadeira, que, vindo ao mundo, ilumina todo o homem”.  

Escutai, amigos, a feliz notícia: hoje em Belém de Judá nasceu para nós o Salvador” cantar-se-á em muitas paróquias da nossa Arquidiocese durante estes dias do Tempo do Natal.

Jesus nasce em Belém, para se cumprirem as Escrituras. Sabemos o significado desta palavra de origem hebraica: casa do pão. É em Belém que nasce Aquele que se fará pão para nos alimentar na Eucaristia. Na verdade, «Este pequenino, mal nasce, já sabe a pão; é Natal e já entrevemos a Páscoa» (F. Sieni).

3. Jesus no coração

Segundo a revista The Economist, a economia portuguesa é a “economia do ano” de 2025, dado o crescimento do produto interno bruto, a capacidade de gerar empregos e a baixa inflação, entre outros indicadores. 

Ao mesmo tempo, um relatório do Conselho Europeu diz que um habitante da cidade de Lisboa tem de dispor de 116% do seu salário para ter acesso a habitação condigna, o que significa que o salário de uma pessoa não chega para pagar uma renda. 

Isto diz-nos que embora tenhamos mais capacidade para pôr pão na mesa, não temos capacidade para ter uma casa, e todos sabemos a importância que ter um teto, um lugar onde morar, tem na vida e na dignidade de cada pessoa. Algo terá de ser feito para ultrapassar esta crise imobiliária. Talvez a responsabilidade não seja apenas do governo de Portugal, e todos tenhamos de perceber o que está ao nosso alcance fazer para encontrar uma solução que promova a dignidade de todas as pessoas. Somos esta sociedade de profundos contrastes e é nesta sociedade que somos chamados a viver a nossa fé e, de um modo particular, a celebrar o Natal. 

O Natal é tempo de solidariedade: são muitas as campanhas que se desenvolvem nesta altura para acudir aos que mais precisam. Mas celebrar o Natal e, sobretudo permitir que Jesus nasça no nosso coração, implica que a prática da caridade seja algo que incorporamos no nosso ser e que, por isso, não pode ficar reduzida a meros gestos ocasionais de partilha.

Se Cristo nasce em nós, deixamos que Ele tome conta de nós e que queiramos imitar o Seu modo de agir: em todos os momentos dar-se a si mesmo aos outros, amando sem olhar a quem. Verdadeiramente, «os mistérios do cristianismo são um todo indivisível. Quem aprofunda um, acaba por tocar em todos os outros. Assim o caminho que parte de Belém procede até ao Gólgota, vai da manjedoura à cruz» (Edith Stein).

Prestes a terminar um ano jubilar, que este Natal seja marcado pela decisão de transformarmos a nossa vida, para que da mesa da Eucaristia, alimentados pelo pão celeste, possamos ser pão para o mundo. 

 

+ José Manuel Cordeiro

Arcebispo Primaz