Arquidiocese de Braga -
19 outubro 2025
Relíquias de São Frutuoso repousam no mausoléu em Real 900 anos depois

DM - Francisco de Assis
Arcebispo de Braga presidiu à eucaristia solene da transladação das relíquias, em Real
Cerca de nove séculos depois, as relíquias de São Frutuoso, um dos Arcebispos Santos da Arquidiocese de Braga, regressaram ontem ao seu Mausoléu, Monumento Nacional, junto à igreja de São Francisco, em Real. Um dia histórico e de grande simbolismo testemunhado, entre outros, por personalidades como o Arcebispo de Braga, D. José Cordeiro, que presidiu à eucaristia solene; João Soalheiro e Carla Varela, do Instituto do Património Cultural; representantes da Casa Real Portuguesa, na ausência de D. Duarte Pio; personalidades civis, militares e académicas, além de João Rodrigues, presidente da Câmara de Braga eleito, o pároco de Real, cónego Hermenegildo Faria; ou Francisco Silva, presidente da União das Freguesias de Real, Dume e Semelhe.
Uma cerimónia simples mas de grande significado, como sublinhou o cónego Hermenegildo Faria, considerando que a transladação «encerra um ciclo milenar de devoção, memória e justiça histórica. Um momento único na história paroquial, arquidiocesana e nacional».
A transladação das relíquias de São Frutuoso para a velhinha capelinha visigótica, «única no mundo», dentro do Mausoléu, teve momentos de emoção, visíveis nos rostos e nas palavras do Arcebispo de Braga, sucessor de S. Frutuoso; de João Soalheiro, mas sobretudo de Carla Varela, uma das impulsionadoras do processo que culminou no regresso definitivo das relíquias ao espaço de onde foram retiradas, há quase 900 anos.
Antes da missa solene, o pároco de Real explicou aos presentes alguns pormenores do pio latrocínio, bem como todos os esforços feitos por muitos bracarenses, arcebispos de Braga e outras personalidades, para que as relíquias regressassem a Portugal e a Braga.
Aproveitavam-se todas as oportunidades diplomáticas e religiosas para reclamar a devolução das santas relíquias.
Os Arcebispos D. João Peculiar e D. Frei Bartololeu dos Mártires são apenas alguns exemplos. Também João Soalheiro, presidente do Instituto do Património Cultural, que se mostrou plenamente conhecedor do processo, deu conta dos esforços, sublinhando o amor que os bracarenses sempre nutriram por S. Frutuoso.
«Nós lutamos por aquilo que amamos. E em Braga lutou-se sempre, com amor e sincera devoção, pela devolução das relíquias de São Frutuoso», sublinhou, dando, por isso, os parabéns pela concretização do objetivo.
Carla Varela deu conta do enorme «prazer, alegria e emoção» pelo regresso das relíquias e explicou a criação do dispositivo onde as relíquias vão ficar.
D. Duarte Pio, não esteve presente, por estar com Covid, enviou uma mensagem de felicitação, e deixou a promessa de enviar um relicário de S. Frutuoso para Braga.
Para além das entidades oficiais e convidados, o povo de Real também esteve em grande número, a testemunhar a história.
S. Frutuoso é uma referência de fé e evangelização para os dias de hoje
A Transladação das relíquias de S. Frutuoso para o mausoléu, em Real, foi antecedida de uma eucaristia solene, celebrada pelo Arcebispo de Braga. Na véspera do Dia Mundial das Missões, na sua homilia, D. José Cordeiro expressou «humildade» perante as relíquias, considerando que São Frutuoso foi e é uma referência de fé, generosidade e evangelização para os dias de hoje.
Com a igreja de São Francisco cheia de fiéis e autoridades civis e religiosas que foram convidas para o momento histórico, o Arcebispo de Braga sublinhou, com gratidão e enorme esperança, o «ato de justiça e de fé» que é o regresso das relíquias ao local desejado pelo santo de Braga.
«É sobretudo um ato de fé, de acreditar que aquele homem, do primeiro milénio, foi uma referência para Braga e para as Espanhas, assim chamado, e por isso o título do arcebispo metropolitano de Braga leva também a gratidão e com enorme esperança», reforçando que hoje a relação com Compostela «é muito positiva».
O prelado bracarense frisou que o gesto de ontem tem um valor patrimonial, cultural e espiritual, que identifica o povo bracarense, «este povo com a marca tão identitária» na relação com os seus arcebispos.
D. José Cordeiro esteve em Guimarães onde decorre o “Renovar”, desde sexta-feira. E lembrou as palavras inspiradoras de S. Bartolomeu dos Mártires, “Arder e iluminar». Ou seja, só o que arde pode iluminar.
«E aquilo que senti hoje [ontem] durante o dia e amanhã [hoje] que se prolonga este encontro, referimos com toda a justiça e necessidade de São Frutuoso, impele-nos a sermos resposta para as problemáticas de hoje, para a realidade de hoje, como anunciar o Evangelho hoje, como ser uma marca positiva num tempo complexo, difícil mas que é o mais belo que temos para viver», recordou.
D. José Cordeiro reforçou o «testemunho decidido e forte de S. Frutuoso». «Todos nós somos missão, cada um no seu cargo», disse, a propósito do Dia Mundial das Missões.
Aproveitou a primeira leitura para lembrar a importância da oração. Que pode ser cansativa. «Mas é o rezar, a oração que dá sentido à vida. É como respirar. Rezar é sermos pessoas de esperança e fazer com que os outros que vivem à nossa volta também sejam pessoas de esperança e de paz».
E o Arcebispo de Braga sintetizou que a necessidade de mudar. Até porque, os santos «mudaram muitas vezes». E apelou a que os cristãos continuem a viver como «peregrinos de esperança» e «mensageiros de paz», melhores homens e cristãos.
A missa foi cantada e solenizada pela Escola de Música Litúrgica da Arquidiocese de Braga.
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