Arquidiocese de Braga -

20 outubro 2025

D. Nélio Pita desafiou pescadores a serem Missionários de Esperança

Fotografia Francisco de Assis

DM - Francisco de Assis

Bispo Auxiliar de Braga presidiu à festa do apostolado do Mar, que este ano decorreu nas Caxinas, em Vila do Conde

A igreja paroquial das Caxinas, em Vila do Conde, foi o local escolhido para a edição deste ano da festa do Apostolado do Mar, organizada pelo Stella Maris Portugal. No encontro com pescadores e peixeiras de vários pontos do país, D. Né-

lio Pita, Bispo Auxiliar de Braga, que se sentiu como peixe na água juntos dos homens e mulheres do mar, desafiou os pescadores a serem missionários de esperança, numa referência ao Dia Mundial das Missões, que a Igreja celebrou ontem.

O tempo chuvoso impediu a realização da tradicional procissão por algumas ruas da localidade, pelo que a festa fez-se só dentro da igreja-barco e posteriormente no restaurante. Um contratempo que não tirou brilho ao evento,no qual participaram também as autoridades civis, nomeadamente o presidente da Câmara Municipal de Vila do Conde e o presidente da Junta de Freguesia, bem como a capitã do Porto do Mar.

A eucaristia foi concelebrada pelo pároco, padre Daniel de Sousa Neves e pelo padre Casimiro Henriques, assistente nacional do Stella Maris Portugal.

Ao começar a sua homilia, o Bispo Auxiliar de Braga fez questão de dizer que era um «privilégio» para ele estar naquela celebração, tão típica, tão festiva e tão cheia de fé, junto de gentes do mar. Afinal, fez saber, sendo ele madeirense, o mar foi, provavelmente, a primeira paisagem que viu. «Sinto-me em casa, em família».

Sobre a festa do apostolado do mar, D. Nélio Pereira Pita apontou os nomes dos barcos, sempre com invocações a Deus, a Virgem Maria ou à fé em geral, como uma forma de oração em si. «Os barcos já são, em si, missionários de esperança. Têm uma marca identitária evidente de Deus.  Os pescadores são também missionários de Esperança. Não tenham medo de ser missionários», desafiou todos os cristãos presentes. «Devemos ser missionários de esperança para os homens e mulheres do nosso tempo.

O prelado recordou que o mar, é belo, mas é também um lugar de atribulações, é um lugar onde se aprende a rezar. Um pescador é um homem de fé».

«A oração é estruturante para todo o cristão»

Socorrendo-se do tema da oração das leituras de ontem, o Bispo Auxiliar de Braga começou por perguntar se um peixe pode viver fora de água. A resposta foi inequívoca. Ou seja, «não». E voltou a perguntar. «Uma pessoa pode viver sem respirar? Um cristão pode ter vida espiritual sem oração?», questionou, antes de o próprio responder: «Nós não podemos ter vida espiritual, não sem oração. A oração não é um acessório, é estruturante. Pensem numa planta. Uma planta, para que ela viva, não basta que ela seja encharcada uma vez e depois esquecida nos próximos dias, durante semanas, ela precisa ser constantemente regada», comparou.

Sempre procurando interação com os fiéis, D. Nélio Pita fez catequese sobre o que é oração e o que não é oração. «A nossa vida espiritual, se não for regada com a oração, definha. Morremos e acabamos por viver como pagãos. E nós sabemos que um padre pode viver como pagão, um bispo pode ser um pagão, um católico batizado pode ter um comportamento verdadeiramente contrário aos valores do evangelho. Porquê? Porque a sua vida interior não é alimentada pela força da oração».

O Bispo Auxiliar de Braga desafiou ainda os presentes a desligarem-se um pouco do mundo para dar tempo de silêncio e oração. Que dispensem algum tempo para rezar. E pediu também que rezem em família. E citou, com ajuda dos presentes, a frase de São João Paulo II, segundo a qual, «família que reza unida permanece unida», lembrando que todos precisamos uns dos outros.

Um dos momentos de grande simbolismo, foi o ofertório, onde as mulheres e homens do mar ofereceram objetos relativos à sua atividade diária.

Na procissão de entrada, além do andor de Nossa Senhora dos Pescadores, seguiram várias bandeiras processionais das diferentes comunidades piscatórias que participaram na Festa do Apostolado dos Pescadores.

Festa do Apostolado do Mar serve para celebrar a vida

Caxinas, Vila do Conde, foi o local eleito para acolher a Festa do Apostolado do Mar, organizado pelo Stella Maris, um movimento da Igreja católica vocacionado para acompanhar, pastoral e espiritualmente, os homens e as mulheres que trabalham no mar, procurando responder a novas realidades dos desafios pastorais. Mas a festa dos pescadores é, essencialmente, para celebrar a vida e agradecer a Deus.

Em declarações ao Diário do Minho, Armando Oliveira, presidente do Stella de Marias de Portugal, explicou que se trata de uma festa que se realiza anualmente, onde reúnem todos os setores a nível nacional. Desde Viana do Castelo até a Fuzeta. «É para comemorarmos também em si e para os grupos estarem mais unidos, para um convívio entre os grupos que nós fazemos. Além do retiro, para não ser sempre no mesmo local, em Fátima, nós escolhemos uma localidade todos os anos para nos reunirmos». Ontem, para além da missa, houve um almoço/convívio, onde todos puderam brincar, reviver, contar peripécias do mar e da terra, matar saudades, uma vez que há uma boa convivência entre eles. «Estamos a celebrar a vida».

Segundo Armando Oliveira, este ano participaram no evento cerca de 270, porque este ano algumas praias não puderam vir. Porque, normalmente, na festa participam à volta de 300, 350 pessoas.

Por sua vez, o padre Casimiro Henriques, assistente nacional do Stella Maris Portugal, também abordou o sentido da festa. «Não só pela Eucaristia, que já em si é, de facto, uma ação de graças, mas o encontro dos pescadores também tem esta carga emotiva.  A gente sabe que os pescadores são marcados também pelas tragédias que vão acontecendo, nos naufrágios e perdas no mar. Por isso mesmo, encontrarmos em contexto da Eucaristia, encontrarmos num encontro nacional é também isso: rever as pessoas de quem nós gostamos, que fazem parte dos outros grupos, que falam a nossa linguagem, que têm a mesma identidade do mar entre todos os homens e mulheres. Por isso, tem toda a razão naquilo que diz: é de facto um momento de celebrar a vida, de dar graças a Deus também por mais um ano de vida, e para podermos estar aqui. Tem essa carga e essa dimensão».

Recorde-se que atualmente, o Apostolado do mar está organizado em Vila Praia de Âncora, Viana do Castelo, Caxinas, Aveiro, Buarcos, Nazaré, Peniche, Setúbal (Anunciada e São Sebastião), Sesimbra e Fuzeta, além  do Stella Maris de Leixões.

Vale a pena enaltecer a qualidade do coro que solenizou a eucaristia.