Arquidiocese de Braga -

3 outubro 2025

Sinal de Esperança

Fotografia DM

Homilia do Arcebispo, D. José Cordeiro, na missa de início de ano da UCP – Braga, 2 de outubro de 2025

1. Verdade e simplicidade

Os anjos, como o próprio nome indica na sua origem grega, são mensageiros de Deus. Deus serve-se destas criaturas para transmitir um anúncio, uma mensagem, tal como aconteceu com Maria na anunciação. 

Os anjos são também sinal da providência paterna de Deus, sinal do seu amor por nós e de que nos quer bem em todas as circunstâncias. Apesar de falarmos, na memória que hoje celebramos, em Anjos da guarda, e de a doutrina cristã dizer que Deus atribui a cada um dos seus filhos um anjo protetor, isso não significa, porém, que seja uma espécie de amuleto ou de armadura que afasta de nós os males. A providência de Deus é garantia da Sua vontade salvífica e de que Ele está connosco em todos os momentos. 

Os anjos são mensageiros da vontade de Deus e sinais da Sua presença entre nós e todos nós podemos ser anjos. Na verdade, «Não é necessário passar pela porta do paraíso para poder encontrar um anjo» (K. Gibran).

Fazer-se pequeno, como as crianças que Jesus apresenta como modelo no evangelho hoje escutado, é viver com verdade e simplicidade, servindo e ajudando os outros, sem impor condições e sem segundas intenções, sabendo-se amado e nunca abandonado por Deus, e que n’Ele teremos sempre um colo de misericórdia onde nos aconchegarmos. 

2. Sal e luz do mundo

Sendo uma universidade um lugar para a reflexão mais profunda, um lugar onde as diversas visões de mundo são apresentadas e debatidas, a Igreja não pode dispensar a sua presença nestes lugares. Assim, uma universidade católica tem de ser capaz de apresentar o contributo da fé cristã para a construção do mundo de hoje.

Por isso, a Universidade Católica não pode formar apenas para a vertente racional. Tem de formar seres humanos num todo coerente, e sobretudo coerente com o Evangelho, para que cada discípulo de Cristo seja aquilo que o Mestre pediu que sejam: sal da terra e luz do mundo (cf. Mt 5, 13-16). 

Na mensagem enviada aos participantes na 28.ª Assembleia Geral da Federação Internacional das Universidades Católicas, realizada em julho passado no México, o Papa Leão XIV escreveu que “Cristo não se apresenta como um estranho ao discurso racional, mas sim como uma pedra angular que confere sentido e harmonia a todos os nossos pensamentos, a todos os nossos anseios e aos nossos projetos para melhorar a vida presente e para dar significado e transcendência ao esforço humano”.

3. Jesus Cristo, chave de leitura

Assim, Cristo terá de ser sempre a chave de leitura, a bússola que orienta o estudo e a reflexão de cada membro desta Universidade, quer seja na Teologia, na Filosofia ou no Serviço Social. Isso será a nossa identidade, o que nos distingue e o que nos leva a querer estar no mundo colocando-nos ao serviço para transformar esse mundo, colaborando com o verdadeiro Mestre, até que o mundo se transforme em Reino de Deus, onde a tolerância, a paz, a justiça e a fraternidade são colocadas em prática e ao serviço do bem comum de todos os seres humanos. 

Camilo Castelo Branco em Novelas do Minho registou em sinal de esperança: «As serras têm sombra do infinito. O coração aí é maior que as dimensões do peito. O homem, como se vê só, no cabeço de um fraguedo. Dá-se grandeza extraordinária, mede-se pelo comprimento de horizonte a horizonte».

A Eucaristia é o grande horizonte de esperança, lugar da escuta da Palavra e da experiência do mistério do pão dos anjos para alimentar o caminho de verdade, de confiança e de paz. Jesus Cristo é a nossa paz (cf. Ef 2,14).


 

 

 

+ José Manuel Cordeiro