Arquidiocese de Braga -

14 julho 2025

Opinião

A Igreja de São Paulo

A Igreja de São Paulo, também conhecida como Igreja do Colégio ou do Seminário, é um dos templos mais imponentes da cidade de Braga. Edificada, no decorrer do século XVI, para servir o Colégio de São Paulo, haveria de tornar-se sede do Seminário Conciliar a partir de 1880.O Colégio de São Paulo fora instituído pelo arcebispo D. Diogo de Sousa no ano de 1531, após insistentes tentativas e plausivelmente com a ambição de instituir ali um Colégio de Artes e Teologia (Rodrigues, 1978). Um dos seus sucessores, D. Henrique, futuro cardeal e monarca, daria novo impulso a este projeto pedagógico, tendo a finalidade de o transformar numa universidade. Entretanto, D. Frei Bartolomeu dos Mártires concretizaria a sua cedência à Companhia de Jesus em 1560. Os Jesuítas haveriam de administrar esta instituição arquidiocesana durante praticamente dois séculos, até à fatídica perseguição pombalina.

No edifício do antigo colégio de S. Paulo o grande destaque vai para o templo. A igreja detém uma fachada quase sem ornamentos, mas com uma dimensão invulgar. No que respeita ao templo, seria concebido segundo os cânones arquitetónicos jesuíticos, sendo dotado de uma fachada imponente, mas quase sem ornamentos, estando o interior concebido com um “vasto espaço”, “livre de pilares ou colunas”, transepto pouco saliente” e “teto plano” (Patteta, 2003), permitindo uma melhor acústica e concentração de fiéis. No mesmo ano, seria assinado o contrato para se pavimentar a igreja, com pedra vinda de Montariol. 

Apesar do colégio ter começado a funcionar durante a prelazia de D. Henrique, que perdurou entre 1533 e 1540, sabemos que a edificação do templo apenas terá sido concluída no final da centúria, pois apenas em outubro de 1592 foi feito o contrato para se “desentulhar a Igreja”. Na segunda metade do século seguinte, iniciar-se-ia a ornamentação do seu interior, ao gosto do barroco do período nacional. 

Apenas após o processo de edificação do templo estar concluído, seria iniciado o processo de adorno do seu interior. Em 1658 surgiria o altar de Nossa Senhora da Conceição, que apresenta uma interessante iconografia da árvore de Jessé, única na arte religiosa bracarense. No ano seguinte seria entalhado o altar de Nossa Senhora da Piedade, enquanto, em 1660, surgiria o altar de Santo Inácio de Loyola, o fundador dos Jesuítas. Algumas décadas depois, surgiria o altar de São Francisco Xavier, cofundador desta ordem religiosa. 

Entre os retábulos laterais saliente-se o retábulo de Santa Quitéria, mártir bracarense dos primeiros séculos, que é representada juntamente com as suas oito irmãs também mártires. Destaque-se igualmente o retábulo de Nossa Senhora da Boa Morte, um culto muito caro aos jesuítas, que aqui detinha uma corporação responsável e uma celebração anual que incluía uma procissão pelas ruas da cidade.

A capela-mor do templo, impressionando pela sua imponência, com a sua abóbada elegantemente revestida a granito, detém um retábulo-mor concebido em talha dourada datado de 1709 e deve-se ao entalhador Luís Vieira da Cruz, que terá aproveitado as colunas do primitivo retábulo. A colocação dos azulejos historiados na capela-mor, que têm sido atribuídos ao enigmático mestre PMP, foi realizada em 1720.

No interior do templo destaca-se ainda um órgão de tubos pneumático, datado de 1896-99. Destaque-se ainda o conjunto escultórico dos Evangelistas, concebido por António Pinto de Araújo entre 1754 e 1756. O retábulo mais recente, concebido na mesma linguagem artística dos anteriores, é consagrado a Nossa Senhora de Fátima. Correspondendo ao primeiro retábulo, do lado direito de quem entra, data de meados do século XX, sendo encimado pelo brasão do arcebispo D. António Bento Martins Júnior, que governou a Igreja de Braga entre 1932 e 1963. 

Apesar de devotado a São Paulo, o templo não exibe um culto particular ao seu orago. Sabemos que primitivamente o altar-mor era recoberto por uma tela de grandes dimensões, representando a conversão de São Paulo, entretanto desaparecida. Em 2008, ano especialmente devotado a este apóstolo, a comunidade do Seminário adquiriu um conjunto de telas da pintora Ilda David, alusivas à vida de São Paulo, que seriam integradas nas últimas capelas do templo.  

Após a extinção do Colégio de São Paulo, ocorrida em 1759, tal como todas as demais instituições da Companhia de Jesus, o edifício seria doado uma década depois às freiras franciscanas de Monção e Valença, que o ocupariam parcialmente sob a designação de Convento de Santa Isabel. Essa ocupação perduraria apenas até 1785, ano em que seria ocupado pelas Ursulinas, que aí permaneceriam até 1834, ano em que foram extintas as ordens religiosas. 

Após a morte da última freira professa, o edifício passaria a acolher o Seminário de São Pedro, que estava sediado no Campo da Vinha. A mudança para o antigo Colégio de São Paulo decorreu a 14 de outubro de 1880, passando, depois disso, a designar-se como Seminário de São Pedro e São Paulo. 

Ocupado após a implantação da República pelo Regimento de Infantaria 29, haveria de ser devolvido à Arquidiocese de Braga em 1948, tendo voltado a ser sede do seminário a partir de 1997. Após alguns anos encerrada, a Igreja de São Paulo seria restaurada em 2002, confirmando-se como um dos mais belos templos da cidade de Braga.