Arquidiocese de Braga -

18 junho 2025

Uma Igreja que caminha em Sinodalidade

Fotografia CEP

Comunicação CEP

Reflexões das Jornadas Pastorais do Episcopado 2025

Entre os dias 16 e 18 de junho de 2025, reuniram-se em Fátima, na Casa de Nossa Senhora das Dores, os Bispos portugueses, representantes das equipas sinodais diocesanas, dos órgãos nacionais da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), bem como membros dos Movimentos e dos Institutos Religiosos e Seculares, para as Jornadas Pastorais do Episcopado. Estas jornadas, sob o tema “O processo sinodal nas Dioceses e na Conferência Episcopal Portuguesa”, constituíram um tempo fecundo de escuta, partilha e discernimento comum sobre o caminho sinodal que a Igreja em Portugal tem vindo a trilhar. Mais do que um encontro de balanço, estas jornadas procuraram ser um verdadeiro exercício de sinodalidade, onde cada voz, a partir do seu batismo, foi chamada a contribuir para a construção de uma Igreja que caminha junta, em permanente conversão e aberta ao Espírito.

O primeiro momento das jornadas foi marcado pela conferência de abertura, proferida por D. Alexandre Palma, que nos ofereceu uma reflexão sobre a Teologia e Espiritualidade Sinodal. A partir de uma abordagem enraizada no magistério e na experiência eclesial vivida, D. Alexandre convidou todos os presentes a compreender a sinodalidade não como um mero instrumento de organização ou de gestão, mas como um modo de ser Igreja. Apontou seis dimensões essenciais que estruturam esta compreensão: a dimensão teológica trinitária, que reconhece a Igreja como comunhão a partir da própria comunhão de Deus; a dimensão batismal, que sublinha a dignidade e a corresponsabilidade de todos os fiéis; a dimensão escatológica, que impele a Igreja a uma conversão permanente; a dimensão histórica, que a convida a discernir os sinais dos tempos; a dimensão missionária, que recorda que todos são enviados; e a dimensão ecuménica, que apela à reconciliação e à unidade.
Esta intervenção inaugural suscitou uma questão proposta à reflexão em grupos: "Que outras dimensões, fundamentos e critérios podemos identificar para uma teologia e espiritualidade sinodal?". A escuta das partilhas que se seguiram revelou a riqueza do sensus fidei do Povo de Deus, manifestando um autêntico desejo de se aprofundar e alargar os horizontes do caminho sinodal. Assim, foram identificadas diversas dimensões complementares que enriquecem a compreensão da espiritualidade sinodal. Destacou-se, por exemplo, a dimensão mariana, que, inspirando-se em Maria, modelo de escuta, ternura e de coragem profética, convida a Igreja a cuidar com afeição e a proclamar com ousadia. Sublinhou-se também a importância da presença da Igreja, desafiada a habitar com criatividade os novos espaços de relação, comunicação e evangelização, sobretudo junto dos jovens. A dimensão estética e litúrgica foi igualmente valorizada como via para acolher a beleza que conduz a Deus, integrando a arte, a música e a cultura popular na expressão da fé.
Outras dimensões emergiram com força: a pastoral, que apela à ousadia missionária; a fraterna e comunitária, que exige a reconciliação e o cuidado nas relações; a ontológica, que reconhece a necessidade de autoconhecimento para a verdadeira entrega; a formativa, que aponta a urgência de formar para a sinodalidade; a ministerial, que valoriza os diversos carismas e vocações na Igreja; a histórica, que convida a ler com sabedoria os sinais dos tempos; e a contemplativa, que recorda que a oração partilhada é o coração do discernimento comum. Estas dimensões, longe de esgotar a riqueza do tema, apontam para uma espiritualidade encarnada, dialogante e atenta à realidade concreta das comunidades.

O segundo momento das jornadas foi dedicado à reflexão sobre a implementação do processo sinodal nas dioceses. Os grupos de trabalho partilharam as experiências, os avanços e os desafios vividos em cada realidade local. Constatou-se com alegria que todas as dioceses estão envolvidas no caminho sinodal, com ritmos e metodologias próprias, mas unidas por uma vontade comum de conversão pastoral. Destacou-se a generalização da prática da “conversação no Espírito”, que tem gerado frutos de escuta profunda e discernimento partilhado. Os conselhos pastorais foram e estão a ser revalorizados como espaços de corresponsabilidade eclesial, e há uma renovada necessidade de formar leigos, clero e consagrados para a missão, em jeito sinodal.
Todavia, os grupos também assinalaram várias dificuldades: resistências culturais, falta de tempo e de meios, dificuldades de comunicação e cansaço institucional. Sublinhou-se a importância de não reduzir a sinodalidade a um evento, mas de a integrar como cultura permanente. Notou-se a necessidade de se envolver mais efetivamente os jovens, os mais afastados e aqueles que estão à margem das estruturas eclesiais. Apelou-se ao reforço da sinodalidade nos seminários, nos itinerários catequéticos e nas estruturas de governo pastoral. A sinodalidade, disseram vários participantes, só será verdadeira se passar das palavras aos gestos concretos de escuta, participação e decisão partilhada.

O terceiro momento das Jornadas centrou-se na análise do processo sinodal nos órgãos de comunhão nacional da Igreja em Portugal, com particular atenção à estrutura e ao funcionamento da Conferência Episcopal Portuguesa. Neste âmbito, foram apresentadas propostas concretas que apontam para uma verdadeira conversão institucional.
Desde logo, destacou-se a importância crucial da comunicação: é fundamental comunicar bem, com clareza e proximidade, sem deixar nenhuma realidade nem pessoa para trás.
Sublinhou-se, igualmente, a urgência de maior transparência e prestação de contas, nomeadamente, através da elaboração de relatórios acessíveis e da criação de canais de comunicação mais eficazes entre os organismos nacionais, em articulação com as dioceses e outras estruturas eclesiais. Propôs-se ainda a simplificação das estruturas existentes e a revisão dos estatutos, com uma aposta clara na constituição de equipas integradas, que conjuguem diversas vocações, experiências e saberes da vida eclesial, valorizando tanto as competências técnicas como a maturidade espiritual.
Foi também enfatizada a necessidade de se delinearem linhas programáticas comuns para a ação pastoral da Igreja em Portugal, após um processo de escuta sinodal das dioceses.
Destacou-se ainda a importância de fomentar redes interdiocesanas, promovendo espaços de cooperação, partilha de boas práticas e construção conjunta de projetos pastorais. A missão comum da Igreja em Portugal exige sinergias, convergências e um espírito de unidade, sem sufocar a legítima diversidade. Neste sentido, defendeu-se uma presença mais ativa da Igreja nos debates públicos, com uma linguagem acessível, enraizada no Evangelho e incarnada na vida concreta do povo.
A cultura da avaliação foi apontada como um elemento essencial de maturidade institucional: avaliar para crescer, escutar para corrigir, discernir para decidir em comunhão.

Estas Jornadas não se encerraram com conclusões definitivas, mas com um horizonte de esperança e de compromisso renovado. A sinodalidade – que no dizer do Papa Leão XIV se “deve tornar mentalidade, no coração, nos processos de decisão e nos modos de agir” – está viva em Portugal, em processo e em construção. Estamos a aprender a caminhar juntos, a escutar com mais profundidade, a discernir com o coração e a decidir com humildade. Como referiu um dos grupos: “Talvez um dia deixemos de usar a palavra sinodalidade, porque ela já será o modo natural de sermos Igreja”. Este sonho, que brota do Evangelho e do sopro do Espírito, exige coragem, conversão e perseverança.
As Jornadas Pastorais do Episcopado 2025 foram um sinal concreto de que este caminho sinodal é possível. Com Maria, modelo de escuta e disponibilidade, com Pedro, chamado a confirmar os irmãos na fé, e com toda a Igreja, seguimos juntos como discípulos de Jesus, na certeza de que o Senhor caminha connosco, conduzindo-nos para a unidade plena e para a missão sempre nova de anunciar o Reino de Deus.

Fátima, 18 de junho de 2025