Arquidiocese de Braga -
25 abril 2025
Opinião
25 de Abril e Páscoa: Liberdade e Responsabilidade de todos

José Milton Ferreira da Silva
O 25 de Abril de 1974, conhecido como a Revolução dos Cravos, marcou o fim da ditadura em Portugal e o início de uma nova era de liberdade e democracia. Este evento não se fixou no tempo, mas transcende-o, sendo atualizado permanentemente no coração de cada cidadão português como o dia da Liberdade. Este marco é fruto de décadas de desencantos que despertaram o povo para um novo caminho, finalmente alcançado com a Revolução dos Cravos. Esta transformação social também possibilitou uma renovação espiritual em toda a população que, em analogia à Páscoa judaica, passou a celebrar a grande conquista após longas décadas de “deserto”, de provação, aprendizado e transformação, gerando uma nova consciência de liberdade em oposição aos modelos que oprimem as capacidades de escolhas dos cidadãos. O 25 de Abril, em sintonia com o espírito pascal, é um memorial, uma atualização da história que apela à reflexão e à responsabilização de todos os cidadãos portugueses.
Em conexão com a visão cristã, tão presente na cultura portuguesa, a liberdade não significa apenas autonomia ou ausência de opressão, mas é a capacidade para viver o bem, escolhendo e agindo com responsabilidade para o benefício e a dignidade de todos, sobretudo daqueles que são desfavorecidos na sociedade. A liberdade, à luz da Páscoa cristã, não é fazer o que apetece, mas uma atitude solidária que impulsiona a pessoa para preparar e celebrar a redenção de todos, sem hesitar em experimentar os sacrifícios individuais e coletivos que promovem a transformação social em defesa da vida de todos.
E por falar em sacrifícios, não nos faltam exemplos, de cristãos ou não-cristãos, que assumiram o sacrifício da oferta total da própria vida. São os nossos mártires, muitos deles anónimos, que incansavelmente marcharam para a construção de um caminho novo e promissor para todos. A cultura portuguesa é rica de grandes exemplos de homens e mulheres que, com coragem e fé, lutaram firmemente pela liberdade, dignidade e justiça do povo português. Destes podemos citar pelo menos três grandes personagens da Revolução dos Cravos: Zeca Afonso, Ernesto Melo Antunes e Salgueiro Maia, que exemplificaram o sacrifício e a coragem necessários para conquistar a liberdade. Estes exemplos, como de tantos outros que defenderam a liberdade e a dignidade dos povos, devem ensinar-nos que esta luta, esta missão pela liberdade, transcende fronteiras, levando ao mundo a mensagem de que todos somos responsáveis e guardiões dos valores e direitos nobres garantidos pelas leis naturais e civis.
A figura de Cristo, no cenário da celebração da liberdade em Portugal, convida-nos ao serviço e ao amor ao próximo, expressão máxima da liberdade responsável que é a entrega total e livre de si (cf. Jo 10, 18) para a comunhão que reergue os caídos e que são vítimas da injustiça, desigualdade, corrupção, discriminação, exclusão e tantos outros fatores que afetam os direitos e a liberdade dos povos.
Celebrar o 25 de Abril não deveria ser apenas um gesto festivo, mas um “sacramental” (sinal visível = rito) que ajuda toda a nação a renovar a responsabilidade de preservar e promover as conquistas que Portugal alcançou, ultrapassando as barreiras que inibem a liberdade plena de todos. O 25 de Abril é um convite a perceber que a liberdade alcançada é, na verdade, um compromisso que deve ser renovado diariamente e por todos, para que os condicionantes que manipulam e escravizam os povos possam ser extintos das nossas relações sociais, para que não haja mais racismo, xenofobia, violência doméstica, dependências e vícios modernos, corrupção e tantos outros modelos que criam barreiras à liberdade.
Aprofundemos o entendimento da liberdade de maneira mais significativa, indo além dos preceitos e das aparências. Deixemos que o 25 de Abril, como a Páscoa cristã, nos lembre que cada português é importante e tem um papel vital na sociedade. Assumamos a consciência de que todos somos chamados a ser guardiões da liberdade, alimentando-a com amor, responsabilidade e justiça. Marchemos, de mãos dadas e com consciência coletiva, rumo à liberdade diária que se alcança com coragem e humildade, mas acima de tudo, com sacrifícios de amor e fé.
José Milton Ferreira da Silva, do elemento do CMAB e professor de EMRC
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