Arquidiocese de Braga -

22 fevereiro 2025

“A sinodalidade como profecia social”

Fotografia Vatica Media

CNJP - Comissão Nacional Justiça e Paz

A Doutrina Social da Igreja é um alicerce de compromisso cristão, ao impor o “empenho pela paz e a justiça”, o “cuidado da casa comum” e o “diálogo intercultural e inter-religioso”. A preciosa chamada de atenção encontra-se em Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão, Documento final da XVI Assembleia Geral ordinária do Sínodo dos Bispos, resultado do caminho sinodal, iniciado pelo Papa Francisco em Outubro de 2022.

A Doutrina Social da Igreja deve, por isso, ter uma “maior difusão entre o Povo de Deus”, para que os cristãos se comprometam “na construção de um mundo mais justo e fraterno”, “pela defesa da vida e dos direitos da pessoa, pelo justo ordenamento da sociedade, pela dignidade do trabalho, por uma economia justa e solidária, pela ecologia integral, fazendo parte da missão evangelizadora que a Igreja é chamada a viver e encarnar na história”.

“A sinodalidade como profecia social” é um apelo decisivo sobre os caminhos percorridos e a percorrer. As realidades de vida do Povo de Deus e de toda a criação não podem ser indiferentes neste percurso de renovação de toda a comunidade eclesial. O documento nota que o pecado existe quando se age “contra a paz, a criação, os povos indígenas, os migrantes, as crianças, as mulheres, os pobres, a escuta, a comunhão”. Daqui decorre que a sinodalidade exija “arrependimento e conversão”.

O documento indica que, “praticado com humildade, o estilo sinodal pode fazer da Igreja uma voz profética no mundo de hoje”, uma voz que seja, portanto, audível e credível – ou seja, persuasiva – numa “época marcada pelo aumento das desigualdades, pela crescente desilusão com os modelos tradicionais de governação, pelo desencanto com o funcionamento da democracia, pelo aumento das tendências autocráticas e ditatoriais, pelo predomínio do modelo de mercado sem ter em conta a vulnerabilidade das pessoas e da criação, e pela tentação de resolver os conflitos através da força e não do diálogo”.

É necessário renovar os estilos de vida e o compromisso com o bem comum de toda a criação. Trata-se de imperativos de todo o Povo de Deus. A eucaristia deve deixar de ser rotina ou obrigação e tornar-se o alimento para a vida cristã: “O dom da comunhão, da missão e da participação – os três eixos portadores da sinodalidade – realiza-se e renova-se em cada eucaristia”.

Somos chamados, estimulados, neste percurso sinodal, ao compromisso social com a justiça e a paz dos povos. A missão é de todos os baptizados: “Cada baptizado responde às exigências da missão nos contextos em que vive e trabalha”. De facto, “os cristãos que, a diferentes títulos – na família e noutros estados de vida, no trabalho e nas profissões, no empenho cívico ou político, social ou ecológico, na elaboração de uma cultura inspirada no Evangelho como na evangelização da cultura em ambiente digital – percorrem os caminhos do mundo e nos seus ambientes de vida anunciam o Evangelho, são sustentados pelos dons do Espírito”. O documento aponta algumas prioridades para a renovação sinodal, assinalando o quão decisiva é a participação das mulheres, dos jovens e dos pobres.

“Alguns momentos cruciais da história da Igreja confirmam o contributo essencial das mulheres movidas pelo Espírito”, refere o documento, notando que elas “constituem a maioria daqueles que frequentam as igrejas e são frequentemente as primeiras testemunhas da fé nas famílias”.

Quanto aos jovens, eles têm também um contributo decisivo a dar para a renovação sinodal da Igreja por serem “particularmente sensíveis aos valores da fraternidade e da partilha, recusando atitudes paternalistas ou autoritárias”.

O texto faz igualmente notar que no coração de Deus há um lugar preferencial para os pobres, os marginalizados e excluídos, pelo que eles devem também estar no coração da Igreja: “A opção preferencial pelos pobres está implícita na fé cristológica”. A Igreja é chamada a ser “pobre com os pobres” e “a escutá-los e a considerá-los sujeitos da evangelização”.

Agora é o tempo de, e não apenas nas paróquias, nas dioceses ou nos movimentos eclesiais, dar corpo e vida ao Documento final, o resumo de quatro anos de escuta e reflexão, tornando-o mais um impulsionador da nova etapa de um processo sinodal que concretiza um desafio do Concílio Vaticano II sobre a construção de uma Igreja menos piramidal e mais Corpo de Cristo, em que todos os membros, mesmo diferentes, se sentem incluídos, participantes e responsáveis da missão evangelizadora. O documento apresenta propostas de mudança, portas e janelas abertas para a necessária renovação, para o caminho que há a fazer.

A Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de Braga recomenda a leitura atenta de Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão.

 

Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de Braga
Fevereiro 2025