Arquidiocese de Braga -
21 fevereiro 2025
D. José Cordeiro leva à UMinho nova análise sobre a interpretação dos textos sagrados
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DM - Carla Esteves
O Arcebispo de Braga falou sobre a interpretação humana da Bíblia num colóquio da Escola de Letras da UMinho
O Arcebispo de Braga levou, ontem, à Escola de Letras, Artes e Ciências Humanas (ELASH) da Universidade do Minho (UMinho) uma nova e valiosa abordagem acerca da hermenêutica ou interpretação humana dos textos sagrados. Durante o colóquio “Velhos e novos falares politicamente corretos”, a propósito da publicação “Enfermidades da Língua”, D. José Cordeiro apresentou uma abordagem acerca do estudo e interpretação das Sagradas Escrituras.
D. José Cordeiro explanou o tema em quatro pontos distintos: a hermenêutica dos textos sagrados na Igreja (a interpretação dos mesmos); a Tipologia Bíblica, a Lectio Divina e a Mistagogia Litúrgica.
Debruçando-se sobre autores como o italiano Erri de Luca e o Cardeal José Tolentino de Mendonça, e os seus estudos bíblicos, o Arcebispo Primaz salientou que a vida da Igreja se alicerça nos textos sagrados da Bíblia, da qual a Liturgia é parte integrante, enquanto lugar onde a Palavra é proclamada.
D. José Cordeiro transmitiu ao público presente no auditório da ELACH que “a interpretação humana dos textos sagrados, isto é, a exegese ou a hermenêutica, não tem um método próprio e exclusivo”, não podendo a Bíblia “ler-se apenas como um livro, correndo o risco de se perder o conceito de biblioteca e das épocas culturais em que foi escrita”.
Admitindo que “a interpretação da Bíblia apresenta as suas dificuldades, porque a par dos textos límpidos, existem textos obscuros”, D. José Cordeiro apontou caminhos como a “Tipologia Bíblica” enquanto interpretação da Palavra, podendo ser utilizada tanto para interpretação dos acontecimentos bíblicos como dos ritos litúrgicos.
Reforçando que “devemos ler as Sagradas Escrituras na mesma fé viva da Igreja em que elas surgiram”, o Arcebispo Metropolita explorou também a “Lectio Divina”, enquanto prática e método de oração, como condição necessária para que a fé frutifique.
“Cada cultura sabe também enculturar a própria Palavra de Deus. A educação acontece pela participação, na interpretação dos textos sagrados”, argumentou, acrescentando que “a própria celebração é a escola mais eficaz da educação bíblica, litúrgica, aquilo a que damos o nome de catequese”.
Esclareceu também aspetos da Mistagogia Litúrgica, ou a iniciação aos mistérios .
Agradecendo a oportunidade da partilha, D. José Cordeiro terminou com uma citação do autor Erri de Luca, afirmando: “Enquanto a cada dia me puder deter nem que seja sobre uma só linha das Escrituras, não perderei o espanto de estar vivo”
Sobre “Enfermidades da Língua”, o professor José Teixeira da ELACH, UMinho, deixou a seguinte questão «uma obra para iludir a censura linguística em tempos pombalinos?”.
Sobre esta obra escrita em meados do século XVIII, em pleno consulado do Marquês de Pombal, escrita por Sylvestre Silverio da Silveira Silva, provável alter ego de Manuel José de Paiva, José Teixeira, questiona se o autor quererá mesmo, como se diz, abolir cerca de quatro mil termos e expressões da língua portuguesa ou se apenas se tratou de uma estratégia para passar inquisição e fugir da “imoralidade do silêncio” que a obra defende.
Na sua apresentação José Teixeira falou sobre o conteúdo da obras, abordando diversas expressões populares e sarcásticas usadas no original e atualizadas por José Teixeira, que considera que o livro revela o debate que atravessa gerações: a ideia de que a língua está doente e as novas gerações a estão a deturpar”.
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