Arquidiocese de Braga -

13 fevereiro 2025

Opinião

Os peregrinos de esperança confiam no Senhor

José Milton Ferreira da Silva

Estamos a viver um momento histórico em que o mal parece prevalecer sobre o bem. Em contrapartida, a Igreja abre as portas do Ano Jubilar, cujo propósito é despertar os cristãos para a confiança em Deus, através da oração e da esperança ativa. Neste sentido, não podemos fazer uma interpretação equivocada e vazia sobre o que é ser «Peregrinos de Esperança». A falta de fé e a caridade proposta no Evangelho, impedem-nos de viver a esperança cristã, as coisas do alto e do Espírito (cf. Jo 3), tão necessárias para nos transformar em «novas criaturas» (cf. 2Cor 5, 17; Mc 2, 22), num mundo cada vez mais incerto e de dúvidas.

O Jubileu de 2025 não é um convite sentimental a um otimismo infundado sobre a esperança, mas um chamado para uma contínua peregrinação física e espiritual. Não se trata apenas de encontros formativos com temas sobre a esperança. É uma meta que é alcançada no Caminho, na marcha permanente rumo à morada eterna (cf. Sl 14, 1-5; 121, 1-9), nossa felicidade, que tem em Cristo a nossa confiança e auxílio (CIC 1817). O Jubileu é uma provocação evangélica intrinsecamente ligada à e à felicidade plena (cf. Jo 10, 10). Vai além de atos simbólicos e nos apela a transformação interior que afasta o mal e o medo (Sl 27, 1). Ser Peregrino de Esperança implica revisitar e reavivar o nosso batismo e a nossa vocação de discípulos-missionários de Cristo, sendo sacramento, sinal visível do Amor no mundo.

A esperança que move os cristãos estabelece uma relação entre a razão e a fé, onde os fiéis entendem claramente que a esperança e a oração cristã têm Jesus como modelo de vida, cuja bondade de Deus não espera milagres do sofá de casa. Temos de estar dispostos a colaborar com a graça divina, semeando a confiança na misericórdia de Deus que nos aproxima do próximo sem julgamentos e condenações (cf. Jo 8, 11; lc 23, 4), mas materializando o rosto e cuidado de Deus por todos nós.

O Ano Jubilar é um período santificante que nos ajuda a celebrar, refletir e buscar a renovação de vida, numa união inquebrantável com o amor divino que nos purifica dos pecados, através da porta estreita, e que nos conduz à Porta celestial (cf. Mt 7, 13-14).

A esperança cristã não nos promete prazeres temporais ou riquezas materiais, mas o tesouro maior, que é Jesus, o estandarte da Paz, a Porta pela qual entramos na vida eterna. A promessa aos peregrinos de esperança é de que temos um Caminho, um percurso que nos liberta das garras da ambição do poder e do ter. Os peregrinos do Caminho nutrem a esperança de serem totalmente de Deus, superando os próprios obstáculos e suportando a cruz de amor que nos ajuda a transcender os sofrimentos da vida.

Os peregrinos de esperança, portanto, confiam no Senhor e levam ao mundo a mensagem de confiança em Cristo, rumo à eternidade. Quem espera no Senhor não se nutre da dúvida e da desilusão, mas da escolha e a certeza de que Deus cumpre suas promessas (cf. Sir 2, 6-10). A esperança cristã supera o cansaço e os desejos de desistir do Amor; ensina-nos a paciência no sacrifício diário do martírio espiritual; é uma decisão tomada com a convicção de que Deus não decepciona (cf. Rm 5, 5). Quem peregrina no Caminho, na companhia do Verbo encarnado e ressuscitado (cf. Lc 23, 13-34), sabe que a Porta estará ao nosso alcance quando abrirmos a porta do nosso coração (cf. Ap 3, 20). A esperança cristã vence nossos medos do confessionário (templo do amor divino), pois acredita que a misericórdia de Deus é do tamanho da Sua grandeza e está à nossa frente, na Porta, à distância de um abraço e um beijo do céu.