Arquidiocese de Braga -

26 janeiro 2025

Uma liturgia cuidada e vivida ajuda a combater a ignorância religiosa

Fotografia Francisco de Assis

DM - Francisco de Assis

Primeiro encontro Arquidiocesano de Pastoral Litúrgica reuniu mais de 500 participantes

Pode dizer-se que a Igreja de Braga viveu ontem um dia «excelente» no que diz respeito à dinâmica evangelizadora no “Caminho da Páscoa”. Os mais de 500 participantes do 1.º Encontro Arquidiocesano de Pastoral Litúrgica, sob o lema “Servidores do Servidor” ficaram cientes da importância da formação litúrgica, do cuidado na sua preparação e vivência, até para ajudar a combater a ignorância religiosa.   

Por coincidência ou “Deusincidência”, nas palavras do padre Paulo Terroso, este primeiro encontro aconteceu no dia litúrgico de São Paulo ou da Conversão de São Paulo. Ele que, “de perseguidor da Igreja se transformou num instrumento escolhido por Deus” para a evangelização.

O início foi de louvor  ou seja, com a oração de Laudes, na Capela Imaculada, presidida pelo Arcebispo de Braga, D. José Cordeiro. Uma forma de mostrar a unidade num só corpo, que é Cristo. 

Aliás, esta expressão foi utilizada pelo conferencista principal, o padre Pierangelo Muroni,  na sua conferência no Espaço Vita. Ou seja, a ideia de que os cantos devem servir para colocar toda a assembleia cristã em sintonia. “O canto litúrgico não é um elemento ornamental. Serve para fazer com que todos entrem na celebração, entrar no Mistério litúrgico”, enfatizou. 

Para isso, acrescentou, é preciso “preparação”.

De facto, o conferencista colocou a tónica nas palavras «preparação e formação». Tal como os cantos, gestos, os silêncios ou sinais devem colocar todos em sintonia, «na consciência de um só corpo», que é a Igreja, em que Cristo e o Mestre.

Lembrou como Jesus mandou preparar um lugar para “Comer a Páscoa com os seus discípulos”.

 O padre Pierangelo Muroni reforçou a centralidade de Cristo na Eucaristia, mostrando que foi Ele o protagonista na preparação da Páscoa. 

Enfatizou que o padre ou bispo não devem “tomar posse da celebração”. Mas sim, numa atitude de “humildade e de serviço ao Servidor”, envolver todos, ajudar, a assembleia a compreender o Mistério da liturgia. Com criatividade, mas sem perder o essencial que é levar a todos ao “Espanto diante do Mistério, que é maravilha que nos foi revelado por Deus”, disse, cintando o Papa Francisco.

Efetivamente, durante a sua conferência, Pierangelo Muroni guiou-se muito pela Carta Apostólica “Desiderio Desideravi”, do Papa Francisco. 

A propósito de tudo o que disse sobre a formação, o cuidado que se deve ter na formação e preparação da liturgia, designadamente nas leituras, sublinhou que não deve ser uma leitura, mas sim uma “proclamação”  para ser escutada.

Uma preparação que começa nos agentes e que deve estender-se ao povo. Até porque, citando Lambert Beauduin, “a maior causa da ignorância religiosa é a ignorância litúrgica”. Daí ter insistido na importância da “formação da liturgia e a partir da liturgia”. Isto é, se a liturgia for bem preparada, com cuidado e humildade, envolvendo os fiéis na formação, ajuda a combater a ignorância religiosa.

Depois da conferência, que encheu o Espaço Vita, realizaram-se workshops para os diversos ministérios e cada participante dirigiu-se para aquele a que se inscreveu.

Na oração de laudes e na reflexão que se seguiu,  D. José Cordeiro reafirmou o papel dos agentes da pastoral litúrgica, sustentando que é “imperativo não confundir serviço com autoridade”.

O Arcebispo reforçou a necessidade de formação integral, contínua e partilhada. “Somos servidores, não somos funcionários do Sagrado. Jesus é Mestre do servir, sobretudo pelo exemplo”, sustentou o prelado.

Arcebispo de Braga pede aos agentes liderança pastoral sinodal e partilhadae

Depois de um dia intenso, com a conferência do padre Pierangelo Muroni e workshops para os diversos ministérios, no âmbito do 1.º Encontro Arquidiocesano de Pastoral Litúrgica, o Arcebispo de Braga celebrou na Sé para os fiéis em geral, mas em particular para os diversos agentes da pastoral litúrgica. Numa homilia em plena sintonia com tudo o que se tinha passado e dito durante o encontro, D. José Cordeiro pediu uma pastoral partilhada e sinodal na Igreja de Braga. 

A eucaristia solene, concelebrada por muitos dos sacerdotes que tinham participado no encontro, serviu também para a instituição de leigos nos ministérios de acólitos, catequistas e leitores. Ministérios cada vez mais importantes e que o Encontro de ontem serviu para reforçar o seu papel, desde que imbuídos no espírito de serviço, para a glória de Deus e salvação das almas. 

“Juntos, no caminho de Páscoa, podemos perguntar: no contexto de uma liderança pastoral partilhada / liderança pastoral sinodal, o que é específico de cada um? Qual o papel dos leigos e qual o papel dos clérigos e de uns em relação para com os outros?”, questionou D. José Cordeiro.

O Arcebispo Metropolita de Braga lembrou o documento final da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, na segunda sessão de 2 a 27 de outubro de 2024, que salienta: “em resposta às necessidades da comunidade e da missão, ao longo da sua história a Igreja deu origem a alguns ministérios, distintos dos ordenados. Estes ministérios são a forma que os carismas assumem quando são reconhecidos publicamente pela comunidade e por aqueles que têm a responsabilidade de os orientar, e são colocados de forma estável ao serviço da missão. Alguns estão especificamente mais voltados para o serviço da comunidade cristã...”.

Unidade na diversidade dos carismas

O prelado referiu-se à  unidade na diversidade dos carismas (dom concedido a cada um para o serviço de todos) é descrita por São Paulo, a partir de um tema conhecido na cultura helénica, o corpo humano como imagem do corpo social, induzindo ao respeito pela diversidade dos seus membros em ordem a uma finalidade comum.

Ora, na leitura de D. José, o apóstolo indica o caminho do corpo harmonioso, no qual cada um descobre o seu lugar para o bem de todos.

“O primado é da ação do Espírito Santo que distribui os seus dons. Porém, não se descuida o valor da edificação da comunidade”.

A propósito dos gestos  na liturgia, o Arcebispo Primaz citou o Santo Padre, também para reforçar o que já tinha sido dito de manhã. “Não há liturgia cristã se, aos gestos que fazemos, não corresponde uma vida de fé, esperança, caridade”.

De referir que, no dia em que se chamou a atenção para a qualidade das leituras, apelando a que a palavra de Deus seja, «Proclamada», os leitores foram bem escolhidos.

D. José Cordeiro lembrou ainda que a “Oração Coleta” de hoje, III Domingo do Tempo Comum ou Domingo da Palavra de Deus, "é uma composição concisa, no sentido da obediência filial à Palavra do Pai: dirigi a nossa vida segundo a vossa vontade», e à fecundidade espiritual da Igreja em Cristo, “para que mereçamos produzir frutos de boas obras, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho”.

Recorde-se que, a partir de agora, pretende-se que este Encontro Arquidiocesano de Pastoral Litúrgica se realize sempre no Domingo da Palavra, como revelou o padre Rui Sousa, presidente da Comissão Arquidiocesana de Liturgia e Espiritualidade da Arquidiocese de Braga.

Depois de ter sido divulgada nas páginas da internet da Arquidiocese de Braga, os participantes do encontro tiveram ontem acesso, em papel, à Nota Pastoral – “Ministérios laicais na Igreja sinodal missionária”. O desejo de D. José é que este documento possa orientar os passos da ministerialidade na vida da Arquidiocese, proporcionando uma caminhada em conjunto. “É preciso dar cidadania à vitalidade criativa do Espírito Santo, que não deixa de tornar fecunda a sua Igreja. Juntos, servidores do Servidor, no caminho de Páscoa, sob o olhar da Virgem Santa Maria, Mãe da Esperança”, concluiu, em jeito de oração.

A missa foi solenizada pela Escola de Música Litúrgica da Arquidiocese de Braga, fazendo jus ao nome.

 



Relacionadas