Arquidiocese de Braga -

16 dezembro 2024

Presépio ao Vivo de Priscos inspira acolhimento e inclusão do próximo

Fotografia Município de Braga

Francisco de Assis - DM

"No Presépio ao Vivo de Priscos tentamos curar as feridas dos reclusos e das vítimas."

Abriu domingo mais uma edição do Presépio ao Vivo de Priscos, freguesia de arredores de Braga, uma vez mais com uma enchente de políticos, autoridades, mas sobretudo muito povo, incluindo estrangeiros, nomeadamente galegos. Sendo um presépio de causas, o tema deste ano são “Inclusão de Migrantes e Minorias”, com a finalidade de inspirar e sensibilizar para o acolhimento e inclusão do próximo, naquele que é o verdadeiro sentido do Natal. 

Ao longo do percurso, estão espalhados cartazes sobre o acolhimento, a inclusão, o sofrimento dos migrantes, e mensagens  segundo as quais as raízes da humanidade estão na diversidade e é nela que está a verdadeira unidade

O primeiro dia do Presépio ao Vivo de Priscos 2024 ficou marcado precisamente pela presença e uma família do Congo, acolhida em Braga há sensivelmente oito anos, depois de muita amargura e adversidade.

Confrontados por serem protagonistas desta edição, os membros da família fizeram questão de agradecer o acolhimento, mas também pelo facto de serem tomados como exemplos. «Sentimo-nos honrados e agradecidos  pela oportunidade», disseram Agostuna, de 16 anos; e Mara, de 12, destacadas para falar com os jornalistas por já se sentirem bem integrados e  por falarem português. 

Os filhos não têm memória do quão tumultuosa foi a travessia até Portugal e Braga, uma vez que eram pequenos, a matriarca testemunhou. «O caminho até Portugal foi muito difícil. Conseguimos chegar e fomos bem acolhidos de coração aberto. Estamos muito bem, obrigado», disse.

Na sua intervenção, o padre João Torres, ideólogo do Presépio ao Vivo de Priscos, referiu que a mensagem é sempre nova, lembrando a própria Família de Nazaré.

«A mensagem é sempre a novidade e este ano quisemos olhar para a inclusão de migrantes e minorias, muito ao jeito daquilo que é o espírito natalício, o acolhimento, a solidariedade e a fraternidade. Se olharmos para a família de Nazaré, ela própria acaba por ser vítima de rejeição e encontrou-se numa situação vulnerável, quando não tinham um espaço onde Jesus pudesse nascer. Ainda hoje, no contexto mundial, acontece isso em relação a muita gente».

«A inclusão não é um favor, só nos fortalece como sociedade»

Para o padre João Torres, muitos migrantes não têm onde viver, não tem segurança, não tem condições de saúde, não tem trabalho e o nosso país, de uma certa forma, é desafiado a saber acolher bem.

«A inclusão destas pessoas não é um favor, é um direito. Não nos enfraquece enquanto sociedade», disse o pároco de Priscos, reforçando: «Nós nos tornamos mais fortes quando somos capazes de achar que não estamos a perder um espaço, mas estamos a ganhar um rosto, estamos a ganhar uma nova vida na nossa aldeia, na nossa cidade. É certo, para quem vem, é importante que conheça a cultura do país onde está, mas também quem está, se possa abrir a conhecer a cultura de quem vem».

 

A xenofobia é anti-Natal

Segundo este responsável, os populistas acham que todos os problemas de um país se resolvem mandando os imigrantes embora. 

«Primeiro, é anti-cristão. É incompreensível que alguém se diga cristão e depois tenha um discurso xenófobo, tenha um discurso racista. Isso é anti-cristianismo, isso é, se quisermos, anti-Natal. Ou seja, se sou uma pessoa racista e xenófoba, não estou autorizado nem colocar luzinhas de Natal na varanda da minha casa, porque o Natal é precisamente isso, é levar luz à vida dos outros, é deixar que sejamos luz na vida do próximo». 

Além dos migrantes, o sacerdote falou nos reclusos que todos os anos contribuem para o Presépio ao Vivo de Priscos, sobretudo na sua construção. «Aqui no Presépio ao vivo de Priscos, durante todo o ano, nós tentamos curar as feridas dos reclusos e isso só é possível se eles refletirem no mal que fizeram e no bem que querem fazer. Também trazemos aqui algumas vítimas, para as ajudar a curar as feridas», salientou o padre João Torres.