Arquidiocese de Braga -

25 novembro 2024

Opinião

A Capela de São Nicolau

São Nicolau de Mira ou de Bari, foi um santo natural da Ásia Menor, que viveu na transição do século III para o século IV, cuja vida haveria de inspirar a narrativa do Pai Natal. Padroeiro da Rússia, da Grécia e da Noruega, é considerado especial protetor das crianças, das mulheres solteiras e também dos marinheiros. 

O seu culto haveria de popularizar-se em muitos lugares da Cristandade, particularmente ao longo da Alta Idade Média. Seria precisamente nos alvores do século XII que aportaria nos limites da Arquidiocese de Braga, trazido por um fiel devoto natural da região da Gasconha, em França.

Geraldo de Moissac, membro da Ordem de Cluny que se tornaria Bispo de Braga em 1096, teria como missão primordial a introdução do rito romano no nosso território, ao qual acrescentaria, dada a afinidade com o novo Conde Portucalense, a restituição dos direitos metropolíticos de Braga sobre as antigas dioceses da Galécia, desiderato concretizado no ano de 1100.

Muito devoto de São Nicolau, o prelado haveria de mandar construir uma capela em honra daquela devoção, na qual pretendia ser sepultado. Localizada no exterior da Catedral, junto do seu limite norte. O arcebispo D. Rodrigo da Cunha, na sua “História Eclesiástica dos Arcebispos de Braga” refere que, naquela capela, se encontrava um “rico sepulcro trazido milagrosamente do Mosteiro de Tibães”, presumivelmente executado para acolher os restos mortais de uma personalidade régia ou de um de “algum corpo santo”. Por esse motivo, aí haveria de ser dada sepultura ao santo prelado.

O arcebispo Geraldo de Moissac haveria de falecer precisamente na véspera da festa litúrgica do seu santo devoção, mais propriamente a 5 de dezembro de 1108, quando efetuava uma visita pastoral a Bornes de Aguiar. Esta seria a data escolhida pela Igreja de Braga para evocar São Geraldo, que, por isso mesmo, anteciparia a festa de São Nicolau, assinalada a 6 de dezembro, sendo ambos celebrados consecutivamente no calendário cristão.

Devido aos muitos milagres que foram sendo atribuídos à sua intercessão, e que vêm relatados com pormenor na biografia escrita por D. Bernardo, um colaborador direto do prelado que viria a tornar-se Bispo de Coimbra no ano de 1128, a capela tornar-se-ia um lugar de singular romagem, particularmente provenientes da cidade de Braga e do seu entorno. Por esse motivo, a Capela de São Nicolau passaria a ser conhecida com o epíteto do santo prelado bracarense, mais tarde declarado padroeiro da cidade de Braga.

A rebatizada Capela de São Geraldo haveria se ser alvo de uma reformulação no decorrer do século XV, por intermédio do arcebispo D. Fernando da Guerra (1416-1467), o mais longevo prelado da história eclesiástica bracarense. Pretendendo ser sepultado naquela capela, mandaria destacar o túmulo de São Geraldo, elevando-o “quatro palmos do chão”, com a pretensão de “aos seus pés querer ser inumado” (Cunha, 1635). A capela seria, entretanto, intervencionada pelos arcebispos D. Diogo de Sousa (1505-1532) e D. Frei Agostinho de Jesus (1588-1609), todavia, não alterando sobremaneira a sua forma.

A fisionomia da capela seria totalmente alterada no início do século XVIII, por iniciativa do arcebispo D. Rodrigo de Moura Telles. No âmbito das profundas obras de reformulação da Sé Primaz, levadas a efeito por aquele prelado, a Capela de São Geraldo receberia um retábulo barroco em talha dourada, no qual seria enquadrado o túmulo daquele santo arcebispo, sendo as suas paredes revestidas com painéis de azulejos, da autoria de António de Oliveira Bernardes, retratando alguns momentos da vida de São Geraldo.

As obras teriam o seu início em 1707, terminando apenas cinco anos depois. O túmulo de São Geraldo “que estava encostado à parede da capela antiga” (Ferreira, 1932), provisoriamente passaria para a Capela dos Reis, tendo sido trasladado para a capela renovada a 19 de dezembro de 1712, tendo sido realizada uma imponente procissão pelas principais ruas da cidade. O Arcebispo D. Rodrigo de Moura Teles, que se faria sepultar na mesma capela, haveria de inserir a data da trasladação dos restos mortais de São Geraldo no breviário bracarense, tornando-a festa obrigatória a cada 19 de dezembro.

A Capela de São Geraldo seria restaurada entre os anos 1943 e 1947, no âmbito das grandes obras de restauro realizadas pela Direção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais na Sé Primaz. A sua fachada principal seria totalmente reconstruída, seguindo o modelo da vizinha Capela da Glória, tendo sido descobertas algumas estruturas góticos, presumivelmente da reedificação promovida pelo arcebispo D. Fernando da Guerra.

Devotada a São Nicolau e rebatizada com o orago de São Geraldo, sendo especialmente visitada pelos bracarenses no dia 5 de dezembro, data que celebra o santo prelado reconhecido como padroeiro da cidade de Braga, a capela mantém, no entanto, a sua primeira evocação, partilhando ambas as imagens o protagonismo no seu retábulo-mor.