Arquidiocese de Braga -

14 novembro 2024

A memória, raiz da esperança

Fotografia DACS

D. José Cordeiro

Centenário do edifício do Seminário de Nossa Senhora da Conceição, Braga

  1. 1- Discernir o passado

A memória é a raiz da esperança. Sem memória não há esperança.

A abertura oficial do Seminário de Nossa Senhora da Conceição aconteceu em 14 de novembro de 1924, anos em que se celebrou o primeiro congresso eucarístico nacional em Braga. 

Naquele tempo sentia-se ainda a onda de anticlericalismo decorrente da implantação da República, a qual conduziu à nacionalização dos bens da Igreja e ao fim do ensino por religiosos nas escolas oficiais.

Para robustecer a Igreja bracarense e a formação dos seus futuros presbíteros, D. Manuel Vieira de Matos sentiu necessidade de edificar uma grande casa, especialmente destinada a jovens com o horizonte da vocação sacerdotal, acompanhando-os na formação integral e na resposta ao chamamento de Deus para o serviço do Seu povo. 

Por isso, o II Concílio do Vaticano recomenda: «todos os sacerdotes considerem o Seminário como coração da diocese e prestem-lhe de boa vontade a própria ajuda» (OT 5). Ao Seminário devemos muito!

Nestes cem anos, cerca de 10.000 jovens do Minho viveram e estudaram nesta casa, adquirindo valores humanos e cristãos para a vida e para o Bem comum da sociedade. Desses, aproximadamente 1.500 abraçaram o sacerdócio. Até 1977, a Arquidiocese de Braga compreendeu também a área territorial que agora pertence à Diocese de Viana do Castelo, o que fez com que o Seminário Menor de Nossa Senhora da Conceição fosse frequentado por adolescentes de quase todas as paróquias minhotas. 

Uma história com muitas histórias! Sabemos que em 1947 estiveram nesta casa 524 alunos. Hoje, estão 8 seminaristas. A atual casa do seminário menor é um lugar de memória viva. 

Sem o Seminário, a história da Arquidiocese de Braga nestes cem anos não se pode contar. No entanto, na encruzilhada da história em que nos encontramos, podemos perguntar como o teólogo T. Halík: «do que é que nos temos de despedir, para não perdermos nem tempo nem forças a ressuscitar algo no qual já não há vida, para participarmos no parto de um futuro por nascer?».

Hoje, a casa do Seminário Menor é uma casa pastoral da Igreja, aberta a todos na hospitalidade, na cultura, na pastoral e na espiritualidade. 

 

  1. 2- Construir o futuro no presente

 Que modelo de Seminário Menor?

À luz do Espírito Santo, somos desafiados a definir qual(quais) a(s) modalidade(s) de Pastoral Vocacional/Pré-Seminário e Seminário Menor adequada(s) aos tempos de hoje. Ou melhor, à luz do Espírito Santo, teremos de definir qual(quais) a(s) modalidade(s) de Pastoral Vocacional/Pré-Seminário e Seminário Menor adequada(s) aos dias de hoje, mormente num tempo em que sobretudo os nossos adolescentes e jovens, e até mesmo os adultos, sentem cada vez mais dificuldade em discernir e assumir opções de vida definitivas.

O XIII Conselho Presbiteral de Braga (CPB) tem dedicado a sua reflexão à vida e ao exercício do ministério do Presbítero. De modo a facilitar essa reflexão, decidiu-se abordar esta questão em cinco etapas: O pré-Seminário; o percurso de formação no Seminário (Menor e Maior); a atenção aos Presbíteros recém ordenados; os padres no exercício do ministério; o acompanhamento do presbitério em situação de doença, idade e/ou aposentação.

A questão do Pré-seminário (Pastoral vocacional) e Seminário Menor foi abordada na segunda reunião plenária do XIII CPB, bem como na I Assembleia do Clero. 

Da reflexão e partilhas desses dois encontros resulta que é necessário implementar novas modalidades para a pastoral vocacional e para o Seminário Menor, reconhecendo-se que o modelo atual tem produzido poucos frutos, e se encontra desadequado aos tempos que vivemos. 

Assim, indo de encontro às reflexões da I Assembleia do Clero na qual os presbíteros disseram que o Seminário Menor não deve acabar, na terceira reunião plenária do CPB decidiu-se a constituição de uma equipa interdisciplinar que pensasse e apresentasse um novo modelo para o Seminário Menor. 

O trabalho desenvolvido por esta equipa foi apresentado na quarta reunião plenária. O modelo apresentado teve em conta, por um lado, numa acentuada tónica sinodal, a diversidade de carismas e vocações que devem robustecer a promoção de uma mais profícua cultura vocacional, por outro, a fragilidade da pastoral vocacional vigente nas nossas comunidades e sobretudo nas famílias hodiernas, assim como a prudência que se requer em temáticas tão estruturais e vitais do tecido eclesial em períodos de experiência de novos paradigmas.

O modelo apresentado pressupõe, desde logo, uma forte, disponível e multidisciplinar Equipa de Pré-Seminário, de modo que, a partir de uma alargada base de candidatos, se possa atender à circunstância pessoal de cada um.

Assim, desde logo numa primeira fase de Pré-Seminário, em base de um determinado percurso já feito, perceberemos diferentes níveis de intervenção e participação numa fase ainda antecedente ao Seminário, numa espécie de Pré-Seminário híbrido, com uns pré-seminaristas com presença mais assídua na comunidade do Seminário, sobretudo em momentos mais significativos da vida do Seminário, e outros com a participação nos habituais encontros mensais regulares. Sobre estes diferentes percursos e níveis de intervenção numa fase de Pré-Seminário já se tem feito algum caminho no passado, ainda que com potencial para se evoluir. 

Depois, entrando numa outra fase, aquando da análise sobre a possível entrada no Seminário, mais uma vez dependente do percurso de cada um e sobretudo da circunstância e do perfil de cada um (perfil pessoal, familiar e comunitário), decidir-se-á qual o caminho a seguir.

Por conseguinte, esta equipa preconiza que se implemente na Arquidiocese de Braga um modelo duplo: Seminário menor em comunidade residencial (modelo atual) e Seminário menor em comunidade familiar (modelo em experiência). Deste modo, durante este período, centrar-nos-emos não num modelo de Seminário, mas em dois, sendo agora necessário promover a implementação desta proposta, definindo dois anos, a partir deste ano

 

  1. 3- Para um novo tempo de esperança

Como sublinha o documento final da XVI assembleia geral ordinária do Sínodo dos Bispos, na segunda sessão de 2 a 27 de outubro de 2024: 

«Ao longo do processo sinodal, foi amplamente expresso o pedido de que os percursos de discernimento e de formação dos candidatos ao ministério ordenado sejam configurados num estilo sinodal. Isto significa que devem incluir uma presença significativa de figuras femininas, uma inserção na vida quotidiana das comunidades e uma educação para a colaboração com todos na Igreja e para a prática do discernimento eclesial. Isto implica um investimento corajoso de energia na preparação dos formadores. A Assembleia pede uma revisão da Ratio Fundamentalis Institutionis Sacerdotalis que incorpore as solicitações amadurecidas no Sínodo, traduzindo-as em indicações precisas para uma formação à sinodalidade» (Doc. Final 148).

 

+ José Manuel Cordeiro 
Arcebispo